quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Paz no Coração

Unhas cor de mertiolate, cabelos cortados e escovados para receber o ano que chega. Estou assim, aguardando o porvir. Planos definidos, alguns; outros, ainda não. Os últimos dias foram divertidos, de conversas amenas e risadas fáceis. Encontrei com a turma do colégio. Engraçado como, nesses casos, há duas situações bem evidentes - com algumas pessoas, parece que o tempo não passou. Os temas surgem sem esforço, a conversa flui. Com outras, é justamente o contrário - a sensação é de que nunca houve nenhuma interseção.

Bom é sair e encontrar com gente leve, pra ficar contaminado com a leveza também. Ando meio sem paciência pra afetos muito exigentes. Em contrapartida, também não tô exigindo muito de ninguém. Quero mais é paz no coração, dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender. Um incrível 2010 pra todo mundo!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Coctel de Morango

Minha filha Julia resolveu ter um blog, cujo nome é coctel de morango, escrito assim mesmo. Subtítulo: desenhos e histórias da minha vida. Não preciso dizer que achei muito lindo. Sem mais delongas, segue o primeiro texto que ela postou:

Eu adoro littlest pet shop tenho 51 deles! sao cachorrinhos,gatinhos,ratinhos,passarinhos...tem de todos os tipos,de todas as cores,modelos e tamanhos tenho o album de figurinha deles e tal mas agora que estou de ferias tenho tempo de arrumar as cidades que eu invento existe nevasca,littlelandia,reino cheiroso,campo iluminado...tudo isso veio da minha cabeça,minha amiga gabriele tem 93!!!agora diga,quem é mais fanatica por eles?uma coisa eu sei!ela adora inventar lojas,produtos tudo que usamos pra littlest pet e é realmente divertido!

O que posso fazer? tenho só 10 anos.

A gravidez

Alice agora cismou que não quer crescer para não ter que ficar grávida. Detalhe: ela tem quatro anos. “Tem que cortar a barriga, mãe, e sai muito sangue!”, argumenta. Por mais que eu diga que, se cortar, o médico dá anestesia, e que um bebezinho fofo compensa tudo, ela não se convence. Insisto: “filhote, você não precisa se preocupar com isso agora. Você é ainda muito criancinha!”. Mesmo assim, ao falar sobre uma provável futura gravidez, ela começa a emitir um quase choro e é veemente em afirmar que não vai encarar. Só pode ser coisa de vidas passadas. A conversa sobre o tema é deveras surreal, concordo, mas não deixa de ser também divertidíssima! Adoro.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Mulher e o Choro

Mulheres choram fácil. Isso às vezes pode ser um problema (se acontece no ambiente de trabalho, por exemplo), mas, na maior parte do tempo, serve muito bem ao propósito de desabafar, destensionar, limpar os olhos. Choramos por coisas sérias, seriíssimas, tipo perder alguém querido. Ou perder um emprego. Pero, também choramos por besteiras fundamentais: no trânsito, porque estamos com pressa ou com pouca gasolina; em casa, porque está tudo uma bagunça e nossos maridos não estão nem aí; no cinema, porque o filme é triste; escrevendo um email, porque o email ficou emotivo; de dor de cabeça; de raiva; porque estamos sem dinheiro ou porque perdemos alguma coisa e não conseguimos achá-la de jeito nenhum, nem apelando pra São Longuinho.

Chorar, pra nós, é como comer ou ir ao banheiro: uma coisa fisiológica. Mesmo assim, banal até a alma, o choro feminino ainda desconcerta demais os rapazes. Eles não sabem o que fazer, e, convenhamos, é mesmo difícil sacar se as lágrimas são relativas a questões de pouca ou muita importância. Tranquilizem-se, homens, se suas mulheres brigarem, reclamarem de vocês ou de outrem, num choro convulsivo e auto-explicativo. Preocupem-se, sim, se o choro for baixinho, e a resposta para “o que houve?” for “nada”. Aí é bronca.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Brigando

As crianças, no shopping, vésperas de fim de ano. Aquela muvuca. Elas fazendo bagunça. Briguei.
Alice: "mãe, você tem coragem de ficar brigando o tempo todo com a sua filhinha?"
Júlia: "Alice, brigar é o que os adultos sabem fazer melhor".

Pirralhas sublevadas. Era só o que faltava.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Fim de Ano

Há coisas muito legais acontecendo durante os eventos de fim de ano. Dezembro garante boas farras, com a desculpa de rever amigos; a gente também aproveita pra dar aquela limpada nos armários (inclusive os espirituais) e jogar fora o que não serve mais; as crianças ficam alegres com a perspectiva de encontrar Papai Noel e ganhar todos os presentes desejados - muito fofo.

Mas, por outro lado, temos que participar de tanta coisa chata que às vezes a vontade é de dormir até chegar o ano novo. Exemplo: encontros com pessoas com as quais você não tem a mínima afinidade. Vou a um da escola da minha filha menor. Na programação, amigo secreto daqueles de trocar presente mil vezes e recreação para os pais! Odeio, odeio, odeio. Nas festinhas das minhas crianças, é proibido chamar pai e mãe pra brincar. Jamais fiz uma festinha infantil sem bebida alcoólica, aliás – acho um crime. Mas já fui obrigada a estar em algumas só à base de guaraná. Ossos do ofício.

Por falar em ódio, vou fechar o texto com uma lista de coisas detestáveis, pra ver se elas, no ano que vem, ficam longe de mim:
1. Cantadores de viola (me falta a paciência)
2. Dinâmicas de recursos humanos (nunca vi nada mais imbecil)
3. Amigo secreto com troca-troca de presentes (muito melhor o tradicional, aquele do papelzinho dobrado)
4. Mãe de aluno que me chama pra conversar (eles são adultos! Amazing)
5. Ter que ser solidária no natal (não é pra ser sempre?)
6. Gente com autopiedade (geralmente são os mais FDP)
7. Poetas marginais cometendo poesias (se for recital, então...)
8. Gloss grudento (a gente fica parecendo que comeu galinha com “graxa”, como diz o matuto)
9. Cadernetas da faculdade para preencher (fico tonta com aquelas listas todas)
10. Porteiro pedindo “a festa” (quem vai me dar a minha “festa”?)

Lamentável.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Razão e Sensibilidade

Ontem estava vendo um filme sobre um clube do livro formado por leitores de Jane Austen. Que delicinha de filme. No fundo, as questões trazidas, sob o pano de fundo das histórias de Austen, cheias de conflitos mudos, com personagens super ingleses que nunca dizem o que, de fato, querem dizer, são as de sempre: gente e relações humanas. As pessoas se encontrando, depois se desencontrando, depois se encontrando novamente, com as mesmas pessoas ou com outras pessoas.

Tão lindo o casal que se forma a partir de uma moça difícil, ensimesmada, complicada e um menino leve, tranqüilo, persistente. Legal a história da menina intelectual casada que, na última hora, desiste de ter um caso com um aluno e convence o marido, que gosta mesmo é de jogar videogame, a ler “Abadia de Northanger”. E ele adora.

Há ainda uma bela moça lésbica, que troca de namorada toda hora e sooooofre... até se apaixonar de novo; um casal que se separa porque o marido enamorou-se de outra, e depois reata, iniciativa dele, sob novas bases; uma mulher de meia-idade muito feliz, tão feliz que termina o filme casando-se com seu sétimo marido.

Foi um fim legal de um domingo idem.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A Lista

A Revista TPM, única publicação do gênero que vale a pena, faz sempre, e eu adoro: lista de fim de ano, com os melhores e piores do período. Segue a minha, pessoal e intransferível (lembrando que os itens não estão dispostos por ordem de importância):

MELHORES
1. Amigo que reencontrei; novos amigos que fiz
2. Curso de flamenco com Rafaela Carrasco
3. Almoço (solita) num bistrô na Oscar Freire
4. Viagem a Tibau do Sul
5. Os filmes Vick Cristina Barcelona e Bastardos Inglórios; o seriado True Blood
6. Ensaio de Rodrigo Santoro na TPM (ele é hours concours)
7. Volta ao Pilates
8. Conversas com as filhas
9. Show de Caetano
10. Meu sofá novo

PIORES
1. Reveillón em Serrambi
2. Carnaval em Maceió
3. "Amiga" que não era amiga
4. Ressaca de vinho
5. Carro que bateu o motor em São José do Egito
6. Desencontros e cobranças
7. Imposto de Renda
8. O aniversário de João Paulo
9. Fim de True Blood - esperando a nova temporada!
10. Burrice, sempre

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Poema bonitíssimo

"...!Que largo camino anduve
Para llegar hasta ti,
Y que remota te vi,
Cuando junto a mí te tuve!
Estrella, celaje, nube,
Ave de pluma fugaz,
Ahora que estoy donde estás,
Te deshaces, sombra helada:
Ya no quiero saber nada;
Yo sólo sé que te vas..."

Nicolás Guillén

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A eloqüência dos silêncios

Escrevi esse texto por ocasião das comemorações em torno de Machado de Assis, em setembro de 2008, para a Revista Continente. Achei que valia a pena publicá-lo de novo.

As recentes comemorações em torno da efeméride machadiana suscitaram, entre os que analisaram sua obra, poucas unanimidades. Uma delas, porém, dizia respeito às possibilidades de interpretação que o autor permite em seus textos, tão variadas que até hoje são elas os principais objetos de investigação entre acadêmicos, teóricos e críticos. As dúvidas, neste caso, estão relacionadas muito mais ao que se cala do que ao que se diz. Os não-ditos impulsionam a ação ou a paralisia das personagens, e ultrapassam a obra inoculando no leitor a mesma vontade de saber, que não se concretiza. A ignorância, porém, em muitos momentos revela-se menos desagradável que a certeza, e ficamos felizes assim, apostando que a história vai seguir pelo caminho que nos parece correto ou lógico.

Alguém poderia dizer que o contexto da época por onde transitavam as personagens de Machado necessariamente evocava situações que tais. Será? Se é verdade que hoje o comportamento social aceito (estimulado?) traduz-se em infinitas possibilidades de dizer, ancoradas por uma necessidade esquisita de exposição que não se limita à intimidade dos envolvidos, é também verdade que as relações humanas, ainda assim, são entremeadas por silêncios. Comunicar-se segue sendo um exercício de inferências e deduções, e, como tais, às vezes acertadas, outras completamente equivocadas.

Trazendo a questão para a contemporaneidade, lembrei do filme "Uma relação pornográfica", onde o casal protagonista, absolutamente (pós) moderno em sua resolução de se relacionar apenas sexualmente, é vítima do silêncio acordado de antemão. Os não-ditos do filme remetem, em um certo sentido, ao conto "Missa do Galo", ambas as obras sublinhadas pela imobilidade resultante da comunicação insuficiente. Todo o diálogo que ocorre, nos dois casos, é mudo - uma conversa cujas respostas são apenas imaginadas. O desfecho, frustrante para nós, leitores e expectadores, também é provocador: a vontade que dá é de sair destilando revelações e verdades por aí, esquecendo a proteção que as máscaras nos dão.

No filme, a relação, antes apenas física, passa a ser de amor. O desejo se concretiza, mas o amor não, fadado que está à interpretação unilateral dos envolvidos. Na prática, nenhum dos dois tem coragem de dar o primeiro passo e assumir que ama, preocupados demais em não deixar transparecer a vulnerabilidade que o sentimento provoca. Se somos também o que os outros pensam de nós, o casal, que se supunha não-amado, torna-se não-amado de fato. O que não se diz ou não se faz, não existe, afinal. O mesmo silêncio que envolve a dupla machadiana destrói a possibilidade neste caso. Estarão eles evitando, assim, um sofrimento maior no futuro? Talvez, mas não conseguimos evitar, personagens, leitores e expectadores, a sensação angustiante de vida vivida pela metade. Cabe a cada um descobrir em qual dos dois mundos prefere transitar.