sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Crônicas Femininas

Ganhei um livro muito interessante. Escrito por Clarice Lispector, reúne crônicas que ela escreveu, na década de 1950, para um jornal. Eram colunas destinadas às mulheres, com dicas de como se comportar, beleza, relacionamento... O de sempre. Mas o legal é que Clarice, embora reproduzindo, nos textos, o padrão de comportamento feminino de então, já avançava em temas bastante atuais.

Uma coisa que ela falou numa das crônicas gostei particularmente. Dizia Clarice que as mulheres sempre desejam um marido do tipo príncipe encantado, e esperam dos homens riqueza, beleza, atenção, afeto. Porém, nem sempre devolvem na mesma proporção que exigem. Segundo ela, muitas dessas esposas ou companheiras não percebem que são chatas, desagradáveis,descuidadas, desatentas. Concordo. Muitas vezes, por trás de um ogro, tem uma ogra daquelas.

Melhor, sempre, é a via de mão dupla. Afinal, já dizia São Francisco, é dando que se recebe.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mas o que diabo, afinal, querem as mulheres?

Adoro as colunas da coleguinha Flávia de Gusmão. Acho que ela é muito perspicaz, tem os dois pés na realidade e, ainda assim, não é amarga. Sou fã. Fim de semana passado, porém, tive que discordar um pouco dos seus argumentos. Dizia ela que as mulheres viveram durante boa parte da sua existência cobrando dos homens mais atenção, mais romantismo. E que era divertido cobrar isso deles. Hoje, entretanto, segundo Flávia, alguns rapazes estariam levando o pedido a sério demais, e já estavam cansando a beleza dos seus pares com tanta sensibilidade. Muitas ligações, muito amor, muita carência. E o resultado disso seria o mulherio binando os caras e reclamando para as amigas de “falta de espaço”.

Claro que alguém ligando pra você o tempo todo pra dizer nada é chato. Porém, se você está in love, quer mais é falar com a pessoa mil vezes por dia mesmo. Isso não é sufocante, não é desagradável. Marido preocupou, quando leu a coluna: “não vou deixar de ligar sempre não, viu? E vou continuar sensível, e tudo o mais, e tal e coisa”, disse, ao me ver rindo com o texto. Tranquilizei-o, ao confirmar minha opção pela atenção e pelo carinho. Se eu quisesse um ogro tinha casado com um, que é o que não falta no mundo. Os excessos são ruins, claro, mas não significa que estejamos pregando a volta do macho bebedor de cerveja-insensível-desatento-infiel-babaca. Longe disso. Também não acho que foi exatamente isso que Flávia quis dizer, mas a confusão de sentimentos e desejos nas mulheres, em geral, é evidente.

Estaríamos preferindo o provedor, em detrimento do companheiro que divide a vida, mas que não vai poder bancar todos os nossos desejos? Estaríamos querendo tanta farra quanto a que eles fizeram no passado? Como assim, se esperamos pedidos de casamento a seguir? Não dá pra ter tudo. E as mensagens dúbias só aumentam a confusão. Há moças que saem com um cara diferente dia sim, dia não, fazem cara de lobas superindependentes – tipo “não preciso de você amanhã, meu filho. Tenho um plano B”, e querem ser encaradas como possibilidade de relacionamento sério. Como, se dão a entender que estão bem assim, circulando? Quem é que vai bancar, ainda que seja o cara menos preconceituoso do mundo? Não é questão de reavivar pudores hipócritas, nada disso. Um ser são não entra numa furada se puder evitar, e se envolver com alguém escorregadio demais é furada, seja homem ou mulher.

Dito isto, os homens seguem sem saber se pedem ou não em namoro; se pagam ou não a conta; se ligam uma, duas ou nenhuma vez por dia; se dão presente ou não; se lembram ou não das datas importantes; se transformam a sua mulher numa companheira de verdade ou se continuam agindo feitos machos John Wayne. Na dúvida, rapazes, digo eu, e acho que um monte de gente vai concordar: optem pela delicadeza, pela gentileza, pela atenção sincera. Se a sua mulher não gostar... troque de mulher que essa daí é uma besta.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A treva - 2

Domingo já não é um dia lá essas coisas. Com a perspectiva de uma consagração, numa igreja batista, fica um pouquinho pior. Bom, mas a tal consagração era da minha sogra, e a bichinha bem que merecia uma atenção – além do mais, ela falava nesse evento há dias, segundo husband, e ficaria magoada se não estivéssemos lá. Fomos. Clero tentava me convencer de que a coisa toda não seria assim tão ruim. Levamos as crianças, que haviam acabado de chegar de Gravatá.

Sentamos para assistir ao culto, que começou pontualmente às 19h. E o tempo foi passando... As meninas começando a ficar impacientes, eu também. Alice: “mãe, que horas isso vai acabar?” Eu: “já, já, filha”. Júlia, em sua pré-adolescência, ligou o celular pra jogar. Mandei desligar, por respeito às pessoas que estavam lá. Certa hora, 14 batismos depois, meu respeito foi diminuindo... Chega a hora da pregação do pastor convidado, já que a igreja estava em festa: o cabra começa a falar sobre a diferença entre a igreja que Deus quer e a igreja que querem os homens, blá, blá, blá. Como se fosse possível saber a diferença – quem é que diz o que quer Deus, não são os homens, cara pálida? Mas essa é uma outra discussão, e pra mim, a premissa da coisa toda já estava errada, portanto, discutir a partir dela seria pura perda de tempo e de saliva. O tal pastor fez mais de uma hora de discurso.

Bom. Mas não era momento para filosofar. Respirei fundo mais uma vez e pedi paciência às crianças, embora eu mesma já estivesse sem nenhuma. Mais meia hora, e resolvemos sair do culto, eu, Ju e Alice. Clero ficou lá, firme e forte, afinal já tinha vivido sei lá quantos anos indo à igreja todo domingo, de manhã e à noite, e a provação pra ele é relativa. Depois, quando deixou de ser batista, descobriu o quanto aquilo tudo é terrível, mas aí já tinha perdido tantas manhãs de sol que nem dá pra contar. Saímos, as mulheres, e ficamos resmungando, na porta da igreja. E as crentes olhavam pra gente, censurando.

As meninas com sede e fome, mas o guaraná só podia ser servido depois do culto. Fala sério - ô, pobreza (de espírito). Xinguei, e as meninas me acompanhando. Finalmente, duas horas e meia depois, acabou. Eu estava tão p da vida que não queria falar com ninguém. Dei um oizinho rápido à sogra e disse que tinha que sair correndo, pois Ju e Li tinham aula no dia seguinte. Não consegui disfarçar meu desconforto, claro. Sou péssima nisso, nos disfarces. Preciso melhorar para ampliar minha sociabilidade. Saí de lá com o firme propósito de nunca mais participar de eventos que tais, nem sob ameaça ou tortura. Marido já sabe, e está conformado. É isso ou me aturar chatíssima durante umas boas horas.

No carro, finalmente, o que salvou a noite foi o diálogo das crianças. Júlia: "Alice, você prefere vir de novo a essa missa ou morrer na cruz?" Alice: "morrer na cruz".

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A treva

Digamos que o fim de semana foi, assim, sui generis. Deveria ter sido ótimo, poderia ter sido péssimo, média 5,0. A semana anterior já havia rendido alguns aborrecimentos, potencializados pelos hormônios, capazes de diminuir sobremaneira a racionalidade de uma pessoa. Mas, ok, havia pela frente a perspectiva de um sábado divertido, pois eu e minha dupla estávamos sem as crianças e planejávamos mil programas. Eis que, já na sexta, pego a gripe que já rondava meus familiares. Dor de garganta; a cada golinho de vinho, piorava. Desisti.

De qualquer forma, resolvemos manter a saída do sábado de manhã, que era ir ao Mercado da Encruzilhada comer no português, que eu ainda não conhecia. Achei que ia ser uma coisa com cara de farra e clima de férias. Logo na chegada, porém, percebi que minhas expectativas estavam superdimensionadas. Lugar pequeno, feio e sujo. Garçonetes feias e grossas. Não as culpo, já que o dono do estabelecimento, o tal português, é infinitamente mais grosso que elas. Até aí, vá lá, não estava esperando tratamento de princesa. Só que, daí a pouco, a sujeita decidiu instalar uns seres desconhecidos na nossa mesa, porque havia lugares vagos. Acontece que estávamos esperando um casal amigo, mas, ainda que não estivéssemos, não sou tão sociável assim. Dei um fora na muié, que me olhou com cara de “que louca”. Depois, descobri que era a praxe local reunir estranhos nas mesas, pra ampliar os lucros. Tô fora geral, odeio e acho que tenho o direito de odiar.

Chegaram os bolinhos de bacalhau, legais. Só que a coisa toda começou a piorar. Certa hora, um vendedor de sapoti resolveu circular com sua mercadoria por entre as mesas. Ao oferecer para um cliente, meu vizinho, não teve dúvida: sacudiu a caixa da fruta na minha mesa. Em cima do meu prato. Já tinha pedido a conta, a garçonete já tinha errado o pedido, o português chefe dela já tinha lhe dado um esculacho daqueles. E a gente esperando o troco. E o cara do saputi com a caixa dele em cima do meu prato. Desisti de ser alguém que convive com a precariedade de forma tranqüila. Sou mais fina que isso, ave Maria. Um pouquinho de conforto, é pedir muito? Garanto que tem um monte de gente que só vai pra esses lugares pro causa do folclore.

Fomos embora antes da primeira meia hora. E aí, veio o domingo... Cenas do próximo post.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Tigresas do Funk

No mais das vezes, nós, burgueses do bem, sofremos com o sofrimento alheio, resquício da nossa educação cristã (ou marxista), ou quem sabe, do nosso bom caráter. Ou talvez das culpas que carregamos. Bom, apesar de estarmos um tanto anestesiados em relação às desgraças do mundo, tantas e tão presentes no cotidiano de todos nós, ainda assim costumamos ser solidários. Ao menos na intenção.

Assim sendo, eis que, ao passar numa rua movimentada de Boa Viagem (não lembro qual) fiquei comovidíssima com a situação de um grupo de moças, coitadas, potencialmente sofredoras. As pobrezinhas das Tigresas do Funk estavam juntas, de pé, fazendo pose para uma foto, em um cartaz colado na parede. Fariam, em breve, show em uma casa noturna. Todas elas, sem exceção, sofriam de grave hiperlordose, e tinham as costas curvadas de uma maneira sobrenatural. Provavelmente, aos 40 anos estarão circulando em cadeiras de rodas. Segundo ouvir falar, o problema é causado por esforço repetitivo realizado no trabalho. Tão jovens. Uma pena.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Espírito e coração

Quando chego em casa, as crianças pedem atenção. Normal. Alice, entretanto, a menorzinha, é a mais ciumenta e exigente, e quando estou com os demais membros da família, ela interfere, tenta atrapalhar a conversa, chamar a atenção. Ontem estávamos conversando, eu e husband, e ela não parava. Aí, perguntei: "filha, é ruim quando mamãe e papai estão conversando, é? Você sofre?" Ela: "mãe, meu coração e meu espírito não aguentam ver vocês conversando". O pai: "então, você prefere que a gente brigue e fique sem convesar todo o tempo?". Ela: "aí, não. É melhor conversar, mas mesmo assim meu espírito não gosta". Pense num texto.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fechando ciclos

Falta pouco para o meu aniversário. No próximo dia 24, faço 34 anos, e ainda bem que já tenho os filhos que quis ter, casa própria e uma profissão que me realiza (embora o salário pudesse ser maior. Bem maior, diga-se de passagem). Preciso ainda conquistar um monte de coisas, mas esquisito seria se não precisasse, pois não? Quem não quer nada da vida, não precisa mais permanecer neste plano. Assim me parece.

Quero muitas coisas, mas a serenidade dos 30 permite à gente querer as coisas sem tanta ansiedade... Fico consternada por ver tantas meninas de 35 anos tão pressionadas pelo relógio biológico. Elas vão adiando a maternidade, e quando se dão conta, não têm mais tempo. O cara ideal não aparece, nem a situação – esta então, NUNCA aparece. E essas meninas ficam surtadas, ansiosas por transformar em marido o primeiro ficante que aparece. E os rapazes, ao notar o desespero das moças... Correm. Mas tergiverso, como diria Teles.

Aniversário, no fim das contas, é um fechar de ciclos. O ano em que eu tive 33 anos está acabando, e é inevitável pensar nele como um fim. Do outro lado, porém, tenho à minha espera o primeiro dia do ano em que terei 34 anos, e não sei nada sobre ele. Não preciso saber. Preciso apenas decidir como será a comemoração do meu dia, já que tenho que considerar os meus familiares (strictu e latu sensu) e os meus amigos.

Acho que farei uma comemoraçãozinha com meu povo na própria terça (24), pois se eu não fizer assim, eles ficam brabos e cobram. Não é só por isso, na verdade. Eu também quero passar meu dia com eles, como diz Alice – “só a nossa família”. Na quarta, 25, reúno as pessoas queridas aqui do trabalho, sem a tal pressão do relógio (já basta), num barzinho nas redondezas. Acho que já sei qual, mas não divulgo porque não tenho ainda certeza e também porque só quero presentes os queridos de verdade. No sábado, 28, junto o povo inteiro, familiares e friends, num lugar bem gostosinho, para um almoço animado.

E desse jeito, com muitos planos mas sem me deixar engessar por eles, pretendo virar os 33. Farei pilates pra manter a bunda em pé, a barriga lisa e os braços firmes. Farei peeling pra dar aquela “tensionada” (como diz minha dermatologista) na face. Estudarei muito, nos livros e na vida, porque casca sem recheio também não serve pra muita coisa. E não farei escova inteligente, porque não acho essa uma atitude inteligente.

domingo, 1 de novembro de 2009

Contos de Fadas

Estava eu a ver filminhos infantis com as minhas meninas. Matutava, inadvertidamente, sobre a Branca de Neve, e sobre como a sua pobre madrasta não estava, assim, de todo errada. Talvez ela exagerasse um pouquinho na reação (tirar o coração da menina e comê-lo cru – dizem que era isso que acontecia na história original - supera até o Hanibal). Talvez. O fato é que aquela menina cantando com aqueles passarinhos em volta dá nos nervos de qualquer um. Que coisinha chatinha e burrinha, a tal da Branca de Neve. Quem comeria aquela maçã, oferecida por uma velha horrenda, senão alguém completamente tapado? Fala sério.