quarta-feira, 28 de abril de 2010

O ministro é que tem razão

Engraçado como as pessoas ainda se relacionam com o tema "sexo" de forma tão pouco natural. Por estes dias, o pobre do Ministro da Saúde foi alvo de críticas, mais ou menos sérias, por ter comentado, numa frase com outros dez itens, que transar pode ser bom pra saúde. A cartilha que falava de sexo para crianças e tocava em questões relacionadas ao prazer, foi retirada das escolas do Recife porque as famílias não gostaram de seu conteúdo. Não conheço o livro e não tenho opinião sobre ele, mas pra que tanta celeuma? Muitos pais ainda acham que explicar sexo às crianças é apenas falar de reprodução e doença. Como se as emoções não estivessem em primeiro plano e o prazer fosse crime.

Ouvi também, andando por aí e escutando conversas alheias quase sem querer, homens casados comentando que preferem fazer sexo com prostitutas, pois assim não "complicam" as coisas. Provavelmente porque as esposas não participam de algum desvio da norma padrão que os tais curtem. Ou talvez porque o tal "amor" inviabiliza, na cabeça dessas pessoas, o contato físico sem censura. Como assim, Bial? E aí, surge a pergunta que não quer calar: alguém questionou se as amadas, mulheres ou namoradas, topavam entrar na "brincadeira"? Duvido. Assim caminha a humanidade, num descompasso que só existe porque o povo leva muito a sério tudo o que diz respeito ao tema (sexualidade).

Falar sobre e/ou fazer sexo configura-se deste jeito, pra muita gente: ou é uma questão complexa, revestida de um caráter quase ritualístico, sagrado, ou é uma coisa profana ao extremo, teatralizada, travestida de moderna enquanto se esconde atrás de risinhos babacas e despropositados, exibicionismo e mentiras deslavadas. Mais uma vez, repito: falta naturalidade, e esta ausência abre caminho para as pervesões, estas, sim, um problema. Perversão, neste caso, entendida como qualquer coisa que não seja consensual ou envolva pessoas incapazes de fazer suas próprias escolhas. O resto, se é de comum acordo, diz respeito apenas aos interessados. Sexo é apenas uma parte da vida, nem mais, nem menos, ó, céus.

Infelizmente, ainda não conseguimos chegar a este entendimento, mas espero estar por aqui quando o cenário começar a mudar (de fato - não de mentirinha). Adorei quando vi, no programa "Os Normais", uma personagem feliz da vida porque os homens que transavam com ela contavam o feito pra todo mundo, e isso significava que ela era uma mulher desejável. É uma caricatura do que costuma acontecer na vida real, mas reflete uma situação interessante, em que a mulher deixa de se preocupar tanto com a reputação e passa a dar conta das suas necessidades (sim, gente, transar é necessidade básica do ser humano) sem hipocrisia.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sofrimento sazonal

Deprê total - imposto de renda. Precisa dizer mais?

terça-feira, 20 de abril de 2010

Ai, que trabalho que dá

Minino, como é difícil ser uma mulher de (mais de) 30. Ao acordar, 5h30 da matina (às terças e quintas), vou ao pilates pra ver se fico gostosa pelo tempo que for possível ficar. Minha porção intelectual não me impede de acalentar a vontade de ser uma beautiful woman pelo menos por mais uns 40 anos. Volto, tomo café da manhã e vou ao chuveiro. Shampoo e condicionador hidratantes pro cabelão ficar arrumado, esfoliante pro pé e sabonete líquido de bebê pro rosto. Ao enxugar o cabelo, tenho que ser cuidadosíssima pra ele não armar. Penteio com pente de madeira, passo um leave-in, depois uma mousse modeladora. Calcula aí quanto tempo já gastei com essa história.

No rosto, passo um fluido matificante, para preparar a pele pro protetor solar, que também é base. Depois, vem o pó, pra secar o protetor e a cara não ficar melada. Às vezes, antes, boto a lente de contato. Um batonzinho, rímel, e estou pronta... pra passar o hidratante no corpo. Finalizo com um creminho pras mãos. Só aí, posso me vestir, e demoro um pouquinho até escolher uma roupa legal. Ufa. Aos 20, fazia metade dessas coisas todas, embora sempre tenha sido vaidosa.

Durante a semana, necessário é fazer a unha, e tento não deixar de passar na manicure a cada sete dias. Vou aos ensaios de flamenco e danço até quebrar as pernas. Mesmo assim, engordei três quilos que não vão embora de jeito nenhum. Minha professora de pilates diz que parte do novo peso é massa muscular, e eu acredito nela pra não ficar triste, me achando a mais gorda do universo. Meu marido jura que sou a mais linda entre todas, mas ele me ama, aí fica fácil.

Vou à dermatologista, sempre. Fiz uns peelings recentemente, farei outro em breve e, à a noite, tenho que usar um creminho que ela passou. Devo iniciar minha carreira de procedimentos estéticos para a face por estes dias, pra ajeitar umas coisinhas que estão me incomodando. De leve, nada de botox, por enquanto. Não quero ficar louca, mas também não vou deixar a peteca cair. Será que estou exagerando?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sobre caráter e outras paragens

Sempre que corrijo provas me deparo com os mesmos problemas. A despeito dos excelentes estudantes que recebemos todos os semestres, os alunos desinteressados, desinformados ou espertinhos continuam por ali, rondando. Primeira aula, repito a mesma ladainha: negocio tudo, menos mau caratismo. Plágio, cópia? Já dizia Amy, em rehab: no, no, no. É zero, galera. Olho de boi.

Mesmo assim, os sabidinhos copiam. E são ingênuos ou muito preguiçosos, pois eles copiam notícias recentes, de sites conhecidos. Entregam um trabalho péssimo, e outro excelente, e querem que o professor ache normal essa disparidade na qualidade da produção. Seremos nós bestas quadradas? No, no, no. Hoje foi dia do sermão, na sala de aula. Consegui silêncio e atenção ao dizer o óbvio - que eles já estão no mercado, que os seus professores são as pessoas que trabalham na profissão que eles pretendem abraçar.

Portanto, já estamos de olho. Falei que não faço teste ampliado pra trabalhar comigo - só chamo os que acho que têm condição de responder ao que eu preciso. Não me importo de ser chamada de injusta, o fato é que não vou perder meu tempo com quem não está a fim. E não é que, nesta hora, o silêncio aumentou? Acho que vai ter gente refletindo, hoje à noite...

terça-feira, 13 de abril de 2010

De novo?

Eu e Ju em apresentação na Casa da Moeda

Vou procurar mudar de tema, já que ultimamente só tenho falado de flamenco. Mas é que estou apaixonada, e só consigo enxergar meu objeto de paixão no horizonte. Pronto. Já estou eu de novo às voltas com o baile, com o cante, com o espetáculo que vamos encenar daqui a uns meses. Desculpem, leitores. Ando mesmo muito apaixonada, e passo o dia com o tiritrintan, com o tatata taratatata no juízo. Não posso evitar.

É isso. Vamos ensaiar pra fazer show! Oba, oba, oba. Quem dança, quer palco, sempre. É uma das emoções mais deliciosas que há no mundo, só sabe quem viveu. No começo, dá aquele indefectível frio na barriga. Depois, você vai se ambientando... Metade do espetáculo, você começa a ficar à vontade. Em seguida, muito à vontade. E aí, não quer mais sair dali. Dá vontade de começar tudo de novo.

O corpo esquenta, e não há cansaço. Só quando a adrenalina se esvai, mas aí, você já esteve no nirvana, bailando, bailando. Vai ter show, gente, e dessa vez, com guitarrista e cantaor espanhol de verdade. Sempre quis dançar com músico no palco, e ainda não tinha rolado. Agora, parece que vai. Conto mais quando estivermos ensaiando pra valer.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bailando por bulerías

Una letrita de baile, que estoy sin inspiración para más. Olé!

Yo a un anciano le pegué
cuando me faltó en la calle
al año cuando me enteré
que ese hombre era mi pare
duquelas grandes pasé
Cosita más sensible
voy a pelear yo con la muerte
y alcanzarla era imposible

Aunque no creas tú
como que me oye Dios
esta será la última cita de los dos
comprenderás
que por demás que te empeñes en fingir
que un mar dolor
no es como para morir
pero deshecha ya
aquella ilusión
a nadie yo en el mundo
daré mi corazón
devuélveme el rosario de mi mare
y quéate con toíto lo demás
lo tuyo te lo envío cualquier tarde
no quiero que te acuerdes nunca más.

Pudo ser una noche junto al mar
unos besos de mujer
y un adiós sentimental

Al alba
tu te fuiste al alba
Un sueño de amor entre tú y yo terminaría
y guardaré secretos que tú conmigo compartías
Y tú te marchaste al alba
gitanita mía

Pañuelo a rayas
con lunares coloraos
dime dónde lo compraste
quién te lo ha dao.

Tú no me dieras a mi más tormento, no no
por que tú ibas a acabar conmigo
y pero como dios es mu grande
a ti te va a mandar un castigo

domingo, 4 de abril de 2010

Aos balzaquianos

Quando somos crianças, o tempo está sempre a nosso favor. Tudo o que mais queremos é que chegue o dia do aniversário, pra ganhar presente, claro, mas não só: crescer é movimento desejado, aguardado com ansiedade. Quando "grandes", teremos liberdade, pensamos (eu, pelo menos, pensava). A independência é um prêmio que a idade nos dá. É?

Eu, que, à maneira das filhas únicas, vivi uma adolescência na balança, ora mais, ora menos oprimida, tinha uma vontade imensa de ser dona de mim. Aos 20, fazia muita falta poder sair sem ter hora pra voltar, até porque eu não via muito sentido nas regras impostas então. A justificativa era frouxa, inconsistente, e eu, com meu senso de justiça inabalável, detestava (e destesto) regras sem objetivos. A norma pela norma não me convence, não aceito. Mas entendi, desde sempre, que aquelas eram as regras na minha família, e que era preciso respeitá-las enquanto vivesse com eles.

Sem drama, terminei fazendo quase tudo o que quis, dentro dos limites que me eram dados, até que saí e fui me confrontar com outros tipos de limites. Eles sempre existirão, afinal, e fazem parte de viver junto. Só a solidão permite que a gente seja, num certo sentido, livre de verdade. Bom, mas e daí? O que fazer com essa liberdade, a liberdade que se estabelece na ausência do outro? Não há alegria no isolamento.

Crescemos e descobrimos que temos ainda mais regras pra seguir, mais situações e pessoas a quem dar satisfações. A independência está, agora, na possibilidade de escolher estas pessoas, que precisam comungar conosco o mesmo repertório, para que a angústia não participe do cenário. O contrato que sufoca e oprime merece ser desfeito, claro. Ao mesmo tempo, não é razoável imaginar que seremos felizes sem estabelecer nenhum tipo de compromisso, seja de que natureza for.

Aos 30, sabemos disso sem que ninguém precise dizer. A primeira década da juventude é uma delícia, mas ainda bem que passa.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A perseguição da vizinhança

Como falta solidariedade neste mundo. Minha professora de baile é uma pimenta, e estamos nós, as alunas, correndo pra dar conta do tanto de coisas que ela descarrega no nosso juízo a cada aula. Dito isso, estava eu, neste feriado, marcando uns sapateadinhos aqui em casa numa plaquinha de madeira que eu tenho, bem miudinha. Quase que tenho que dar voltas em cima de um pé só pra caber nela. Preciso marcar um milhão de vezes pra conseguir dançar sem pensar no passo, pra incorporar de verdade o baile ao meu corpo. Faz um barulhinho, mas é coisa pouca.

Bom, mas meus vizinhos do andar de baixo não estão nem aí pra minha evolução. Não se preocupam se eu chegar na aula de sábado com o sapateado ainda sujo. Só querem saber de ligar no meu interfone pedindo que eu pare de dançar, o que considero uma absoluta injustiça. É por essas e outras que gostaria mesmo de morar numa casa, com um espacinho na garagem pra eu montar meu tablado e colar meus espelhos. Infelizmente, não posso, por enquanto, pôr esse desejo em prática.

Vou levar a plaquinha pra Gravatá e treinar lá. Sábado, venho ao Recife para a aula e volto em seguida, ou seja, estou me dedicando! Mas meus vizinhos não estão nem aí, os insensíveis. É uma pena que as pessoas sejam tão intolerantes com o fazer artístico do próximo, cujo único pecado é fazer um barulhinho discretíssimo. Que puxa.