Domingo já não é um dia lá essas coisas. Com a perspectiva de uma consagração, numa igreja batista, fica um pouquinho pior. Bom, mas a tal consagração era da minha sogra, e a bichinha bem que merecia uma atenção – além do mais, ela falava nesse evento há dias, segundo husband, e ficaria magoada se não estivéssemos lá. Fomos. Clero tentava me convencer de que a coisa toda não seria assim tão ruim. Levamos as crianças, que haviam acabado de chegar de Gravatá.
Sentamos para assistir ao culto, que começou pontualmente às 19h. E o tempo foi passando... As meninas começando a ficar impacientes, eu também. Alice: “mãe, que horas isso vai acabar?” Eu: “já, já, filha”. Júlia, em sua pré-adolescência, ligou o celular pra jogar. Mandei desligar, por respeito às pessoas que estavam lá. Certa hora, 14 batismos depois, meu respeito foi diminuindo... Chega a hora da pregação do pastor convidado, já que a igreja estava em festa: o cabra começa a falar sobre a diferença entre a igreja que Deus quer e a igreja que querem os homens, blá, blá, blá. Como se fosse possível saber a diferença – quem é que diz o que quer Deus, não são os homens, cara pálida? Mas essa é uma outra discussão, e pra mim, a premissa da coisa toda já estava errada, portanto, discutir a partir dela seria pura perda de tempo e de saliva. O tal pastor fez mais de uma hora de discurso.
Bom. Mas não era momento para filosofar. Respirei fundo mais uma vez e pedi paciência às crianças, embora eu mesma já estivesse sem nenhuma. Mais meia hora, e resolvemos sair do culto, eu, Ju e Alice. Clero ficou lá, firme e forte, afinal já tinha vivido sei lá quantos anos indo à igreja todo domingo, de manhã e à noite, e a provação pra ele é relativa. Depois, quando deixou de ser batista, descobriu o quanto aquilo tudo é terrível, mas aí já tinha perdido tantas manhãs de sol que nem dá pra contar. Saímos, as mulheres, e ficamos resmungando, na porta da igreja. E as crentes olhavam pra gente, censurando.
As meninas com sede e fome, mas o guaraná só podia ser servido depois do culto. Fala sério - ô, pobreza (de espírito). Xinguei, e as meninas me acompanhando. Finalmente, duas horas e meia depois, acabou. Eu estava tão p da vida que não queria falar com ninguém. Dei um oizinho rápido à sogra e disse que tinha que sair correndo, pois Ju e Li tinham aula no dia seguinte. Não consegui disfarçar meu desconforto, claro. Sou péssima nisso, nos disfarces. Preciso melhorar para ampliar minha sociabilidade. Saí de lá com o firme propósito de nunca mais participar de eventos que tais, nem sob ameaça ou tortura. Marido já sabe, e está conformado. É isso ou me aturar chatíssima durante umas boas horas.
No carro, finalmente, o que salvou a noite foi o diálogo das crianças. Júlia: "Alice, você prefere vir de novo a essa
missa ou morrer na cruz?" Alice: "morrer na cruz".