terça-feira, 24 de abril de 2012

Central Constancia

Hoje estava ouvindo Marina de La Riva, e exercitando um pouco minha porção cantora, que não é lá esses balaios mas pelo menos é afinadinha. Animei-me um pouquinho mais quando meu (do flamenco) violonista Eduardo não me desabonou completamente. Minha voz é pequena e não vai longe, mas meu marido acha que eu fico tímida ao cantar e por isso ela não sai. Sei não. Deixa essa missão pra Marina (a cubana), que é um espetáculo. Lindo é ela interpretando esta canção aqui:

Me permite Señorito
Bailar esta con usted
Desde aquí lo había observado
Baila usted muy bien, muy bien
Haremos una pareja
Muy difícil de igualar
Y envidioso todo el mundo
Se podrá vernos bailar
Pero olvidemos al vulgo
Que al fin no tiene importancia
Bailemos en el Constancia
Hasta que se acabe el mundo
Me voy p'al pueblo
Hoy es mi dia
Voy alegrar toda el alma mía

segunda-feira, 23 de abril de 2012

E eis que Paul arrasou

Não é toa que o cara integrava a melhor banda de todos os tempos. Paul McCartney fez valer todos os reais gastos no intervalo esquenta-táxi-show-táxi-jantar-táxi. Todo mundo besta porque ele não precisou de nenhum intervalinho pra descansar os ossos septuagenários, e eu besta porque o cara não tomou uma gota de água durante todo o espetáculo. O povo besta porque ele é "simples" e "simpático" e eu besta porque outros artistas geniais perdem um tanto da sua genialidade por não se comportarem com naturalidade em relação ao talento, fama, grana. Paul provavelmente não se recorda quando estes substantivos - talento, fama, grana - passaram a fazer parte da sua vida. Bom pra ele, que pode falar sem medo de errar: "se fui medíocre, desconhecido e pobre, não me lembro". E a vida passa a ser assim, e ele não tem nenhum motivo pra se deslumbrar com isso, minha gente. Fechação.

Como assim? - mudando de tema, mas ainda no show de Paul, registro aqui uma frase lapidar que ouvi de uma menina que não era pernambucana (pelo sotaque, cearense ou piauiense) enquanto esperava o espetáculo começar: "mulher, me espera aí que vou ali dar uma raparigadinha". Hein?

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Musicando

Tinha um monte de coisa pra comentar hoje, mas o destaque do fim de semana foi mesmo a imersão na música que fiz, junto com o violonista Eduardo Bertussi e minhas companheiras de baile. Engraçado, mas ao dançar a gente nem sempre se dá conta da importância do ritmo (sim, isso é possível!), das divisões matemáticas que a música contém, e de quão emocionantes elas podem ser.

Discutia com meu marido, músico também, e nossa Júlia comentou: "vocês aí falando de matemática, a música perde toda a graça". Maridón se empolgou: "é isso, isso é uma coisa que sempre me preocupou!" Mas depois de participar da oficina de Eduardo, não identifico esse perigo. Achei a música e a dança ainda mais fascinantes ao pensar sobre seus mecanismos internos e sua relação com o nosso corpo, com a nossa pulsação.

A arte, no fim das contas, amplia o alcance de tudo, e mesmo as improvisações, fraseados longos ou curtos, semitons e síncopes também fazem parte do imenso universo dos números, que um dia aquele professor de matemática chato da escola nos fez pensar que eram tão chatos quanto ele. Ouvindo os números impressos no baile é que aprendemos a dispensá-los na hora da interpretação. Ainda assim, eles estarão lá, traduzidos pela batida do coração.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Momento Saia Justa

Não, meu povo, não me refiro a algum espisódio de constrangimento em minhas relações pessoais, mas sim ao programa, ao Saia Justa do GNT. Adoro ver, porque adoro refletir sobre as coisas do mundo e é isso que aquele grupo de pessoas faz ali, junto, conversando. Assim, me dei conta dia desses que nunca mais postei nada reflexivo aqui no blog, o que talvez seja até um bom sinal. Anyway, fiquei com ganas de refletir sobre alguma coisa profunda e escrever. Estive buscando um mote, e como neste semestre estou ministrando aulas de jornalismo opinativo, preciso ainda mais de reflexão, que é pra ver se os meninos se encantam pelo formato.

Buenas, mas como diz Teles, tergiverso, e fato é que o mote não me veio fácil. Ando leve ultimamente, e a leveza deixa a gente mais raso mesmo. A profundidade caminha lado a lado com a melancolia, não dá pra negar. Desta feita, resolvi refletir porque a reflexão precisa de peso e circunstâncias meio tenebrosas pra existir. Não podemos pensar profundamente sobre as coisas enquanto curtimos uma prainha legal, na companhia de gente boa, cerveja, caldinho e amendoim? Protestemos contra a tristeza atávica dos poetas, dos filósofos, dos pensadores. Quero poder ser um ser pensante e solar, ao mesmo tempo, e acho possível, nem que seja pelo caminho do humor, da profundidade que se alcança com o riso e a brincadeira. Taí (ou estava) Millor que não nos deixa mentir.

Até problemas e situações que me afetavam muito andam me afetando menos. Ou é sabedoria, ou velhice mesmo, e se o efeito for bom não estou nem ligando para a causa. A ver. Engordei um pouco. Estou tensa com isso, é verdade. Vou me esforçar pra perder umas gramas, vou fazer mais exercícios. Mas não vou enlouquecer. Gosto mais de vinho do que tenho disposição pra evitá-lo, fazer o quê? Minha casa ainda não está do jeito que eu quero, e ainda não vai ser este ano que farei a viagem que estou planejando. Tudo bem. Menos pressa, mais tranquilidade, e as coisas vão se ajeitando.

Ando mais atenta às qualidades dos meus amigos, da minha família, e implicando menos com os defeitos - deles, e com os meus também. Administremos, pois, a realidade com uma dose a menos de melancolia e uma dose a mais de alegria. A grande sacada do milênio vai ser a conciliação entre reflexão e felicidade, e aí então seremos mais felizes, de verdade. Sem comercial de margarina, sem carro importado, sem rivotril, sem viagens a Dubai - com mais sol, mais praia, mais amendoim, mais crianças, mais vinho, mais Paris (em suaves prestações, why not?). Mais gente, menos personagens. É isso aí.