terça-feira, 25 de junho de 2013

As mulheres, os homens e as danças em par

Já escrevi outras vezes sobre as diferenças na relação de homens e mulheres com algumas coisas e situações  típicas dos universos de gênero. Futebol, menstruação, choro e não sei mais o quê foram temas de posts neste blog. Desta vez, palpitam em minha mente comentários e análises acerca da dança em casal, que difere sobremaneira no entendimento de machos e fêmeas.

A maioria das mulheres que conheço gosta de dançar. Ponto. Dançar simplesmente, sem impor para a dança um significado outro que não seja mexer o corpo ao som de música. Para as danças em casal, a lógica é exatamente a mesma, com a ressalva de que, se você gosta e tem aptidão para o baile, melhor coisa do mundo é dividir a pista com quem está na mesma sintonia.

Estive numa festa de São João onde havia bailarinos profissionais contratados para dançar com as moças convidadas. Arrisco dizer que é das ideias mais geniais de todos os tempos desde a invenção da máquina de lavar roupas - a pessoa dança com quem sabe o que está fazendo, não aperreia ninguém e ainda se diverte muito, muitíssimo. Nas danças de salão, faz toda a diferença um parceiro que saiba conduzir - o potencial das mulheres que gostam e têm jeito pra coisa é explorado em toda a sua magnitude.

Para os homens, a dança é, mais das vezes, uma forma de aproximação, um jeito de encostar o corpo naquela cidadã que lhes chamou a atenção. Por isso, nem sempre eles entendem que o fato da gente querer dançar com completos estranhos resume-se só e simplesmente à excelência do bailado destes senhores-exímios-bailarinos. Não queremos nada mais que isso - a dança é maior que as pulsões, ora bolas. Pra mim, pelo menos, é.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Girl Power

Me dano quando dizem que entre mulheres não há solidariedade, que as mulheres só competem entre si, que não se gostam de verdade, blá, blá, blá. Sempre achei esse um discurso machista, disseminado mundo afora por homens que preferem que as mulheres não se unam, porque é claro que, juntas, temos mais força. E sim, precisamos de força, precisamos ser gregárias, porque o mundo é ainda muitíssimo desigual. Nunca vi ninguém chegar em lugar nenhum como grupo sem agir coletivamente. Os nossos problemas mais graves são os problemas de todas as mulheres, basicamente. Quem não enxerga isso, sorry, é cego, burro ou pilantra mesmo - ou seja, não enxerga porque encontra vantagens em não enxergar.

Essas reflexões me surgem a partir do happy hour da última sexta-feira, que compartilhei com meninas de quem gosto demais e a quem eu quero muito bem; e da entrevista que li com Daniela Mercury e Malu Verçosa. Elas comentavam sobre o fato de a intolerância quanto às escolhas sexuais das pessoas estar muito vinculada ao machismo histórico que nos engole cotidianamente. É incrível observar que, por mais que briguemos contra, por mais que o nosso discurso doméstico diga o contrário, nossas crianças absorvem e reproduzem atitudes sexistas, mesmo que elas sejam meninas - o mundo faz isso com elas.

Insisti peremptoriamente com minha teenager girl que Taylor Swift não é uma pessoa sem caráter porque namorou vários meninos que depois do fim do namoro ficaram perdidos de amor por ela. Foi difícil argumentar com ela que os carinhas das boy bands não eram coitadinhos dilacerados por uma monstra sem coração - falei que os rapazes estavam ali por vontade própria. e que os relacionamentos terminaram como terminam os relacionamentos, talvez de forma um pouquinho mais dramática e rápida porque, afinal, eram namoros adolescentes. Certa hora, ela disse: "ah, mãe, tá bom de tanto feminismo". Pra quê? Falei mais meia hora. Tá bom nada. Não percorremos nem metade do caminho ainda.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A mocinha da Hering

Precisava comprar um presente pra minha sobrinha, que faz aniversário amanhã, e dei uma passada no Tacaruna na hora do almoço. Depois de comer rapidinho, entrei na loja de brinquedos, fiz a compra, levei uns relógios pra consertar (dizem que relógio parado em casa é um perigo; quem sou eu pra ir de encontro a essas certezas justo no mês de junho?). Antes de ir embora, passei na frente da Hering, e vi uma saia longa - não era exatamente do jeito que eu queria, mas como estou meio louca pra comprar uma saia longa, perguntei se tinha tamanho P para a mocinha vendedora.

Tinha uma P, mas estava pendurada. Roupa de malha, pendurada num cabide desses que marcam, compro não. Sorry, lojistas. Perguntei à mocinha se havia alguma peça no estoque - e ela super me entendeu, registrou na hora que o problema era a roupa estar meio marcada e esticada. Ela subiu, demorou um século, e voltou dizendo que não tinha. Eu perguntei se havia outra estampa, enfim, outra possibilidade. Ela subiu de novo, e voltou com a mesma saia pendurada, que eu tinha visto ela pegar, inclusive, dentro de um saco, dizendo: "achei".

Fiquei passada com a cara de pau. Peguei a saia, olhei pra ela e disse: "meu amorzinho, essa é a mesma saia que eu disse a você que não queria. Obrigada, mas com você não compro mais nada". Ainda fiquei achando depois que eu devia ter chamado a gerente dela pra registrar minha indignação, mas depois pensei que talvez seja essa a orientação dada pela própria (gerente) às vendedoras. Pelo menos ela podia ter sido mais discreta, né? Pela madrugada. Sou idiota não, minha filha. Sorte a dela que eu não estava a fim de exercer meu direito ao protesto. Protesto anda muito na moda demais, tenho pânico dessa energia da boiada, que nunca há de dominar a minha vida.

Hering do Tacaruna, entretanto... Não verá mais o meu suado dinheirinho.

domingo, 9 de junho de 2013

Nuvem

Uma vez escrevi, a respeito das comemorações relacionadas aos 100 anos de morte de Machado de Assis (acho que o mote era esse), sobre como podemos inviabilizar a nossa comunicação interpessoal, mesmo falando a mesma língua e comungando do mesmo código cultural. Refletia então sobre como às vezes as pessoas se perdem umas das outras por não conseguirem dizer, por dizerem de forma equivocada, por serem mal entendidas.

Há teóricos da linguística que defendem um ponto de vista radical - dizem eles que a comunicação não existe. Os falantes dizem o que querem ou o que acham que querem; os ouvintes entendem como podem. No meio dessa confusão, estaríamos todos conversando com nossas próprias pequenas ou grandes loucuras. Temo que esta análise não esteja assim tão distante da realidade. Como é difícil tratar de temas sérios sem agredir, em algum momento do discurso, ainda que esta não seja absolutamente a sua intenção.

Mais difícil ainda é não interpretar a fala do outro, e eventualmente sentir-se ofendido por ela; mesmo que este outro esteja buscando consenso e entendimento. O problema é que queremos, todos, o entendimento segundo o que consideramos bom e justo, e esta premissa é pessoal e intransferível. A subjetividade presente nos textos, em quaisquer textos, é tão imensa que me parece impossível dizer, de forma exata, aquilo que pretendemos. Porque o interlocutor vai entender do jeito dele, do jeito que ele consegue - do jeito que ele deseja.

E aí, quando fala o desejo, ficamos todos mudos.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fundamentalismos e fundamentalistas

Não posso conceber que alguém que trabalhe com comunicação assuma posturas monológicas, parafraseando a linguística. Falar sozinho, me parece, ou é coisa de ditador ou de doido. Estes últimos, respeito muito mais, aliás. Mas a doidice tem que ser legítima pra eu gostar, viu, pessoal? Doido que só é doido pra se dar bem e não rasga dinheiro, no fundo, no fundo, de doido mesmo não tem nada.

Eliminada a possibilidade da doidice real, sobra o fundamentalismo de ocasião. Delírios de senhor de engenho, acostumado a dar ordens e vê-las obedecidas sem questionamentos, aguento não. Não vim pra esta vida pra desperdiçar meu precioso tempo com discussões inócuas, muito menos pra "obedecer" aos desígnios de quem se acha detentor dos saberes do mundo. A discussão é válida quando serve a um propósito, não quando se transforma em queda de braço com o único objetivo de afirmar as "razões" absolutistas de alguém.

Engraçado que estas reflexões surjam a partir de um ambiente que se propõe a debater e trabalhar pelos "direitos humanos". Engraçado mesmo.