terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Listas

Fim de ano que se preze tem que ter lista. Pra não perder o costume, registro os meus top ten, abrindo a discussão para discordâncias e concordâncias. Lá vai:

Os mais mais eventos/acontecimentos em 2010:

- carnaval (Panela e Panelinha no topo da pirâmide)
- viagem ao Rio (que continua liiiiiindo)
- viagem a Sampa com a tchurma toda
- volta (com força total) ao flamenco
- conversas e vinhos no happy hour at home
- carro que ganhei de presente
- sobrinho que chega ano que vem
- São João em Gravatá
- casa nova (que dê tudo certo!)
- doutorado acabando... (idem!)

Os mais mais numa instância mais ampliada:

- saber que o aquecimento global é um embuste
- Brasil, que não fala grosso com los hermanitos nem fino com the ianques
- queda na violência em Pernambuco
- mulher na presidência da república
- Rodrigo Santoro (tem que explicar?)
- secretariado 2011 do gov
- avanços da medicina
- cartão de crédito na praia
- Tv a cabo
- Sex and the city (pacote completo)

Coisas chatas e desnecessárias:

- fofoca
- covardia
- pobreza (de bolso e de espírito)
- violência (aqui, no Rio, no Brasil)
- Suzana Vieira
- Dunga
- trânsito do Recife
- hino do Madeira do Rosarinho
- crise existencial
- rebeldia capilar

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vampirão do Sítio

Como toda troça carnavalesca, essa também começou a partir de um episódio banal, quiçá besta. Um personagem da nossa família tomou uns vinhos a mais numa festa de casamento, o vinho escorreu pelos cantos da boca do supracitado (parafraseando Teles), o momento foi registrado em foto... Pronto, deu-se o mote pra turma se juntar e, artistas que são (somos), criar a mais nova agremiação momesca deste Pernambuco, com hino e tudo mais.

A troça chama-se "Vampirão do Sítio", e  a letra do hino, composto por muitas mãos, segue abaixo:

HINO DO VAMPIRÃO
TROÇA CARNAVALESCA MISTA ETÍLICO-ERÓTICA “VAMPIRÃO DO SÍTIO”

DEU MEIO DIA NO SÍTIO DOS PINTOS
OS MORCEGOS CHEGARAM E O VAMPIRO CADÊ?
TÁ DE RESSACA, TÁ SEMPRE ATRASADO
LEVANTA VAMPIRÃO, TÁ NA HORA DE BEBER

ÔÔÔÔÔ
O VINHO JÁ ENTROU
E VAMPIRO VIROU (2X)
ÔÔÔÔÔ
CHEGOU O VAMPIRÃO
E A CACHAÇA COMEÇOU

O SEU PESCOÇO EM FRANCÊS É O LE COU
É SANGUE NA GARRAFA, BOM PRA MIM E BOM PRA TU
VAMPIRO SAI ASSIM QUE O SOL CAMINHA MAIS
ELE VIVE BEBENDO DESDE OS TEMPOS DE ARRAES

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Berimbau - Vinícius e Toquinho

Quem é homem de bem, não trai
O amor que lhe quer seu bem
Quem diz muito que vai, não vai
E assim como não vai, não vem
Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém
O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem
Capoeira que é bom, não cai
E se um dia ele cai, cai bem!
Capoeira me mandou
Dizer que já chegou
Chegou para lutar
Berimbau me confirmou
Vai ter briga de amor
Tristeza, camará
Consolação
Se não tivesse o amor
Se não tivesse essa dor
E se não tivesse o sofrer
E se não tivesse o chorar
Melhor era tudo se acabar
Eu amei, amei demais
O que eu sofri por causa do amor
Ninguém sofreu
Eu chorei, perdi a paz
Mas o que eu sei
É que ninguém nunca teve mais
Mais do que eu

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ressaca

Ai, Jisus. "Nunca mais bebo" é a frase mais aviltada e achincalhada que o ser humano já abriu a boca pra dizer. Mas confesso que ontem, quando acordei - uma festa e muitos vinhos depois -, repeti a tal expressão uma vez mais. O preço da diversão anterior foi um dia de anestesia mental com muito trabalho associado. Pense. O expediente só acabou às 21h30 e, quando cheguei em casa, minha cama parecia a filial do paraíso. Dormi umas 10 horas seguidas. Conclusão: luxo, nos dias de hoje, é sono em dia e tempo livre. Já que um ano é tempo demais pra essa minha pobre vida assalariada, quero de presente pelo menos uma semana sabática!

Derivando... Já disse isso uma vez e acho que é a verdade mais fundamental do mundo capitalista: só os ricos e os pobres são verdadeiramente felizes. A classe média sempre acha que pode mais do que pode e que um dia vai ser rica. Pura ilusão, sabemos, alimentada pelas exceções do tipo Silvio Santos e JCPM. O rico já é rico, e só isso é quase suficiente para uma existência sem atropelos. E o pobre, com a certeza que sempre vai ser pobre, se joga na cerva schin com churrasquinho de gato sem maiores esperanças. E se diverte.

Ano que vem, peço aos santos pra sair do limbo, de preferência subindo pro topo da pirâmide, que também sou filha de Deus e preciso alimentar meus luxinhos. Foda é ser viciada em revistas e livros, gostar de viagem cara, roupa cara, vinho caro, comida cara e jóia (ando cada vez mais encantada com ouros e brilhantes, acho que é a idade) sendo professora e jornalista. Culpa do meu pai e do meu marido, que me mimaram a vida inteira - primeiro um, depois o outro. Detalhe: ambos são jornalistas. Um deles é também professor. Ô sina. Amo vocês, rapazes!

Foto: eu morrendo de alegria porque acho que um dia ficarei rica (não disse que a classe média é uma desgraça?)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Silêncio

Ando impressionada sobre como a falta de comunicação entre os seres é a regra, e não a exceção nesta Terra abençoada. Falar, pra muita gente, é tão difícil quanto cortar o próprio dedo com uma faca cega. Será que estas pessoas são mudas por dentro, também? Ou tem a ver com uma certa confusão interna, tão grande que elas não têm nem como expressar? Afinal, no meio da bagunça, o que será que iria pra fora primeiro? Um doce pra quem descobrir porque o povo complica o que é simples e quer resolver com atitudes simplórias o que é complexo e profundo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Divino mistério profundo

Tenho um amigo que está vivendo às voltas com problemas de saúde de alguém muito próximo a ele. Sua evidente tristeza me deixa também triste, principalmente porque sei que não posso fazer muita coisa pra ajudar. Nem falar adianta, nesses casos - talvez ouvir, atenta e respeitosamente, traga algum alívio. Acho que ele sabe que pode contar com meus ouvidos mas, às vezes, o que a pessoa mais quer é estar sozinha com seus pensamentos. O fato é que estou aqui, para nada ou para o que for preciso.

Engraçado como esse negócio de doença mobiliza a gente. Trata-se de aceitar uma verdade tão evidente e ao mesmo tempo tão desagradável: somos finitos e não há nada que possamos fazer a esse respeito. Mesmo assim, estamos aqui, e isso deve ter algum propósito, nem que seja o de aproveitar bem essa curta estadia na Terra, com galhardia, desenvoltura e bom humor. Claro que nem sempre dá. De vez em quando, a melancolia vai tomar conta da rotina, e os motivos para isso podem ser concretos, como no caso do meu amigo, ou podem ser abstratos, frutos de uma intatisfação que nem a gente mesmo identifica direito.

A vida é pra valer e pra levar, já disse o poeta. É difícil, em muitas ocasiões. E os amigos servem (também) pra aturar a gente quando a gente está mal, faz parte das atribuições do cargo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

35

Estava conversando com meus amigos e companheiros de trabalho, sobre o tema que desenvolveria em meu próximo post nesse digno blog. Uma voz levantou-se e disse: "escreve sobre o teu aniversário".  Essa já seria mais ou menos a minha escolha óbvia, mas queria um mote pra desenvolver o tema de forma criativa. Pensei no tal "tiro da macaca", associado num passado recente às mulheres de certa idade que não ainda não haviam se casado. O tiro, antigamente, era aos 25 - hoje, ele mudou um pouco de configuração e o prazo está mais elástico. Chega aí pelos 35...

Alex, my friend, diz - "não há mais tiro! Escreve que isso não existe mais!" Deveras politicamente correta e otimista a conclusão a que ele chegou. Mas não muito embasada na realidade. Las chicas de 35 são aquelas a quem amigos e muy amigos cobram casamento ou, pelo menos, relacionamentos sérios. Os homens escapam disso, mas são cobrados a terem sucesso profissional, etc e tal. Mesmo assim, acho que, pra eles, a coisa toda é mais leve. A questão é que todo mundo acha que há uma idade certa pra isso ou aquilo e, no fim das contas, termina sofrendo mais do que devia por acreditar nessa premissa.

Casei cedo, tive filhas antes dos 30. Meu marido casou comigo tarde, teve filhas após os 45. Ele, por exemplo, começou uma nova carreira aos 40. Eu, pretendo ainda fazer uma viagem bem adolescente com ele, do tipo "intercâmbio". Temos planos pra mochilar com classe e adequar essa realidade à nossa vida de casados, adultos, profissionais e pais. A mãe de uma amiga voltou pra faculdade depois dos 60 e ganhou uma bolsa de estudos em Portugal... Tudo é tão relativo, já dizia Einstein, embora, é claro, a passagem do tempo mude a gente, transforme nossos gostos e nossos pontos de vista e, de certa forma, nos limite. O que pouca gente comenta é que, além de limites, ganhamos também "amplitudes", "expansões". Mais calma, mais centro.

Há coisas que são mais do espírito que da certidão de nascimento. Portanto, quero dizer aqui que continuarei a usar cabelos longos e saias curtas, até enquanto eu olhar no espelho e achar que está legal. E não esqueçam do meu presente!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amigos, amigas, casamentos

Há pouco tempo, conversava com uma amiga que terminou o casamento. Ela está namorando de novo, e feliz da vida com o fato de que o atual boyfriend é o oposto do ex-husband. Segundo ela, a maioria dos casais que conhece vive uma relação que tem mais desvantagens que vantagens. Maridos e mulheres se agridem, são descorteses uns com os outros, competem entre si, enfim... Uma grandisíssima merda.

O atual namorado fez a minha amiga sair do constante estado de tensão em que vivia com o ex, onde a agressividade dava a tônica do relacionamento. "Ele é gentil, atencioso, interessado, leve", comemora. De tudo o que ela falou, acho a leveza a qualidade mais importante - relativizar os problemas é deveras salutar pra manter a nossa sanidade e, consequentemente, a do casal.

Brigar apenas quando for realmente necessário, idem. Não concordo com a mania de discutir relação toda hora - além de ser chato, às vezes é improdutivo. Exemplo: TPM pode ser motivo suficiente para que mulheres pensem e até decidam pela separação, com a toda a convicção que os hormônios garantem nessas horas. O homem esperto, ao invés de cair nessa esparrela, espera a tempestade passar. Quase sempre fica tudo bem ao fim de três ou quatro dias.

Mais uma vez, acredito na maturidade (que não tem necessariamente a ver com a idade), na gentileza, na amizade e nas afinidades para fazer uma relação funcionar. Opostos não se atraem, eles terminam mesmo é por se agredir ou se distanciar, mais dia, menos dia. Coroando a coisa toda, amor, que tem que começar com paixão, sempre, embora a gente saiba que paixão não demora - ainda bem. A questão é que a paixão tem a força do movimento, faz a gente sair da zona de conforto - amor ágape é pra padre. Mesmo com prazo de validade, a paixão tem força e potencial pra não deixar o amor amornar demais.

Por fim, acredito (porque vi, e vejo) que cada casal é um, que o fulano que era assim numa relação poderá vir a ser assado na outra, e que a mulher desconfiada e chata de outrora é a esposa compreensiva e sexy de agora. O mundo gira, as pessoas junto com ele. E a cabeça é redonda pra permitir ao pensamento mudar de direção - mesmo que seja uma mudança de 360 graus...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O cânone carnavalesco

Meu aniversário está próximo. Faço 35 (e depois deste evento, please, ninguém mais me pergunte a idade. Decorem, se acharem necessário) no dia 24 de novembro, e esta data pra mim é uma espécie de marco zero das prévias carnavalescas. Funciona assim: pós aniversário = pré carnaval. Já sinto o clima gostosinho das orquestras esquentando no ar...

Por isso mesmo, hoje vim trabalhar ouvindo no carro um CD carnavalesco muito lindo que tenho. São frevos cantados por diversos artistas da MPB, aqueles que a gente já conhece, mas que não podem faltar de jeito nenhum em qualquer festa de carnaval que se preze. Vim pensando naquelas pessoas que reclamam - "todo ano as orquestras tocam os mesmos frevos!" So what?

Até acho justa a reclamação, quando ela diz respeito àquelas orquestras meia boca, que só sabem 4 ou 5 músicas. Porém, o fato é que a gente adora cantar junto na hora da folia, e não faz nenhum sentido deixar de fora as canções que, só de ouvir, arrepiam quem gosta mesmo da festa. Temos um cânone, e ele é necessário e muito rico. Novidade é uma beleza, mas só novidade não faz um carnaval.

Bom mesmo é ouvir e cantar "de chapéu de sol aberto pelas ruas, eu vou", "voltei, Recife", "Recife mandou me chamar", "você, colombina, e eu, pierrot", entre tantas outras... A literatura tem obras consideradas fundamentais, não tem? O carnaval, principalmente o melhor de todos (o nosso, claro), também possui sua lista indispensável. Começou a contagem regressiva!

domingo, 17 de outubro de 2010

O espetáculo

E eis que dançamos, todas juntas, no dia da Hispanidade. Doze mulheres que se revezaram para bailar flamenco, no Recife, a milhas e milhas da Espanha. Podíamos dançar frevo. Mas gostamos mesmo é de baile, de cante, de saia comprida, de batom vermelho e flor no cabelo. Seu Tomás, o cantaor, dizia: "Sevilla tiene que ser/testigo de nuestro amor". Recife tinha que ser testemunha do nosso amor. Depois de muita ralação, posso dizer sem medo que deu tudo certo, apesar das falhas que só quem dança sabe que cometeu (thanks God, o público não saca esses detalhes). No próximo domindo, dia 24 - tem mais! Dessa vez, dançaremos em três, apenas, no palcão do Teatro Guararapes. Outra dimensão, outra vibração, lá vamos nós traveis!

* Depois posto fotos e/ou vídeo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Meu sobrinho (a) !

Uêba!!!! Acabo de saber que mi hermanito e minha cunhadita - finalmente! - estão grávidos. Parabéns pra eles e pra mim, que finalmente (de novo) serei titia. Eu, que não fiquei pra titia - graças a Deus. Mais uma criança na família, a tempo de evitar que eu cometesse a sandice de querer ter mais um bebê de minha própria lavra, de tanta saudade que estou de bebezinho pequeno e cheirosinho. Delícia! Parabéns de novo, meninos!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Espanha, de Clarice Lispector

“Quase não era canto, no sentido em que este é aproveitamento musical da voz. Quase não era voz, no sentido em que esta tende a dizer palavras. O canto flamenco é antes da voz ainda, é fôlego humano. Uma palavra ou outra às vezes escapava, revelando de que era feita aquela mudez cantada: de história de viver, amar e morrer. Essas três palavras não ditas eram interrompidas por lamentos e modulações. Modulações de fôlego, primeiro estágio de voz que capta o sofrimento no seu primeiro estágio de gemido. E de grito. E mais outro grito, este de alegria por se ter gritado. Em torno, a assistência aconchega-se escura e suja. Depois de uma das modulações que de tão prolongada morre em suspiro, o grupo esgotado como o cantor murmura um Olé em amém, última brasa.
Mas há também o canto impaciente que a voz apenas não exprime: então um sapateado nervoso e firme o entrecorta, o Olé que o irrompe a cada instante não é mais amém, é incitamento, é touro negro. O cantor, de dentes quase cerrados, dá à voz a cegueira da raça, mas os outros exigem mais e mais, até conseguirem o instante espasmo: Espanha.

Ouvi também o canto ausente. É feito de um silêncio cortado de gritos da assistência. Dentro da clareira de silêncio, em semente ardente, um homem pequeno, seco, escuro, de mãos nas ilhargas, cabeça atirada para trás, marca com o duro taco dos sapatos o ritmo incessante do canto ausente. Nenhuma música. E nem é uma dança. O sapateado é antes da dança organizada – é o corpo manifestando-se, pés transmitindo até a ira em linguagem que Espanha entende. A assistência se concentra em fúria no próprio silêncio. De quando em quando a provocação rouca de uma cigana, toda de carvão e trapos vermelhos, em que a fome se tornou dor e ameaça. Não era espetáculo, não se assistia: quem ouvia era tão essencial como quem batia os pés em silêncio. Até a exaustão, comunicam-se durante horas através dessa linguagem que, se algum dia teve palavras, estas foram se perdendo pelos séculos – até que a tradição oral passou a ser transmitida de pai para filho apenas como ímpeto de sangue.

E vi o par da dança flamenca. Não sei de outra em que a rivalidade entre homem e mulher se pusesse tão a nu. Tão declarada é a guerra que não importam os ardis: por momentos a mulher se torna quase masculina, e o homem a olha admirado. Se o mouro em terra espanhola é o mouro, a moura perdeu diante da aspereza basca a moleza fácil; a moura espanhola é um galo até que o amor a transforme em Maja.

A conquista difícil nessa dança. Enquanto o dançarino fala com os pés teimosos, a dançarina percorrerá a aura do próprio corpo com as mãos em ventarola: assim ela se imanta, assim ela se prepara para tornar-se tocável e intocável. Mas, quando menos se espera, sua botina de mulher avançara e marcará de súbito três pancadas. O dançarino se arrepia diante dessa crua palavra, recua, imobiliza-se. Há um silêncio de dança. Aos poucos o homem ergue de novo os braços e, precavido – com temor e não pudor -, tenta com as mãos espalmadas sombrear a cabeça orgulhosa da companheira. Rodeia-a várias vezes e por momentos já se expões quase de costas para ela, arriscando-se quem sabe a que punhalada. E se não foi apunhalado é que a dançarina de súbito recolheu-lhe a coragem: este então é o seu homem. Ela bate os pés, de cabeça erguida, em primeiro grito de amor: finalmente encontrou seu companheiro e inimigo. Os dois recuam eriçados. Reconheceram-se. Eles se amam.

A dança propriamente dita se inicia. O homem é moreno, miúdo; obstinado. Ela é severa e perigosa. Seus cabelos foram esticados, essa vaidade da dureza. É tão essencial essa dança que mal se compreende que a vida continue depois dela: este homem e esta mulher morrerão. Outras danças são a nostalgia dessa coragem. Esta dança é a coragem. Outras danças são alegres. A alegria desta é séria. Ou a alegria é dispensada. É o triunfo mortal de viver o que importa. Os dois não riem, não se perdoam. Compreendem-se? Nunca pensaram em se compreender, cada um trouxe a si mesmo como único estandarte. E quem foi vencido – nessa dança os dois são vencidos – não se adoçará na submissão, terá aqueles olhos espanhóis, secos de amor e raiva. O esmagado – os dois serão esmagados – servirá vinho ao outro como um escravo. Embora nesse vinho, quando vier a paixão do ciúme, possa estar o veneno da morte. O que sobreviver se sentirá vingado. Mas para sempre sozinho. Porque só esta mulher era sua inimiga, só este homem era seu inimigo, e eles se tinham escolhido para a dança."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Qual das quatro?

Comprei a coleção completa de Sex and the City. Todos os episódios das seis temporadas - são sei lá quantos DVDs. Agora, quando estou tensa, por qualquer coisa (meu atual motivo de tensão são dois: a casa que pretendo comprar e o espetáculo em que vou dançar), Carrie, Samantha, Charlote e Miranda me ajudam a relaxar. As moças, que na época da série tinham a idade que farei em breve (35, por aí - umas mais, outras menos...), são umas fofas, e seus relacionamentos, uma confusão típica e recorrente. Não à toa, minhas amigas solteiras (ou não) que têm idade semelhante vivem histórias muito parecidas com as delas. E olha que elas não moram em Nova Iorque. Eita, globalização...

Divirto-me sobremaneira - o texto é primoroso. Dia desses, meu marido, que também gosta do seriado (menos que eu, claro, mas gosta), estava tentando fazer uma conexão entre a minha personalidade e a de uma das personagens. É um pouco difícil, já que sou casada há 11 anos e algumas das situações não vivi, mas tentamos. Chegamos à conclusão que estou mais pra Carrie, por causa da profissão, do gosto por moda e do humor (às vezes bom, às vezes ácido). Mesmo assim, não gosto tanto de DR como ela. Bom, de Samantha, a ninfomaníaca, tenho, por assim dizer, a naturalidade (foi marido que disse). De Charlote, "herdei" o lado maternal e de Miranda, nada (ou quase).

Chegamos à conclusão que as mulheres, todas, somos um pouco de cada uma. O melhor é ver que a série não resvalou naquele estereótipo "mulheres competem com mulheres o tempo todo" e que, no fim das contas, mais que sobre relacionamentos amorosos, fala sobre amizade. Recomendo.

domingo, 10 de outubro de 2010

Política é política, minha gente

22h14. Dilma e Serra partem para o ataque e eu admito - ando meio sem paciência pra essa conversa sem fim, além do mais se vem acompanhada dessas tendências fundamentalistas surreais. Era só o que faltava a gente ter que pautar o voto pelas crenças religiosas dos candidatos. Terra onde pastor e CNBB mandam e definem diretrizes de políticas públicas... Tenha medo, como bem dizem os baianos. Cada um com suas convicções, nada contra nenhuma, mas o risco é grande quando fé (o nome já diz - oposto da razão, algo em que a gente crê sem nenhuma comprovação científica) começa a valer como critério para a estruturação de um projeto de governo. Somos laicos ou não, afinal?

Meu espírito (muito) crítico não me permite participar de igrejas, mas acho que a fé pode ser importante para a estruturação de uma sociedade saudável. Pode ser, mas muitas vezes não é. Tudo depende do grau de tolerância que está impresso no processo. O melhor é que política e religião ocupem os espaços que lhes cabem, e, em minha opinião, as igrejas devem orientar suas fiéis a não abortar, se assim o desejarem. Mas não devem se meter na opção por uma política pública de não criminalização das mulheres, que abortarão de qualquer jeito, sempre que acharem que não têm outra saída. As que tiverem grana, sairão fisicamente ilesas; as que não tem, serão penalizadas pelo abandono e hipocrisia do Estado, que até hoje não teve a decência de encarar o problema com coragem.

É por isso que, embora não ache que ela é perfeita, ando cada vez mais do lado de Dilma. Esse palhaço desse Serra acha o mesmo que eu, que qualquer pessoa inteligente (sobre o aborto). Mas faz de conta e dá uma de indignado. Não gosto desse tipo de gente acostumada a minar o moral dos outros comendo pelas beiradas, fazendo guerrinha de bastidores, espalhando boatos que se estabelecem a partir da ignorância e do fanatismo das pessoas. Até email dizendo que Dilma fazia parte de uma seita diabólica já recebi - e o pior é que essas porcarias têm audiência. Haja.

Pausa para um refresco - hoje, estava olhando classificados no jornal, e vi o seguinte anúncio de uma daquelas moças de vida difícil que divulgam seus serviços por ali: Analú - R$ 300,00. Só lamento - tem mulher perfeita quem pode! Pense numa bichinha marqueteira! Aprendam, candidatos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Censura?

Li há pouco tempo um artigo no Caderno C do Jornal do Commercio, que discute o tema da Bienal de São Paulo deste ano: política e arte. O autor toca numa questão maior, que é o fato de "política", neste caso, estar sendo interpretada de forma simplória - ao que lhe parece, e concordo com ele, ninguém parou pra discutir ainda a política cultural de fato - críticos e críticas, marchands, valoração, bolsas, incentivos... Ficou tudo concentrado na representação político-eleitoral, que não esgota o assunto, apenas o tangencia.

O fato é que o tema da Bienal terminou resvalando noutra questão séria, que tem a ver com limites e refletiu-se na repercussão da série de autoretratos de Gil Vicente. Os desenhos do artista assassinando líderes nacionais e internacionais já deram muito que falar, e por isso mesmo levantaram a lebre da censura mais uma vez.

Gosto muito dos quadros. Acho que são esteticamente muito interessantes, e provocadores, coisa rara numa época em que está cada vez mais difícil surpreender-se ou chocar-se com o que quer que seja. Não acho que a justiça ou a OAB tenhaque se meter com o que faz Gil Vicente, que está, afinal de contas, através de uma representação literal, metaforizando uma série de outros conceitos e questões. O problema é que muita gente não consegue enxergar além do óbvio, infelizmente.

A metáfora, afinal, é pra poucos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Só lamento

Incrível como a minha, a sua, a nossa vida interessa tanto ao alheio. Eu, apesar de ser jornalista, sou pouquíssimo curiosa, interesso-me quase nada pelo que outras pessoas fazem de suas existências, a não ser que sejam próximas a mim e eu me importe com elas. Acho até que às vezes sou mal interpretada - não querendo parecer intrusa, termino parecendo distante. Bom.

Porém... Há quem se comporte de maneira totalmente oposta, e ainda se ache no direito de interferir no que não lhe diz respeito, geralmente para criar problema. A intenção não é nunca a melhor, nestes casos. Não raro, tais pessoas são menos inteligentes, menos bem sucedidas, menos amadas e beeeeem menos bonitas que seu alvo. É triste ver o quanto se rebaixam enquanto acreditam ser os juízes da humanidade. No mais das vezes, não lhes respondo, para que elas não percam tempo iludidas, achando que fizeram ou que são alguma coisa. Esse povo não é nada, afinal.

Às vezes, no entanto, paro para refletir sobre o causo. Fico besta com tanta falta de coisa melhor pra fazer. Mente vazia, oficina de satanás, já dizia o padre. O pior é quando o vazio, além da mente, ocupa a alma. Que nojo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Confesso que pequei - e estou tão feliz!

Hello, gente boa. Este singelo post surge só pra dizer que hoje estou inflada pelo pecado do orgulho, que não me deixa pisar no chão desde que dancei lindamente ontem, e minha mega exigente professora disse - "é, Marcella, não estou vendo nada pra corrigir no seu baile...". I'm so happy, e animada, que nem o nosso atual, futuro e the very best governador, pra seguir "daqui pra melhor".

E por falar nele, chegando em casa, ontem, sentei-me pra assistir ao debate da TV Jornal. Nosso govs, afiadíssimo, fez muito bem a sua parte. E ele estava numa alegria, numa leveza. Logo ali ao lado, um Jarbas disperso e borocochô, que me pareceu exausto. Estranhei aquele jeitão, vindo de uma pessoa que gosta tanto do embate, até que soube da pesquisa e dos 15% . Bom, pelo menos combina com o número da campanha, né não?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A mais linda

Procurava um Cd dos Beatles pra ouvir no carro enquanto ia pro trabalho, esta manhã. Não encontrei o que eu queria, e meu marido então me entregou Revolver, um álbum que sempre suscita polêmica. "Alguns acham chatinho, outros dizem que é o melhor entre todos os que eles fizeram... Leva", ele disse. Levei, e fui ouvindo. Cheguei na faixa "Here, there and everywhere" enquanto estava na Av. Mário Melo. Desconectei e fiquei só sentindo aquela música tão linda. Tão simples, tão emocionante. Não sei qual dos beatles a compôs, mas se foi Jonh, e se foi pra Yoko... Eu me rendo - aquela muié tem mesmo borogodó. Segue a letra:

Here, There And Everywhere

To lead a better life,
I need my love to be here.
Here, making each day of the year

Changing my life with a wave of her hand
Nobody can deny that there's something there.

There, running my hands through her hair
Both of us thinking how good it can be
Someone is speaking but she doesn't know he's there.

I want her everywhere
and if she's beside me I know I need never care.
But to love her is to need her
Everywhere, knowing that love is to share
each one believing that love never dies
watching her eyes and hoping I'm always there.

I want her everywhere
and if she's beside me I know I need never care.
But to love her is to need her.
Everywhere, knowing that love is to share
each one believing that love never dies
watching her eyes and hoping I'm always there.

I will be there, and everywhere.
Here, there and everywhere.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ô, miséria

Capa do Diario de Pernambuco deste fim de semana registra o que todo mundo já sabia, na prática: falta homem no Recife. E não é modo de falar, não, amiga, é estatística - os números não mentem. São 85 homens para cada 100 mulheres, noves fora os bandidos, os canalhas, os doidos e/ou problemáticos, os burros, os muito feios (feinho já está virando bonitinho, nestas circunstâncias), os gays assumidos, os gays enrustidos, os muito jovens ou muito velhos, os casados, os que têm namorada ou noiva, além dos nossos pais, avôs, tios, irmãos e filhos.

Não é mole, minha filha. Hoje em dia, pra alguém namorar ou casar no Recife, geralmente uma outra desavisada vai ter que ficar sem um homem pra chamar de seu. Neste cenário, a coisa toda fica parecendo uma praça de guerra, e las chicas são as gladiadoras de ocasião. Briga-se até pelas criaturas mais indesejáveis da face da Terra, um espetáculo deprimente por demais. Homens que, nas condições normais de temperatura e pressão, ficariam plantados na pista de dança, passaram a se comportar que nem se fossem Carlinhos de Jesus. Medo.

Realizei uma experiência sociológica dia desses, que me deixou deveras impressionada. Passei o dia inteiro analisando a "qualidade" dos homens à minha volta (as exteriores e visíveis, of course) - difícil foi salvar alguma coisa. A esmagadora maioria era absolutamente abaixo de qualquer controle de qualidade minimamente decente - os outros, ou eram casados ou amigos queridos (e aí, suspeita sou...). Não quero aqui fazer aquele discurso babaca do tipo "homem não presta", até porque não acredito nisso, sinceramente. Homens são ótimos e péssimos, assim como as mulheres. Também existe um monte de moçoilas uó nesse meio de mundo - mas não estou aqui falando delas.

O causo é que os nossos meninos recifenses não estão precisando se esforçar muito. Acho uma pena essa falta de cuidado e de gentileza com as meninas, o comportamento promíscuo que mais parece um dever que uma vontade. O povo não se importa mais em saber das coisas, em aprender, em impressionar o outro. É tanta ignorância que dá pena. Faço aqui um apelo, aos homens e mulheres de bem desta Mauricéia Desvairada: não vamos nos nivelar por baixo, pessoal! Abaixo as relações desvirtuadas, onde o que é ruim vira bom só porque não há nada pra botar no lugar.

Vale um adendo: não sou nenhuma "mal amada", como alguns poderiam pensar. Até porque esse conceito, no fim das contas, é machista até dizer chega. Tenho um marido muito do ótimo, dedicado, atencioso, amoroso, gentil, ex-casado... (Tá vendo? - voltamos ao ponto de partida... A quem interessar possa, a separação do gajo aconteceu por livre e espontânea vontade dele, sem brigas envolvendo a minha pessoa, e sem apelação, porque não precisou e também porque sou fina demais pra isso). Mas sou otimista - tenho fé que minhas (nossas) crianças conviverão em outro cenário... Assim seja!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Transcendendo

Artista amador ou desconhecido ou pobre (ou tudo junto) é uma (des) graça. Vou dançar no próximo dia 16, vocês já sabem. Para alcançar o objetivo de estar com a coreografia limpíssima até lá, ensaio num lugar longínquo às terças e quintas. Haja gasolina e joelho pra aguentar o estica e puxa embreagem/acelerador na hora do rush. Aos sábados, o baile é no Cervantes, às 13h. Praia e almocinho com friends and family, hummmmm... Antes ou depois, e olhe. Viajar nos fins de semana, só depois do ensaio. Para estar bela, gastei uma grana com roupas que comprei via internet, que, espero, cheguem direitinho, no meu tamanho e valham o investimento.

Tudo isso, pelo textinho arriba, pode parecer sacrifício. Pero no lo es, absolutamente! Minha professora, dia desses, resumiu: "sorte a nossa, meninas, que viemos pra vida com a oportunidade de transcender. Quanta gente vai passar a existência inteira sem saber o que é isso?" Ela tem toda a razão. Só experimentando pra saber. E, ao final, ganhar dinheiro com isso parece até absurdo, diante do luxo que é reunir gente em torno do que há de mais sofisticado entre as realizações humanas - o fazer artístico.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Das delícias da maternidade

Hay dias, todas as mães sabem, que a experiência de criar os filhotes é muito mais padecimento que paraíso. A gente fica exausta, educar é cansativo mesmo, e o pior é que a tarefa não nos dá o direito de ter preguiça. Em outros dias, no entanto, somos regiamente recompensadas por esse "trabalho".

Estávamos no sofá, vendo a novela. Júlia, a mais velha, perguntou pra que servia um psicólogo. Eu, com meu vício de professora, expliquei bem didaticamente: "para tratar das nossas questões emocionais". Alice, a pequena, comentou: "A minha primeira questão emocionante é que eu tenho mãe". É fofa ou não é?

domingo, 12 de setembro de 2010

A perda

Perdi meu celular pessoal, e toda a minha vida se desmantelou. Fiquei sem agenda, o que é bem grave em tempos onde a comunicação é mais virtual que pessoal. Esse preâmbulo é pra dizer à minha amiga Dani, que fez aniversário no último dia 10, que absolutamente não esqueci dela, só perdi seu número... Amanhã vou reparar a desfeita, já que, por causa de uma prova, não pude ir ao seu almoço de comemoração, que foi ontem.
Aproveitando a deixa, registro também o aniversário de Anna Paula, que é amanhã. Nova idade, corpicho novo, repaginado por dieta e malhação... A muié está bombando! Ao samba no sábado, minha filha, que o samba deixa a gente contente (já dizia Paulinho da Viola).
Beijos, garotas!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Alô!

Só pro meu blog não esquecer de mim, tô dando um oi pra ele e pros meus caros leitores.
Corri feito má notícia hoje pra dar conta das tarefas, e nem pude conversar potoca, nem almoçar com calma, nem olhar uns sites de roupa de baile, nem nada. Deu só pra fazer uma escovinha rapidíssima na hora do lunch, uma vez que gente sou, amém. Se pressa fosse dinheiro, eu seria Eike Batista.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

De que arte estamos falando?

Debate sobre arte contemporânea parece um novelo de lã: a gente sabe onde ele começa, mas não tem idéia de onde vai terminar. E aí, passamos horas discutindo quais os limites do "comum", até que ponto atividades cotidianas e banais participarão do código que determina o que é ou não artístico. Difícil chegar a um consenso, mas o fato que nem todo mundo assimila a idéia de que "tudo" pode ser alçado à categoria de arte.

Eu sou uma dessas pessoas. Acho que há, sim, coisas muito interessantes nesse balaio, mas também há tanta coisa despropositada, tanta gente sem nenhum talento que acha que a graça está justo aí - na falta de talento. Cuma? Discutia com uma aluna e bailarina, dia desses, sobre dança contemporânea. Concordávamos na impressão de que os movimentos dos bailarinos dessa categoria são repetitivos e redundantes, na maioria dos grupos, com todo respeito às exceções. O interessante é que a essa dança é considerada contemporânea justamente pela ausência de um código que a represente, e mesmo assim, caiu numa mesmice aborrecida.

Enquanto isso, danças que têm códigos estruturados, como o balé clássico, o frevo, o flamenco - os quais a gente pode reconstruir, reiventar, mas precisa conhecer - são tão diversas que parecem ser, elas, as que detém maior possibilidade de interpretações criativas. Talvez sejam mesmo. Falando por mim, que danço flamenco há mais de uma década, posso dizer que não estou nem perto de conhecer todas as possibilidades que esta modalidade apresenta.

E temos um código, estruturado, que precisamos respeitar se quisermos depois mudá-lo. Os bailes, mesmo sem a "liberdade" que o contemporâneo, a priori, traria, conseguem ser muito diversos, e apresentam grande possibilidade de variações entre si. Enquanto isso, os grupos contemporâneos não conseguem se desvencilhar daquelas dissociações de corpo, giros pelo chão e saltinhos que quem acompanha dança tanto conhece... Cansa. Não emociona, pelo menos não a mim.

De repente, arte tem mesmo a ver com o incomum, com o virtuosismo, com a técnica apurada... A referência estética mais contundente é sempre aquela que te surpreende, afinal. E isso não tem nada a ver com preconceito, tem a ver com sentimento.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tem espetáculo, sim, senhor!

Uôba. Temos data marcada para a nossa primeira apresentação, que deverá contecer, se não houver nenhuma mudança, no dia 16 de outubro. Desde que comecei as aulas com Karina, é a primeira vez em que irei dançar em público (ou melhor dizendo, para um público), e essa perspectiva sempre é muito animadora. Afinal, a gente não se esforça tanto pra tudo ficar lindo e escondido, né? Já disse uma vez por aqui, e repito: quem dança quer palco.

A projeção é das melhores, porque Karina é, sem nenhuma dúvida, a professora mais completa que já tive, e ela vem garantindo a todas nós um nível de evolução constante e rápido. E agora, que há o espetáculo no horizonte, ela deverá ficar mais exigente e acelerada. Ui. É um desafio, dos mais estimulantes, e por isso, começo hoje a ensaiar diariamente (menos nos dias em que estiver na faculdade e no domingo). Tudo pra não fazer feio na hora H - meus seletos quatro leitores, quero vocês todos lá, ok? Bom, mais adiante darei as coordenadas do show: hora, lugar, etc.

P.s.: Engraçado, um dia vinha no carro pensando sobre isso: a única hora em que não penso em nada além do que estou fazendo é quando estou dançando. É quase como uma meditação com movimento. Para nós, mulheres, sempre projetando a próxima ação enquanto executamos a anterior, é um exercício interessantíssimo. A mente fica esvaziada de tudo, principalmente das coisas chatas e estressantes. Vão lá, meninas.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Motorizada

Reconheço que nossos centros urbanos estão inchados e que as avenidas das grandes cidades não toleram mais carros. Sei que o trânsito recifense é caótico e que o ideal seria andarmos todos de transporte coletivo, aproveitando para caminhar também, quando as distâncias e o clima permitirem. Fico estressada sempre ao levar uma hora para percorrer um trajeto que, em situações ideais, seria percorrido em 10 minutos, no máximo. Sou a favor de qualquer iniciativa que ajude a diminuir a poluição do ar causada pelos veículos.

Nada disso, no entanto, me impediu de ficar MUITO feliz com o presente que ganhei do meu caríssimo pai: um carrinho novinho, só pra mim. Foi uma grande surpresa, que vai trazer muitos ganhos a à minha rotina, já que eu dividia o carango da família com my husband, o que não raro nos obrigava a fazer ginástica de tempo e de logística. Ele ainda não está comigo, mas chegará em breve, e será recebido com pompa e circunstância. Vou comprar um vinho super ótimo, daqueles que eu reclamo quando marido compra porque são muito caros, assim que estiver com as chaves.

Não disse que a lei da compensação universal haveria de me alcançar? E foi antes do que eu pensava. Delícia.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Cinco anos

Amanhã, é o aniversário de cinco anos da minha pequena Alice. Pequena, sempre, porque é a caçula, mas que de vez em quando surpreende a gente com sua tiradas quase adultas. Dia desses ela refletia, do alto da sua sabedoria infantil: "a gente não tem mesmo tudo o quer na vida". O tema que gerou a frase de efeito tinha relação com um brinquedo que ela gostaria de ganhar. Ao mesmo tempo, esta semana, para que ela comesse sem reclamar, inventamos (idéia de Julia, minha mais velha) que purê era pasta de sereia. E ela acha que, se comer aquela pastinha amarela várias vezes, vai virar sereia. É uma idade linda, de transição. E Alice (essa aí de faixa com bolinhas na cabeça), com seu bom humor, com seu jeitinho carinhoso, com sua inteligência, é um presente pra todos nós. Beijo, fofura!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O doido

Povo do meu Brasil, preciso contar essa história. Eis que estava eu na minha aula de flamenco dos sábados, lá no Instituto Cervantes. Estamos aprendendo agora uma bulería, baile dos mais difíceis, porque o compasso é bem acelerado, e ainda por cima tem muito jogo de corpo. Já estamos ensaiando essa coreografia há um tempo, mas ainda falta muito pra que ela fique limpa. Pois bem. Aparece na aula um homem (ou quase), dizendo-se bailarino, apto a estar em turmas avançadas. Parêntese: nós somos intermediárias, vá lá, intermediárias nível 2, mas estamos ainda distantes de ser avançadas.

Eu danço na frente do espelho, um pouco porque não gosto de ficar atrás sem me ver, um pouco porque gosto de ver bem o que a professora está fazendo (sou míope), um pouco porque detesto que aquele povo que não consegue acompanhar a aula me atrapalhe. A criatura, o tal homem, achou de, na primeira aula em que participou, "dançar" a bulería com tudo, metendo porrada no tablado, totalmente fora do compasso, do ritmo, de tudo. O coitado não tem o menor jeito pra coisa, mas acredita piamente que é a reencarnação de um cigano da Andalucía.  Detalhe: entra na aula falando espanhol - ele é brasileiríssimo, vale? Doido de batinha branca.

Aquilo foi me dando uma gastura, como diz o matuto. E eu olhava pra trás, com a cara mais feia que conseguia fazer. Nada, ele não se tocava. A aula passando, e o cara fazia tanto barulho que ninguém conseguia ouvir mais os próprios pés. Aí, não deu. O sangue subiu e eu saí do meu cantinho e fui falar com ele, dizer que parasse de atrapalhar a aula. Sou calmíssima, mas o fulano aperreou tanto que foi impossível ficar quieta. Ele olhou pra mim e só disse: "tá". E continuou tentando "adivinhar" o que íamos fazer a seguir, com a desenvoltura de um poste.

Karina, a professora, criou uma turma de intermédio 1, para quem não acompanha ainda a aula das 13h mas não é mais iniciante. Pensei comigo: "essa besta não vai sair da nossa turma, ele tem convicção de que é o bailarino flamenco do século". Dito e feito. Aula seguinte, lá estava ele, no intermédio 2, matando barata, metendo porrada, enchendo o saco de todo mundo. Dessa vez, foi ela que se danou e disse que, se ele continuasse, ia ter que pedir que se retirasse. Mas o menino nem tchuns. Ignorou-nos na forma da Lei.

Estamos ensaiando também um martinete com bengala, que requer uma coordenação motora daquelas. O cara não dá uma dentro, mas continua achando que é avançado. Jisus, que fazer? Nada dá resultado, e com doido a gente não tem muita chance só argumentando. Pensei em assassinato, mas achei muito dramático. O pior é que não temos nenhum homem na turma, e seria ótimo que aparecesse algum pra dividir os bailes conosco. Aí, aparece aquilo. Tô pagando os pecados desta e das próximas vidas. Se a lei da compensação universal existir, não é possível que os céus não estejam me reservando uma coisa muito, muito boa.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Move

TPM enche, mas às vezes pode ser útil. Como ficamos menos tolerantes, a tendência é chutar pra longe os inconvenientes da vida mais rapidamente, sem delongas. E aí, eis que ganhamos a chance de nos livrar de situações chatas sem culpa e com a verve aguçada característica dos hormônios em fúria. Ando com muito pouca paciência pra algumas frases de efeito que venho sendo obrigada a escutar há algum tempo... Tendo a buscar um caminho que compense a perda que terei quando resolver surtar. Engraçado que surto planejado é uma coisa, assim, incomum, mas não é que existe? Bom. Estranho é como passamos mais tempo do que devemos aturando situações incômodas. Ok, muitas vezes a necessidade da vida real tem culpa no cartório, mas bem que poderíamos ser mais ágeis quando o que está em jogo é nossa satisfação pessoal. Ainda bem que tem TPM todo mês.

terça-feira, 27 de julho de 2010

As mentiras que te contaram

Mentiras piedosas muitas vezes são necessárias. Mas às vezes o povo exagera. Listo abaixo algumas das que mais me comoveram nos últimos tempos:

1. É possível ser elegantérrima gastando muito pouco e comprando em magazines. Não, não é. Roupa boa, com bom corte, tecido que dura, etc e tal, custa um dinheirinho. Não é que a gente tem sempre que pagar pelo fetiche da mercadoria, mas hay que fazer um investimento. No fim, o custo se dilui na quantidade de vezes que você vai usar a peça.
2. Basta comprar roupa muito cara pra ser chique. Nothing at all! O que tem de gente que enverga o preço de um apartamento nas costas e é brega... Não basta grana. Tem que ter chiqueza na alma, bem.
3. Mulher não é amiga de mulher. Algum homem inventou isso pra se dar bem às nossas custas. Não caiam nessa, meninas! Somos, sim, capazes de amar nossas amigas do fundo da alma. Para sempre, inclusive.
4. Sexo é sempre igual, afinal, o caminho das pedras não muda muito. Eita, que mentira do cão! Talento é talento - tem gente que tem, tem gente que pensa que tem.
5. Qualquer um pode dançar, é só treinar. Sorry, galera, mas isso é mais uma lenda caridosa que inventaram pra consolar aquela turma que entra no curso de dança de salão "pra se soltar". Tem um povo que é absolutamente incapaz de fazer um dois pra lá, dois pra cá que preste. E não há treino que dê jeito.
6. Nossas boas ações serão recompensadas pelo destino. Se fosse assim, Jesus não tinha morrido na cruz.
7. Só um minutinho, senhor. Que tipo de relógio essa gente que profere essas palavras usa?
8. Não é você, sou eu. Precisa mais?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Não me inveje, trabalhe

Estava vendo, de novo, há uns dois dias, Vick Cristina Barcelona, o filme de Woody Allen. Muito, muito legal, noves fora o fato de que as duas protagonistas são lindas de dar raiva. Devia ser proibido existir mulher assim no mundo, e olhe que eu tenho uma auto estima super consolidada. Imagine quem não tem - não recomendo assistir ao filme.

Uma é a loura mais linda do mundo, boca e peitos perfeitos, a super Scarlett Johansson. A outra é a morena espanhola top top sexy Penélope Cruz, uma aparição. Ó, céus. Haja boniteza por metro quadrado. Quem não nasceu assim, precisa ralar, sempre - e aí estamos quase todas no mesmo barco, porque lindeza genética não é pra todo mundo.

Podemos, entretanto, ser maravilhosas. Ser maravilhosa é mais que ser só linda, mas pede trabalho. Não dá pra ser maravilhosa deitada na cama de pijamão. Todo esforço é necessário, inclusive e principalmente, no que diz respeito ao intelecto. Tem a ver também com energia, uma coisa meio difícil de explicar, mas muito real.

Mesmo assim, todos os argumentos que me consolam esbarram na minha imaginação dramática, que projeta a seguinte cena: as duas juntas, olhando para as demais mortais do alto da sua perfeição e repetindo aquela máxima das lotações: "não me inveje, trabalhe". Será que uma jornada de 40h semanais dá conta?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Daqui pra melhor

Um registro ao aniversário do meu amigo Alexandre (que foi ontem), que me imputa a pecha de mulher cheia de testesterona, uma deslavada e descarada mentira, diga-se. Parênteses: nunca houve ninguém mais muié que yo. Parabéns a ele e aos seus 40 anos, sempre uma idade interessantíssima, em minha opinião. Viva à sua generosidade, ao seu caráter, ao grande companheiro de trabalho que ele é. É daqui pra melhor, galera.

domingo, 11 de julho de 2010

O caso Bruno

Quando a gente imagina que o mundo está melhor, mais igual, que as pessoas tem direitos e deveres relativamente equilibrados, que homens e mulheres podem conviver como parceiros e não como adversários, eis que esbarramos em acontecimentos que nos mostram o quanto ainda temos que avançar. A morte dessa menina que engravidou do tal goleiro do Flamengo, um psicopata digno de filme de terror, é emblemático.

Não pela coisa em si, já que loucos assassinos sempre vão existir, por mais evoluído que o mundo esteja. A questão é mais complexa e mais grave.  Claro, há quem diga que fatos assim são frutos do meio, de certa forma explicados por circunstâncias sociais. Não penso assim. Acho que pessoas como esse Bruno são desequilibradas por natureza, não teriam ética nem moral mesmo que tivessem sido criadas pelos melhores pais, no país mais socialmente equilibrado do planeta. Ele é do mal, ponto. Sempre será.

O que mais me choca, no entanto, são as pessoas ditas sãs que abrem a boca pra justificar a forma brutal com que a moça foi assassinada, como se o fato dela usar o corpo pra se mover no mundo fosse motivo suficiente pra que a sua vida tivesse menos valor que as demais. Já ouvi gente dizer "coitado", já ouvi dizer que ele foi burro, já ouvi quem afirmasse "tá vendo, acabou com a vida por causa de uma periguete". Meu Deus. E a menina? E a criança, filha dela? A moça morta só jogava com as armas que tinha, e estava sempre em desvantagem, embora tenha pensado que não, em certa hora. Ela era a parte fraca da história, ela é quem merece piedade.

Quem anda com as marias-chuteira deve saber qual o objetivo delas, a não ser ser que seja muito imbecil. Engravidar, neste caso, é como ganhar na loteria. Se ele não se preveniu, que arcasse com as consequências. Esse cara era conhecido por se divertir batendo em mulheres, e tinha uma amizade por demais suspeita com os tais cúmplices do assassinato. A pior coisa do mundo, mais perigosa, é um ser doente, violento, mal resolvido com a própria sexualidade, que sai pelo mundo se "vingando" das mulheres que ele não consegue amar, nem desejar.

Tomara que na cadeia esse Bruno consiga o que tanto desejou a vida inteira, mas não teve coragem pra encarar. Tomara que os colegas de cela lhe façam as honras. Covarde, porque é gay e não assume, e tem raiva de quem o faz conviver com a própria homossexualidade. Covarde, porque vitimiza quem é mais fraco que ele. Esse sujeito não é nem gente. Não é um sentimento bom, mas desejo a ele tudo de pior. Dane-se.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sale

Há momentos em que tudo o que você precisa é de uma liquidação, por mais fútil que o desejo pareça. Há momentos em que as coisas muito sérias, as decisões definitivas, as soluções finais, tudo isso pode ser trocado por uma penca de roupichas compradas por um precinho justo. Nestas horas, as sacolas juntas, ao lado da cadeira onde você sentou pra descansar e tomar um capuccino depois da "feira", são a mais fiel imagem da felicidade.

sábado, 3 de julho de 2010

Menos lágrimas, mais informação

Nestes últimos dias, não tive direito de ter preguiça. Trabalho e mais trabalho, com algumas pausas, breves, pra dar uma olhada nas filhas e no marido. E pra dançar um pouquinho, que ficar sem isso também já é demais. Nesse meio tempo, já deu pra perceber que a cobertura de tragédias que a imprensa, não só a nossa, faz, continua tão ruim como sempre. Muito drama, pouca informação útil, com algumas louváveis exceções.

Não é o caso de pedir elogios, não é esse o ponto da minha argumentação. Importante seria, apenas, que os veículos se importassem mais em cumprir o papel de divulgar informação de qualidade, com precisão, e menos com procurar "personagens" que imprimam mais drama ao que já é, por si só, dramático demais. Tomara que um dia a gente não precise mais ver câmeras focando nos olhos marejados das pessoas, já tão castigadas. Elas não precisam de repórteres perguntando obviedades. Elas precisam, sim, de profissionais que informem, que as ajudem, de acordo com a sua função, a recuperar a dignidade. Que tal, pra variar?

domingo, 27 de junho de 2010

Esperança

Eita, que esse São João foi meio morgado. Muita gente está, agora, em Pernambuco, reunindo as últimas forças pra tentar enxergar de novo um horizonte pra vida. Difícil demais quando tudo o que se vê em volta é destruição. Essas pessoas precisam saber, porém, que tem um monte de gente trabalhando muito pra que elas tenham, o mais rápido possível, condições de retomar seu trabalho, sua rotina, sua vida. Para elas, uma poesia, nesse momento em que as urgências do corpo não deixam espaço para as manifestações do espírito.

Esperança
Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

terça-feira, 22 de junho de 2010

Chove, chuva

Incrível como os fenômenos naturais ainda têm tanta interferência em nossa vida cosmopolita e pós-moderna. As chuvas que castigaram Pernambuco nos últimos oito dias que o digam. O cenário que vi, pela TV, é de uma desolação só. Tanta gente sem casa, sem saber onde estão os familiares, sem nada. Triste demais.

E é só água, afinal. A gente não imagina que a água possa ser, sozinha, a causa de tantos estragos. Li no livro de ciências da minha filha que água é solvente universal, só escapam areia e óleo. Asfalto, madeira, concreto... Nada fica em pé se a força da água for muito grande.

A hora é de juntar os caquinhos. Não cabe apontar culpados, até porque, a rigor, eles não existem. É preciso, mesmo, ajudar, mobilizar, fazer o que for possível para dar um pouco de consolo a quem perdeu bens materiais e imateriais. Todo o resto fica pra depois. Simbora.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Linda música

Dia desses, fui apresentada a essa musiquinha, e achei a bichinha tão lindinha, e emocionante (deveras). Fico feliz ao ouvi-la, anyway. Paratodos, aí vai ela, acompanhada das imagens que provoca no espírito. Enjoy.


Did I see a moment with you

In a half lit world

I'm frightened to believe

But I must try

If I stumble if I fall

I'm reaching out in this mourning air, ohh


Have I got the strength to ask

Beyond the window

I feel this fear alone

Until we have

Total honesty

If I tremble or fall

I'm reaching out in this mourning air, ohh


Should I feel a moment with you

To softly whisper

I crave nothing else so much

Longing to reveal

Total honesty

I can feel your touch

I'm reaching out in this mourning air, ohh
I'm reaching out in this mourning air, ohh.

domingo, 13 de junho de 2010

Aos namorados

Ontem foi dia dos namorados. Ok, isso todo mundo já sabe. O que eu queria comentar, na verdade, é que essa é uma daquelas datas comemorativas que parece ter vida própria, ou seja, "cada ser tem sonhos à sua maneira", como bem já disse Lula Queiroga. Há casais casados que acham que não precisam mais de um dia dos namorados pra chamar de seu, pois são casados, afinal. Pode ser que não namorem mais, pode ser que sejam apenas desligados "dessas coisas". Pode ser. Aposto na primeira opção, mas posso me enganar. Sempre, aliás. Inclusive, acho que descobri que andava me enganando com umas coisas. Mas não pretendo derivar. De volta ao Valentine's day.

Faço parte de um dos casais que acha que tem que comemorar sempre, já que o comércio nos está fornecendo uma desculpa para tal. Aproveitemos, então. Na sexta, my crazy day, meu namorado estava viajando e minha rotina virou um caos. Nem ao trabalho, à tarde, consegui ir. Aniversário de 90 anos da minha avó, prova na faculdade à noite, filhas pra pegar e levar, cabelereiro, manicure, presente, shopping... Socorro. À noite, na festinha da abuela, morta de cansada, tomei todas e super me diverti com meu irmão, cunhada, primos e tios queridos. O fato é que, no sábado 12, tive que preparar my private party ainda sofrendo de leve ressaca. Mas não esmoreci.

Fiz uma feirinha super caprichada, e cozinhei tudo, da sobremesa à entrada. Namorado/marido ainda em trânsito, comecei o ritual. Decidimos ficar em casa, até porque décadas de experiência nos fizeram decidir a não mais pagar mico em restaurantes lotados, caros e com péssimo serviço. Modéstia à parte, meu jantar ficou excelente, e o vinho também estava ótimo. Divertimo-nos bastante. Foi uma comemoração deveras clichê, mas quem disse que os clichês também não têm o seu valor? O amor é brega, pessoas, e se não for assim, não tem graça. Muito bom senso não combina com romance.

Portanto, um brinde aos namorados, de hoje e de ontem. Tin-tin também aos solteiros que irão namorar, mais dia menos dia, porque o que tenho visto por aí é que não se perde ninguém nesse mundo de meu Deus. Para as meninas, uma dica: não acreditem nesse papo de que "está faltando homem". Eles espalharam essa lenda só pra valorizar o próprio passe. Não está faltando porcaria nenhuma. Meninos, não creiam também quando disserem que as moças só querem saber de caras "com dinheiro". Mentira deslavada. Meninas e meninos de bem querem atenção, carinho, afeto, paixão. E o resto é lucro.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Como descobrir um novo adolescente

Minha filhota mais velha, Júlia, recusa-se a ser adolescente, acho que já falei isso por aqui. Segundo ela, ser adolescente é uó. Ontem, estava me explicando como as coleguinhas da turma que, ao contrário dela, desejam ardentemente ser adolescentes, comportam-se para parecer adolescentes. Deus, isso está ficando complicado.

Bom, as atitudes das meninas que Júlia acha "simplesmente ridículas" são "usar sutiã com enchimento" - "mãe, elas ficam com o peito igual ao seu" - o que pode significar que preciso mesmo de silicone, como eu suspeitava. Outro sintoma é que, segundo Ju, "elas são amigas dos meninos!". Faz todo sentido.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Nada pode ser mais bizarro

Bizarro. É a palavra que me vem à mente para descrever este caso Maristela Just. Bizarro é o fato de existirem homens que se acham no direito de agredir e matar mulheres porque estas mulheres entenderam, finalmente, que eles são umas porcarias, uns seres com os quais não vale a pena nem trocar um bom dia, quanto mais conviver. Ninguém fala sobre a "honra" feminina quando a traição surge de lá pra cá, e olhe que eu nem estou entrando no mérito. Não sei se houve ou não traição neste caso, até porque é o que menos importa na história toda. Não há justificativa para matar.

O fato é que nós podemos levar chifres à vontade, ninguém briga pela nossa honra. O contrário, no entanto, gera assunto ad infinitum, causa comoção, explica até assassinato. Como assim? Eita, se o mulherio fosse matar por causa de cada traição vivida... O planeta estava praticamente depovoado. Naturalmente, com um pai daqueles, esse lixo humano que agora é foragido da justiça não podia ser mais do que é. Que homem é esse Gil Teobaldo? De que será que ele é feito? Alguém que ironiza o sofrimento dos netos que perderam a mãe e a saúde, física e psíquica, não pode ser composto da mesma matéria que o resto dos mortais. É menos que lixo, porque lixo a gente ainda pode reciclar. Dali, no entanto, não dá pra aproveitar nada.

Bizarro também é o fato da justiça permitir tantos recursos, tantos adiamentos para julgar um caso em que o réu é confesso e anda por aí como se nada houvesse. Não dá pra entender. É triste, é desalentador, é criminoso, tão criminoso quanto o bandido que mata. Tudo porque alguém acha que é dono de outra pessoa, e mais gente também comunga com ele da mesma opinião. Haja. Espero estar viva para ver mais casos como o do cara que teve que pagar indenização à noiva que abandonou no altar "porque ela não era mais virgem". Bem feito, otário.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Momento mulherzinha

Saí, sábado à noite, para assistir a Sex and the City 2. Fui com my husband, embora uma amiga, momentos antes, tenha achado meio muito ele me acompanhar, pois o programa seria mulherzinha demais, na opinião dela. Talvez ela tenha até um poquito de razón, mas sempre víamos o seriado juntos em casa, vimos o primeiro filme... Enfim.

Porém, quando Carrie desceu do carro calçando um Louboutin de lantejoulinhas vermelhas... Dei um suspirinho, e husband, em contrapartida, deu aquela olhadinha de lado. Mas o filme é divertido para ambos os sexos, embora mais careta que o necessário. Os figurinos estão um tanto over, mas as meninas seguram bem a onda - todas estão com corpichos ok, e as ruguinhas das faces são mais que compreensíveis, ora pois.

Aidan, aquele ex super fofo e lindo de Carrie, aparece na película mais belo ainda e tentando-a a cometer um pecadilho, enquanto Big enquadra-se definitivamente no perfil de maridón tradição. Quem diria. Tal qual a Cia do Calypso predisse certa vez, o mundo é mesmo uma bola.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Felicidade to everybody

Dia desses, alguém escreveu no twitter, e eu achei de uma sabedoria: "desejo que todas as pessoas do mundo sejam felizes. As pessoas felizes não enchem o meu saco". Faço minhas as palavras do cidadão ou cidadã, em seu infinito, mas legítimo, egoísmo. Idem, idem, idem.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Importa?

Algumas coisas são importantes; outras, você chega a pensar que são, mas, de fato, têm uma importância bastante relativa. Importante, pra mim, é:

1. andar pra frente;
2. permitir ao pensamento mudar de direção;
3. fazer e criar filhos;
4. dançar;
5. namorar/enamorar-se, da vida;
6. trabalhar no que se gosta;
7. ganhar decentemente pra fazer o que se gosta;
8. estudar, sempre;
9. ter amigos pra dividir, e somar;
10. dormir, profundamente, sem sonhar;
11. Sonhar, e desejar, mais e melhor.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Jane Austen arrasa

Gosto muito de um tipo de humor que é próprio dos ingleses. Sutil, sarcástico, inteligente - daquele que só um olharzinho mais apurado absorve. Quem estiver procurando obviedade, ou aquela risada fácil e besta com cara de comédia adolescente, não vai encontrar mesmo. Não significa, porém, que as situações descritas sejam pouco divertidas - pelo contrário. Neste caso, a ironia reina, e a gente ri por dentro, larga e frouxamente. Delícia.

Falo aqui daquilo que conheço, já que não sou uma entendedora, mas adoro, por exemplo, Agatha Christie e Jane Austen. Comprei, ontem, o romance "Orgulho e Preconceito", de Austen, e mais um livrinho de Christie para minha coleção de policiais. Desta, tenho tantos que nem lembro o título deste último que comprei. Adoro. Não é alta literatura, mas é entretenimento de primeira.

Fui apresentada à Jane Austen pelo cinema. O livro, entretanto, como sói acontecer, é ainda mais legal. Só pra dar uma idéia, sintam a primeira frase do book que estou lendo: "É verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro em posse de boa fortuna deve estar necessitado de esposa". E por aí vai. As moças do romance apontam suas vidas para o trinômio casamento-paixão-intriga, naturalmente, pela época em que ele foi escrito (início do século XIX, por aí). Mas elas são plenamente inteligentes e cientes do seu estar-no-mundo; sabem que a possibilidade de mobilidade delas é restrita, e trabalham com esta perspectiva. No fim das contas, o que Austen faz é crítica social da melhor qualidade, sem precisar levantar nenhuma bandeira. Gênia.

domingo, 16 de maio de 2010

No blog

Estávamos no carro, seguindo para a casa de mainha. Alice, la pequeñita, diz à irmã mais velha, após um comentário desta última: "pega leve, Júlia". Achamos muito engraçado, claro. Logo depois de comentarmos sobre suas tiradas, cada vez mais frequentes, Alice sai com essa: "mãe, você não vai botar isso no blog, né?" Adivinha...

Alice e seu juizinho repleto de idéias

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Compromisso

Ontem, ganhei um anel. Lindo, de ouro branco fosco com um brilhante incrustado. Ganhei também algumas palavras (http://www.cleristonchargista.blogspot.com/), mais lindas que o anel, e olhe que o anel é super lindo. Acho que repeti muito o adjetivo "lindo", mas é isso mesmo. Quem dera todo mundo pudesse ganhar um anel lindo feito eu ganhei. Quem dera mais pessoas tivessem a capacidade de dar um anel do jeito que este me foi dado. Melhor pra mim! Melhor pra nós.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Parabéns a Júlia

Hoje é o aniversário da minha Júlia. Onze anos, mas ela não gosta de ser chamada de pré-adolescente. Prefere ainda ser criança, e eu, confesso, acho muito bom que seja assim. Embora Júlia seja muito articulada e cheia de argumentos (crítica que só ela...), ainda não cruzou aquela linha em que os pais viram seres extraterrestres, desconectados da realidade e absolutamente bocós. Sim, ela ainda nos ama. Ufa.

Júlia em um momento inconfesso de (pré) aborrecice

Ela é a ídola da irmã, a pequena Alice, que lhe tem verdadeira adoração. Mesmo assim, as duas brigam... E haja provocação, críticas ácidas, intolerâncias de parte a parte. Enquanto isso, a gente vai administrando pra não deixar que elas exagerem. Difícil é sermos justos sempre, mas seguimos tentando. Um viva para Juju, linda que só ela, inteligente, tagarela, querida. Viva!

domingo, 9 de maio de 2010

Eu, a taturana

Sexta-feira, fui à escola das meninas pra um evento do dia das mães. Ju já é uma mocinha, não pago mais mico por causa dela. Já Alice, que tem quatro anos, é uma criancinha que adora ver a mãe viver momentos constrangedores em datas festivas. Bom. Fui ao colégio, cedinho, e lá, nós, mães, tínhamos que representar (como atrizes, bem entendido) uma historinha que a professora ia contar.

Construímos figurinos junto com as crianças e eu, pasmem, tive que me "vestir" de taturana. Pense numa coisa difícil que é conseguir fazer uma fantasia de taturana com papel crepom. Mas a gente se virou, eu e Lili, e lá fui eu, representar a taturana da história. Pela alegria de Alice, acho que me saí bem. Ela adorou tudo, e tive que me render à idéia da professora, que a princípio tinha achado de uma imbecilidade sem precedentes. Mas as crianças tem uma lógica particular, e, no fim das contas, fiquei muito contente em presenciar a alegria da minha pequena.

A gente nunca sabe até onde pode chegar quando vira mãe, portanto... felicidades, colegas! Quem sabe o que nos espera no ano que vem?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um dia chego lá

Coisa mais linda este trecho de espetáculo. Descobri por acaso, e fiquei impressionada com a presença cênica das meninas bailaoras, com os movimentos de tronco e com a expressividade delas.  Compartilho com vocês, leitores.

http://www.youtube.com/watch?v=ZPQYIQ1UyeE&feature=channel

quinta-feira, 6 de maio de 2010

06 de maio, que dia desnecessário

Apesar da vitória do Sport (comovo-me muito pouco com futebol, portanto...), o dia hoje amanheceu cinza. Aborreci-me na faculdade, tive que fazer feira na hora do almoço, almocei correndo, maior calor, gastei muita grana no Bompreço, paguei um cartão super caro e enfrentei fila na casa lotérica (pode isso?), meu elástico de cabelo quebrou, estraguei uma folhinha de zona azul, vi gente que não queria ver, aborreci-me à tarde no Recife velho, fui na livraria Cultura e o livro que eu queria não existe, a editora não mais o editará. Quer mais? O dia ainda não acabou. Vou dar aula à noite, 20h30 às 22h. Daqui pra lá, muitas desgraças ainda poderão acontecer. Vade retro.

Creio que a TPM contribuiu para piorar um pouco o conjunto da obra. Aposto que até pessoas com quadro terminal de depressão fatal estão mais felizes que eu hoje. Daqui a pouco vou CORRENDO dançar pra ver se a nuvem vai embora. Outras coisas também poderiam ir embora, pra variar. Pensando bem, além do dia, das coisas, dos eventos, há pessoas que também são desnecessárias. Até eu, hoje, estou descenessária para mim mesma. Vou dormir cedo. Credo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Das invejas que eu tenho

A inveja não é um bom sentimento, verdade. Em muitos momentos, no entanto, não dá pra escapar - quando você se dá conta, pronto, está mortinho de inveja. Admitir isso é o primeiro passo para que esta verdade não se torne um problema. Afinal, em todos nós falta algo, claro, e é isso que nos torna únicos.
Seguem as invejas da minha lista:

1. de quem fala inglês fluente;
2. de quem tem abdomem forte (não com gominhos, apenas forte);
3. de quem sabe fazer piruetas perfeitas;
4. de quem tem peitos médios (os meus são mini);
5. de quem fala francês, mesmo que não fluente;
6. de quem já pagou todas as prestações do carro;
7. de quem mora em casa com jardim e quintal;
8. de quem já fez doutorado;
9. de quem sabe cantar bonito;
10. de quem é organizado;
11. de quem tem pele ótima;
12. de quem tem sobrinhos;
13. de quem corre;
14. de quem abre escala;
15. (...)

Tá bom, né? Não lembro de todas. But, garanto que não boto olho gordo em ninguém.

domingo, 2 de maio de 2010

Adaptando o pedido de Bruno

Meu aluno Bruno me pede pra falar de Elisa Lucinda, poetisa. Resolvi fazer melhor que isso. Transcrevo abaixo um trecho da poesia "A chegada do amor", de sua autoria. O texto é simples, direto, objetivo, e diz, assim, tudo que é necessário. Olhaê:


Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis um amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.


Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

(...)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O ministro é que tem razão

Engraçado como as pessoas ainda se relacionam com o tema "sexo" de forma tão pouco natural. Por estes dias, o pobre do Ministro da Saúde foi alvo de críticas, mais ou menos sérias, por ter comentado, numa frase com outros dez itens, que transar pode ser bom pra saúde. A cartilha que falava de sexo para crianças e tocava em questões relacionadas ao prazer, foi retirada das escolas do Recife porque as famílias não gostaram de seu conteúdo. Não conheço o livro e não tenho opinião sobre ele, mas pra que tanta celeuma? Muitos pais ainda acham que explicar sexo às crianças é apenas falar de reprodução e doença. Como se as emoções não estivessem em primeiro plano e o prazer fosse crime.

Ouvi também, andando por aí e escutando conversas alheias quase sem querer, homens casados comentando que preferem fazer sexo com prostitutas, pois assim não "complicam" as coisas. Provavelmente porque as esposas não participam de algum desvio da norma padrão que os tais curtem. Ou talvez porque o tal "amor" inviabiliza, na cabeça dessas pessoas, o contato físico sem censura. Como assim, Bial? E aí, surge a pergunta que não quer calar: alguém questionou se as amadas, mulheres ou namoradas, topavam entrar na "brincadeira"? Duvido. Assim caminha a humanidade, num descompasso que só existe porque o povo leva muito a sério tudo o que diz respeito ao tema (sexualidade).

Falar sobre e/ou fazer sexo configura-se deste jeito, pra muita gente: ou é uma questão complexa, revestida de um caráter quase ritualístico, sagrado, ou é uma coisa profana ao extremo, teatralizada, travestida de moderna enquanto se esconde atrás de risinhos babacas e despropositados, exibicionismo e mentiras deslavadas. Mais uma vez, repito: falta naturalidade, e esta ausência abre caminho para as pervesões, estas, sim, um problema. Perversão, neste caso, entendida como qualquer coisa que não seja consensual ou envolva pessoas incapazes de fazer suas próprias escolhas. O resto, se é de comum acordo, diz respeito apenas aos interessados. Sexo é apenas uma parte da vida, nem mais, nem menos, ó, céus.

Infelizmente, ainda não conseguimos chegar a este entendimento, mas espero estar por aqui quando o cenário começar a mudar (de fato - não de mentirinha). Adorei quando vi, no programa "Os Normais", uma personagem feliz da vida porque os homens que transavam com ela contavam o feito pra todo mundo, e isso significava que ela era uma mulher desejável. É uma caricatura do que costuma acontecer na vida real, mas reflete uma situação interessante, em que a mulher deixa de se preocupar tanto com a reputação e passa a dar conta das suas necessidades (sim, gente, transar é necessidade básica do ser humano) sem hipocrisia.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sofrimento sazonal

Deprê total - imposto de renda. Precisa dizer mais?

terça-feira, 20 de abril de 2010

Ai, que trabalho que dá

Minino, como é difícil ser uma mulher de (mais de) 30. Ao acordar, 5h30 da matina (às terças e quintas), vou ao pilates pra ver se fico gostosa pelo tempo que for possível ficar. Minha porção intelectual não me impede de acalentar a vontade de ser uma beautiful woman pelo menos por mais uns 40 anos. Volto, tomo café da manhã e vou ao chuveiro. Shampoo e condicionador hidratantes pro cabelão ficar arrumado, esfoliante pro pé e sabonete líquido de bebê pro rosto. Ao enxugar o cabelo, tenho que ser cuidadosíssima pra ele não armar. Penteio com pente de madeira, passo um leave-in, depois uma mousse modeladora. Calcula aí quanto tempo já gastei com essa história.

No rosto, passo um fluido matificante, para preparar a pele pro protetor solar, que também é base. Depois, vem o pó, pra secar o protetor e a cara não ficar melada. Às vezes, antes, boto a lente de contato. Um batonzinho, rímel, e estou pronta... pra passar o hidratante no corpo. Finalizo com um creminho pras mãos. Só aí, posso me vestir, e demoro um pouquinho até escolher uma roupa legal. Ufa. Aos 20, fazia metade dessas coisas todas, embora sempre tenha sido vaidosa.

Durante a semana, necessário é fazer a unha, e tento não deixar de passar na manicure a cada sete dias. Vou aos ensaios de flamenco e danço até quebrar as pernas. Mesmo assim, engordei três quilos que não vão embora de jeito nenhum. Minha professora de pilates diz que parte do novo peso é massa muscular, e eu acredito nela pra não ficar triste, me achando a mais gorda do universo. Meu marido jura que sou a mais linda entre todas, mas ele me ama, aí fica fácil.

Vou à dermatologista, sempre. Fiz uns peelings recentemente, farei outro em breve e, à a noite, tenho que usar um creminho que ela passou. Devo iniciar minha carreira de procedimentos estéticos para a face por estes dias, pra ajeitar umas coisinhas que estão me incomodando. De leve, nada de botox, por enquanto. Não quero ficar louca, mas também não vou deixar a peteca cair. Será que estou exagerando?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sobre caráter e outras paragens

Sempre que corrijo provas me deparo com os mesmos problemas. A despeito dos excelentes estudantes que recebemos todos os semestres, os alunos desinteressados, desinformados ou espertinhos continuam por ali, rondando. Primeira aula, repito a mesma ladainha: negocio tudo, menos mau caratismo. Plágio, cópia? Já dizia Amy, em rehab: no, no, no. É zero, galera. Olho de boi.

Mesmo assim, os sabidinhos copiam. E são ingênuos ou muito preguiçosos, pois eles copiam notícias recentes, de sites conhecidos. Entregam um trabalho péssimo, e outro excelente, e querem que o professor ache normal essa disparidade na qualidade da produção. Seremos nós bestas quadradas? No, no, no. Hoje foi dia do sermão, na sala de aula. Consegui silêncio e atenção ao dizer o óbvio - que eles já estão no mercado, que os seus professores são as pessoas que trabalham na profissão que eles pretendem abraçar.

Portanto, já estamos de olho. Falei que não faço teste ampliado pra trabalhar comigo - só chamo os que acho que têm condição de responder ao que eu preciso. Não me importo de ser chamada de injusta, o fato é que não vou perder meu tempo com quem não está a fim. E não é que, nesta hora, o silêncio aumentou? Acho que vai ter gente refletindo, hoje à noite...

terça-feira, 13 de abril de 2010

De novo?

Eu e Ju em apresentação na Casa da Moeda

Vou procurar mudar de tema, já que ultimamente só tenho falado de flamenco. Mas é que estou apaixonada, e só consigo enxergar meu objeto de paixão no horizonte. Pronto. Já estou eu de novo às voltas com o baile, com o cante, com o espetáculo que vamos encenar daqui a uns meses. Desculpem, leitores. Ando mesmo muito apaixonada, e passo o dia com o tiritrintan, com o tatata taratatata no juízo. Não posso evitar.

É isso. Vamos ensaiar pra fazer show! Oba, oba, oba. Quem dança, quer palco, sempre. É uma das emoções mais deliciosas que há no mundo, só sabe quem viveu. No começo, dá aquele indefectível frio na barriga. Depois, você vai se ambientando... Metade do espetáculo, você começa a ficar à vontade. Em seguida, muito à vontade. E aí, não quer mais sair dali. Dá vontade de começar tudo de novo.

O corpo esquenta, e não há cansaço. Só quando a adrenalina se esvai, mas aí, você já esteve no nirvana, bailando, bailando. Vai ter show, gente, e dessa vez, com guitarrista e cantaor espanhol de verdade. Sempre quis dançar com músico no palco, e ainda não tinha rolado. Agora, parece que vai. Conto mais quando estivermos ensaiando pra valer.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bailando por bulerías

Una letrita de baile, que estoy sin inspiración para más. Olé!

Yo a un anciano le pegué
cuando me faltó en la calle
al año cuando me enteré
que ese hombre era mi pare
duquelas grandes pasé
Cosita más sensible
voy a pelear yo con la muerte
y alcanzarla era imposible

Aunque no creas tú
como que me oye Dios
esta será la última cita de los dos
comprenderás
que por demás que te empeñes en fingir
que un mar dolor
no es como para morir
pero deshecha ya
aquella ilusión
a nadie yo en el mundo
daré mi corazón
devuélveme el rosario de mi mare
y quéate con toíto lo demás
lo tuyo te lo envío cualquier tarde
no quiero que te acuerdes nunca más.

Pudo ser una noche junto al mar
unos besos de mujer
y un adiós sentimental

Al alba
tu te fuiste al alba
Un sueño de amor entre tú y yo terminaría
y guardaré secretos que tú conmigo compartías
Y tú te marchaste al alba
gitanita mía

Pañuelo a rayas
con lunares coloraos
dime dónde lo compraste
quién te lo ha dao.

Tú no me dieras a mi más tormento, no no
por que tú ibas a acabar conmigo
y pero como dios es mu grande
a ti te va a mandar un castigo

domingo, 4 de abril de 2010

Aos balzaquianos

Quando somos crianças, o tempo está sempre a nosso favor. Tudo o que mais queremos é que chegue o dia do aniversário, pra ganhar presente, claro, mas não só: crescer é movimento desejado, aguardado com ansiedade. Quando "grandes", teremos liberdade, pensamos (eu, pelo menos, pensava). A independência é um prêmio que a idade nos dá. É?

Eu, que, à maneira das filhas únicas, vivi uma adolescência na balança, ora mais, ora menos oprimida, tinha uma vontade imensa de ser dona de mim. Aos 20, fazia muita falta poder sair sem ter hora pra voltar, até porque eu não via muito sentido nas regras impostas então. A justificativa era frouxa, inconsistente, e eu, com meu senso de justiça inabalável, detestava (e destesto) regras sem objetivos. A norma pela norma não me convence, não aceito. Mas entendi, desde sempre, que aquelas eram as regras na minha família, e que era preciso respeitá-las enquanto vivesse com eles.

Sem drama, terminei fazendo quase tudo o que quis, dentro dos limites que me eram dados, até que saí e fui me confrontar com outros tipos de limites. Eles sempre existirão, afinal, e fazem parte de viver junto. Só a solidão permite que a gente seja, num certo sentido, livre de verdade. Bom, mas e daí? O que fazer com essa liberdade, a liberdade que se estabelece na ausência do outro? Não há alegria no isolamento.

Crescemos e descobrimos que temos ainda mais regras pra seguir, mais situações e pessoas a quem dar satisfações. A independência está, agora, na possibilidade de escolher estas pessoas, que precisam comungar conosco o mesmo repertório, para que a angústia não participe do cenário. O contrato que sufoca e oprime merece ser desfeito, claro. Ao mesmo tempo, não é razoável imaginar que seremos felizes sem estabelecer nenhum tipo de compromisso, seja de que natureza for.

Aos 30, sabemos disso sem que ninguém precise dizer. A primeira década da juventude é uma delícia, mas ainda bem que passa.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A perseguição da vizinhança

Como falta solidariedade neste mundo. Minha professora de baile é uma pimenta, e estamos nós, as alunas, correndo pra dar conta do tanto de coisas que ela descarrega no nosso juízo a cada aula. Dito isso, estava eu, neste feriado, marcando uns sapateadinhos aqui em casa numa plaquinha de madeira que eu tenho, bem miudinha. Quase que tenho que dar voltas em cima de um pé só pra caber nela. Preciso marcar um milhão de vezes pra conseguir dançar sem pensar no passo, pra incorporar de verdade o baile ao meu corpo. Faz um barulhinho, mas é coisa pouca.

Bom, mas meus vizinhos do andar de baixo não estão nem aí pra minha evolução. Não se preocupam se eu chegar na aula de sábado com o sapateado ainda sujo. Só querem saber de ligar no meu interfone pedindo que eu pare de dançar, o que considero uma absoluta injustiça. É por essas e outras que gostaria mesmo de morar numa casa, com um espacinho na garagem pra eu montar meu tablado e colar meus espelhos. Infelizmente, não posso, por enquanto, pôr esse desejo em prática.

Vou levar a plaquinha pra Gravatá e treinar lá. Sábado, venho ao Recife para a aula e volto em seguida, ou seja, estou me dedicando! Mas meus vizinhos não estão nem aí, os insensíveis. É uma pena que as pessoas sejam tão intolerantes com o fazer artístico do próximo, cujo único pecado é fazer um barulhinho discretíssimo. Que puxa.

domingo, 28 de março de 2010

En los pueblos de mi Andalucía

Bom isso de aprender o porquê das coisas. Sempre fui ruim em matemática, e hoje acho que talvez seja porque ninguém explicava o motivo daquilo tudo existir, para que serviam as fórmulas, nem como os matemáticos haviam chegado até elas... Bom, mas também pode ser só falta de jeito mesmo.

Anyway, queria mesmo era falar sobre o curso de estrutura de baile flamenco que fiz ontem à tarde. Danço há uns 15 anos, já, com muitos intervalos no meio do caminho, mas nunca, de fato, fui apresentada à base das estruturas musicais com as quais aprendi a conviver. Bailamos tangos, sevillanas, alegrías, bulerías. Mas cadê saber distinguir a diferença entre elas, assim, só de ouvir?

Via, em shows, os bailarinos entrarem junto com os músicos, às vezes sem conhecer aqueles músicos, e a dança funcionar. Sabia que tinha uma estrutura para cada baile que permitia isso, mas não entendia bem cada uma delas. Para os espanhóis, tudo é muito natural, mas a gente precisa ir lá na base para compreender exatamente os palos, como eles chamam os diversos ritmos de flamenco que existem.

Ontem, conheci a seqüência que devemos imprimir a cada palo, a cada baile. Comecei a deixar de bailar apenas intuitivamente e subi um degrau bem importante. Faltam muitos, ainda, são muitos bailes, muitas técnicas para aprender. Já sei, no entanto, que quando o cantaor começa seu cante, o baile o reverencia, e não sapateia, não cobre a voz dele com o som dos pés. Sei que chamamos o guitarrista com o sapateado, sei onde estão os silêncios, os braceados, pelo menos dos palos mais bailados.

Fiquei tão feliz por começar esse estudo, mais aprofundado, mais consistente. Senti como se estivesse mudando de paradigma, iniciando minha evolução. Minha meta, agora, é chegar prum guitarrista, na hora da apresentação, e dizer assim: "vou dançar duas letras de tango", e começar e terminar meu baile junto com ele, brincando, me divertindo. Tô no caminho!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Conselho

Essa musiquinha é de Almir Guineto, grande sambista. Seguindo a lógica do antepenúltimo post, não temos mesmo tempo pra viver mal, meu povo.

Conselho

Deixe de lado esse baixo astral
Ergua a cabeça enfrente o mal
Agindo assim será vital para o teu coração
É que em cada experiência se aprende uma lição
Eu já sofri por amar assim
Me dediquei mas foi tudo em vão
Pra que se lamentar
Se em tua vida pode encontrar
Quem te ame com toda força e ardor
Assim sucumbirá a dor
Tem que lutar
Não se abater
Só se entregar
A quem te merecer
Não estou dando nem vendendo
Como o ditado diz
O meu conselho é pra te ver feliz

quinta-feira, 25 de março de 2010

Chila relê domilindró

Estava assistindo a um MTV na Estrada antigo, com o pessoal da Nação Zumbi ainda na era Chico Science. Fiquei ali, olhando Chico falar, e pensando, fazendo conjecturas. Até onde será que ele teria ido, com todo aquele talento? Sim, porque tudo era tão novo, e mesmo assim já fazia tanto sentido. Lembrei do tempo em que víamos os meninos da "cena mangue" por aí, em todo lugar, fazendo shows na Soparia, na UFPE, na Fun House. Como nós, que passamos dos 30, somos privilegiados por termos vivenciado de perto aquele movimento.

Chico tinha, então, uma percepção rara e particular do que estava fazendo ali. Não se tratava de marketing, de autopromoção, apenas. Tratava-se de comunicação, que, no caso dele, era construída através de palavras, melodias e movimentos. Ele falava, e a gente ouvia. Lembro do meu irmão chegando em casa com o primeiro CD de CSNZ, Da Lama ao Caos. Não entendi muito, a princípio, mas gostei rápido. Era uma coisa quase pirata, que foi passando de mão em mão, boca a boca, até que ganhou a cidade, o Estado, o mundo. E a gente, que não estava acostumado, começou a achar a nossa terra um lugar muito legal. Toda semana, nossos amigos estavam na MTV, e a MTV, naquela época era, de fato, uma vitrine para os bons. Ficávamos orgulhosos que só.

Mérito de Chico, e de todo mundo que estava junto, construindo essa história, hoje a gente acha muito normal que digam que Pernambuco é o Estado mais interessante do país, principalmente no que diz respeito à cultura. Agradecemos, e seguimos em frente, sem deslumbre, contando nos dedos dos pés, das mãos, e nos dedos dos vizinhos, o tanto de gente boa e talentosa que nasceu e cresceu aqui. Eita, perdemos as contas, pessoal. Fazer o quê?

quinta-feira, 18 de março de 2010

Benção da felicidade medíocre

Vivo às voltas com temas relacionados a coisas muito importantes, que mexem com o destino de muita gente. Trabalhar no governo tem disso: ficamos próximos a informações e situações que terminam, de uma forma ou de outra, interferindo na vida de todo mundo. Por outro lado, também dou aulas; preciso ser sabida pros meus meninos, que estão aprendendo uma profissão, e motivá-los, e ajudar a educá-los. Pois bem. Às vezes, essa profundidade toda cansa; a responsabilidade é grande, e os problemas, complexos.

Nessa hora, ainda bem, surgem os pequenos eventos que nos permitem viver - conheci o termo através das meninas do 02 Neurônio - a felicidade medíocre. São coisas bestas que fazemos e nos alegram sobremaneira. A mim, por exemplo, ir ao salão de beleza e fazer a unha me deixa felicíssima. Principalmente se a manicure é boa, não tira bife e pinta sem borrar. E a cor do esmalte fica linda na mão. Alegria total. Ontem fiz as unhas e os cabelos. Foi ótimo.

Bom também é ouvir uma música bem boa, pra cantar junto. Decoro letras com muita facilidade e adoro dirigir cantando. Pronto - já basta pra injetar um pouquito de felicidade medíocre na veia. Ir almoçar num lugar legal e usufruir das coisas chiques que a vida oferece (infelizmente, não a todo mundo)- adoro. Uma vez, comi num bistrôzinho ultrachiquérrimo em São Paulo, e me senti a própria Audrey Hepburn, com sua elegância irretocável, caminhando por aí.

Tomar um banho e me arrumar bem muito, e escolher a roupa com todo o cuidado, e gostar do resultado, mesmo que seja pra ir trabalhar, no mesmo lugar de todos os dias. Isso é muito divertido; sempre gostei de combinar peças de roupas e pensar sobre o tema, e ir variando as composições. Tenho muitos vestidos e acho que eles são lindos, muito femininos.

Ou seja: as tais coisinhas fúteis que dão leveza ao cotidiano são supérfluos mais que necessários. Não dá pra ser profundo e tenso todo o tempo, senão a gente morre de infarto. E vira um chato de galocha, daqueles que ninguém agüenta por perto. Portanto, reservo-me o direito de ser besta vez em quando. Tenho dito.

* Hoje soube que minha amiga Dani está grávida e amei a notícia. Parabéns linda Dani, tudo de bom pra o bebezinho que chega! Que delícia é um bebê... Mas esse é tema pra outro post.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Nascimento Silva, 107

Vinicius de Moraes sempre me emociona, a despeito de toda a farofa em seu entorno. Suas andanças pela música popular, deliciosas, causaram tantas distorções, tantos entendimentos precários, descontextualizados. Pena. Porque Vinicius é gênio na tradução dos sentimentos, na sensibilidade com que reproduz vivências, sensações, afetos, delírios. Tão humano, tão cheio de defeitos. Feito a gente.

Olha só que lindo. Foi Vini quem escreveu:

Carne

Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas
Que importa se existe entre nós muitas montanhas?
O mesmo céu nos cobre
E a mesma terra liga nossos pés.
No céu e na terra é tua carne que palpita
Em tudo eu sinto o teu olhar se desdobrando
Na carícia violenta do teu beijo.
Que importa a distância e que importa a montanha
Se tu és a extensão da carne
Sempre presente?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Há males...

Nem tudo que parece é, diz a sabedoria popular. Particularmente, nem tudo que parece ruim, é de fato ruim. Falo isso porque estou adorando, neste momento, ouvir o CD de Otto. "Certa manhã acordei de sonhos intranquilos" é o título do bichinho.

O CD é massa. Diz ele, o próprio Otto, que o trabalho, de certa forma, acompanhou a sua separação da ex Alessandra Negrini. As músicas são um reflexo claro desta circunstância - e a fossa do galego terminou se transformando em um catalizador maravilhoso de criatividade e sensibilidade.

Tem uma música que diz assim: "Quando eu perdi você/ganhei a aposta". Quer mais? Lá vai: "e até pra morrer/você tem que existir". Ui.

domingo, 7 de março de 2010

Fervendo

Ai, que calor. Nunca senti tanto calor como agora, nestas paragens recifences. Qualquer movimento, mínimo que seja, é motivo para suar em bicas. Ontem, no flamenco, 11h da manhã, parecia que a gente estava dançando em cima de brasa, a despeito da quentura que já é parte do repertório andaluz. Saía fumacinha dos nossos juízos gitanos.

O jeito é ficar parada. Imóvel. Estática. Sexta feira, peguei um táxi, correndo, pressa pra chegar ao trabalho. O carro do homem estava com o ar-condicionado quebrado. Desejei que ele tivesse uma dor de barriga histórica, por não ter me avisado a tempo. A viagem foi ruim. Terrível. Que calor do cão.

Estou suando agora, escrevendo este post. Vou parar, pra que o movimento dos meus dedos nas teclas não piore este calor fundamental que estou sentindo. Sorte a desse povo que mora em Vancouver. Inveja de quem participa das Olimpíadas de Inverno. E a inveja não é um bom sentimento.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Oh, céus

Mais uma das crianças, voltando da escola, no carro:

Júlia, a minha filha mais velha, 10 anos: "eu e as meninas lá da sala vamos criar um fã clube para o irmão de Gabriel. Ele é muito lindo!"

Alice, a pequena, 4 anos: "ele tem músculos?"

Ai, Jisus.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tonada de Luna Llena

Yo vide una garza mora
Dándole combate a un rio
Así es como se enamora
Tú corazón con el mio

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante...

Anda muchacho a la casa
Y me trae la carabina
Pa' mata este gavilán
Que no me deja gallina

La luna me está mirando
Yo no se lo que me ve
Yo tengo la ropa limpia
Ayer tarde la lavé

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante...

segunda-feira, 1 de março de 2010

O homem e a menstruação

De vez em quando acho que estou grávida, e fico louca, porque já tenho filhos suficientes pra uma vida. Não há nenhum motivo concreto que justifique essa sensação. Os contraceptivos necessários, fazemos uso deles, mas mesmo assim... Sempre acho que o destino há de me pregar uma peça, e serei eu uma daquelas exceções que vai parar no Fantástico. Então, ao contrário de muitas mulheres, fico muito feliz em menstruar, acho uma maravilha.

Não que eu adore a menstruação em si, mas o alívio que ela traz. Não sinto dores nem desconforto, o que é ótimo. Meu marido, no entanto, age como se eu fosse morrer de hemorragia a qualquer momento. Ele diz: “está prevenida? Olhe, vai que você menstrua na hora da reunião...” Explico que não vou jorrar sangue, que não é bem assim, que o corpo avisa quando a coisa vai acontecer... Ele entende mais ou menos. Não é privilégio dele.

Uma vez, uma conhecida me contou que, na fila do consulado americano para tirar o visto, aquele estresse do cão, pediu ao guarda pra entrar e ele deixou – motivo: ela disse que tinha acabado de menstruar. Ele arregalou o olho e, diante do absoluto desconhecido, abriu a porta. Ela tirou o visto na frente dos coitados que estavam torrando ao sol na fila.

Está claro que os homens têm medo das mulheres menstruadas, por algum motivo que deve ser ancestral. E olhe que tudo hoje é muito menos misterioso do que já foi um dia, mas não adianta, o medo persiste. Só nos resta, pois, aproveitar a chance e furar umas filinhas de vez em quando.

Flamenco

Finalmente, depois de tanta espera, consegui achar uma professora de flamenco daquelas! A bichinha é baiana, e virada. A primeira aula aconteceu neste último sábado, e, como a turma já tem uma base, avançamos rápido, no ritmo bom de quem quer mais é chegar logo no destino. Foram duas horas que passaram voando, e eu nem senti que o sol lá fora convidava a ir à praia... Delícia.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Diário

E não é que estou só na minha sala do trabalho, quiçá sozinha em todo o prédio da secretaria? Momento raro. Minhas filhas reclamam do meu horário estendido, e eu sei que elas têm razão, são muitos dias chegando tarde em casa... Prometo a mim mesma que será o último semestre com essa carga horária desumana. Fiz uma prova, ontem, para a qual não tinha me preparado especialmente. Talvez eu passe, e aí é que a coisa vai pegar, porque terei que descer do muro. Bom, mas ainda não passei, portanto, nada de contar com o ovo antes da hora. Não gosto de fazer isso e não faço, a decepção termina sendo sempre maior. Notícia boa: parece que surge no horizonte a possibilidade de voltar a fazer aulas (aulas mesmo) de flamenco. Aguardando o contato da professora para reincorporar à minha vida esse hábito que me faz tãããão bem. E esse post ficou com a maior cara de querido diário. Oh, céus.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Fim do Mundo

Um professor colega, viciado em Discovery Chanel, chegou inconformado na sala dos professores da Faculdade: "Gente, é só até 2012!". Segundo ele, as profecias de Nostradamus, certeiras, vêm se confirmando ao longo dos tempos, e o fim do mundo é pra daqui a dois anos. Não adianta espernear. São dois anos, nêgo, pra tu fazer o que pretende nesse mundo em extinção. Corre, pessoa.

Se bem que, nestas circunstâncias, o melhor mesmo é planejar pouco. Adianta, sabendo que não vai dar tempo de concluir os projetos? Outra professora disse que iria "tocar o terror", seja lá o que isso signifique. Humanos que somos, ficamos pensando em fazer um monte de dívidas que não precisaremos pagar (supondo que temos o privilégio de saber que o mundo vai acabar antes de todos os outros), em viajar sem destino, em tomar todas, em viver de seguro desemprego, em pegar geral por aí.

Resumindo: a humanidade, do jeito que a conhecemos, só existe porque tem a perspectiva do amanhã, da culpa e do castigo. De outro modo, íamos morrer todos, antes dos 20, de doenças venéreas ou do fígado, afogados na irresponsabilidade cotidiana. Ô, miséria.