Depois de cumprir uma tarefa profissional importante (e de ter dado tudo certo, amém), eu, meio adoentada, resolvi descansar um pouco pra ver se a virose largava de mim mais rápido. Doencinha antes do carnaval, ninguém merece. Bom.
Antes de ir pra casa, porém, dei uma passada no supermercado pra comprar umas coisinhas e fazer uma sopa. Como sempre quando vamos ao supermercado, foram mais sacolas do que eu pensava - lanche das meninas, umas carnes, pão, lá vai. Havia estacionado o carro meio longe porque pensei que ia poder levar as sacolas nas mãos.
Sem poder levar o carrinho de compras pra perto do meu carro nem tampouco deixá-lo sozinho, comecei a encher os braços com sacolas. Homens perto de mim nem tchuns - antigamente, garanto que o help vinha fácil. Certa hora, um vendedor ambulante disse a um colega - "fulano, ajuda ela", e o rapaz veio me ajudar.
Ele me ajudou a por as sacolas na mala do carro, e eu vi um saquinho no chão. Eu disse: "eita, faltou essa". Ele, bem desconfiado, falou: "essa é minha, fui eu que comprei", e já ia me mostrando a nota. Eu absolutamente não achei que ele queria roubar nada meu, pensei mesmo que a sacola tinha caído. Fiquei tão triste por ele pensar assim, e mais triste ainda pelas relações entre as pessoas estarem desse jeito, tão cheias de desconfiança.
O coitado talvez já tenha vivido situações em que desconfiaram dele, ou, talvez também, já tenha até mesmo roubado alguma coisa um dia na vida. O fato é que eu não sei de nada sobre sua vida e não o estava julgando previamente. Naquela hora ele estava me ajudando, e eu estava sendo ajudada. Só. Os discursos não-ditos podem ter feito com que ele me achasse uma nojenta, o que é uma pena pra nós dois e pro mundo.
A gentileza, de novo, perdeu espaço... Que puxa.