terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sexta-feira santa

Na sexta-feira passada, início da noite, bailaoras se encontraram para fazer algo diferente de ensaiar (que é só o que a gente faz na vida - quando não está trabalhando - neste período do ano). Fomos, naturalmente, debater sobre iniciativas flamencas que iremos empreender juntas. Antes mesmo de começarmos a listar as promessas tradicionais de ano novo, as promessas flamencas foram postas à mesa (do bar em que estávamos). E eis que já temos uma viagem marcada, para Madri, com uma paradinha básica em Sevilha, que ninguém é de ferro. Antes, porém, estaremos juntas em Porto Alegre, a bailar com Farruco. Antes ainda um pouquinho, tem o curso de Talegona, que é pra ir acordando o duende. Todas ricas, que é como a gente fica quando bebe. Confraria é isso - e é do bem. O único senão foi o efeito colateral no sábado, dia de ensaio, o dia todo. Sextas-feiras, a partir de agora, são todas santas.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Farruco

Quem dança flamenco, sabe: nada é igual a beber na fonte. Raízes importam, sim, e muito. Flamenco é terra, é chão, é força. Acho que por isso sempre me impactaram tanto as aulas com o povo roots da Espanha - dos cursos que já fiz, e já foram vários, os mais importantes, os que me tiraram do eixo, foram os de Rafaela Carrasco e Carmem la Talengona. Duas gigantes, talentosíssimas. Um sentido para cada movimento e, mesmo assim, com elas a técnica nunca falava mais alto que a emoção. Bonito de ver, emocionante, daquela emoção que sobe pra pele, e arrepia a gente, faz chorar. Desta vez, pela primeira vez, encontrarei-me com um bailaor, homem - espanhol, cigano, nascido e criado numa família de artistas flamencos. O talento dele é resultado de trabalho e dedicação, sim, mas vem de mais longe. Quem o vê dançar enxerga a linha evolutiva de quem nunca ignorou a tradição para ser o que é: um bailarino contemporâneo.