quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Paz no Coração

Unhas cor de mertiolate, cabelos cortados e escovados para receber o ano que chega. Estou assim, aguardando o porvir. Planos definidos, alguns; outros, ainda não. Os últimos dias foram divertidos, de conversas amenas e risadas fáceis. Encontrei com a turma do colégio. Engraçado como, nesses casos, há duas situações bem evidentes - com algumas pessoas, parece que o tempo não passou. Os temas surgem sem esforço, a conversa flui. Com outras, é justamente o contrário - a sensação é de que nunca houve nenhuma interseção.

Bom é sair e encontrar com gente leve, pra ficar contaminado com a leveza também. Ando meio sem paciência pra afetos muito exigentes. Em contrapartida, também não tô exigindo muito de ninguém. Quero mais é paz no coração, dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender. Um incrível 2010 pra todo mundo!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Coctel de Morango

Minha filha Julia resolveu ter um blog, cujo nome é coctel de morango, escrito assim mesmo. Subtítulo: desenhos e histórias da minha vida. Não preciso dizer que achei muito lindo. Sem mais delongas, segue o primeiro texto que ela postou:

Eu adoro littlest pet shop tenho 51 deles! sao cachorrinhos,gatinhos,ratinhos,passarinhos...tem de todos os tipos,de todas as cores,modelos e tamanhos tenho o album de figurinha deles e tal mas agora que estou de ferias tenho tempo de arrumar as cidades que eu invento existe nevasca,littlelandia,reino cheiroso,campo iluminado...tudo isso veio da minha cabeça,minha amiga gabriele tem 93!!!agora diga,quem é mais fanatica por eles?uma coisa eu sei!ela adora inventar lojas,produtos tudo que usamos pra littlest pet e é realmente divertido!

O que posso fazer? tenho só 10 anos.

A gravidez

Alice agora cismou que não quer crescer para não ter que ficar grávida. Detalhe: ela tem quatro anos. “Tem que cortar a barriga, mãe, e sai muito sangue!”, argumenta. Por mais que eu diga que, se cortar, o médico dá anestesia, e que um bebezinho fofo compensa tudo, ela não se convence. Insisto: “filhote, você não precisa se preocupar com isso agora. Você é ainda muito criancinha!”. Mesmo assim, ao falar sobre uma provável futura gravidez, ela começa a emitir um quase choro e é veemente em afirmar que não vai encarar. Só pode ser coisa de vidas passadas. A conversa sobre o tema é deveras surreal, concordo, mas não deixa de ser também divertidíssima! Adoro.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Mulher e o Choro

Mulheres choram fácil. Isso às vezes pode ser um problema (se acontece no ambiente de trabalho, por exemplo), mas, na maior parte do tempo, serve muito bem ao propósito de desabafar, destensionar, limpar os olhos. Choramos por coisas sérias, seriíssimas, tipo perder alguém querido. Ou perder um emprego. Pero, também choramos por besteiras fundamentais: no trânsito, porque estamos com pressa ou com pouca gasolina; em casa, porque está tudo uma bagunça e nossos maridos não estão nem aí; no cinema, porque o filme é triste; escrevendo um email, porque o email ficou emotivo; de dor de cabeça; de raiva; porque estamos sem dinheiro ou porque perdemos alguma coisa e não conseguimos achá-la de jeito nenhum, nem apelando pra São Longuinho.

Chorar, pra nós, é como comer ou ir ao banheiro: uma coisa fisiológica. Mesmo assim, banal até a alma, o choro feminino ainda desconcerta demais os rapazes. Eles não sabem o que fazer, e, convenhamos, é mesmo difícil sacar se as lágrimas são relativas a questões de pouca ou muita importância. Tranquilizem-se, homens, se suas mulheres brigarem, reclamarem de vocês ou de outrem, num choro convulsivo e auto-explicativo. Preocupem-se, sim, se o choro for baixinho, e a resposta para “o que houve?” for “nada”. Aí é bronca.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Brigando

As crianças, no shopping, vésperas de fim de ano. Aquela muvuca. Elas fazendo bagunça. Briguei.
Alice: "mãe, você tem coragem de ficar brigando o tempo todo com a sua filhinha?"
Júlia: "Alice, brigar é o que os adultos sabem fazer melhor".

Pirralhas sublevadas. Era só o que faltava.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Fim de Ano

Há coisas muito legais acontecendo durante os eventos de fim de ano. Dezembro garante boas farras, com a desculpa de rever amigos; a gente também aproveita pra dar aquela limpada nos armários (inclusive os espirituais) e jogar fora o que não serve mais; as crianças ficam alegres com a perspectiva de encontrar Papai Noel e ganhar todos os presentes desejados - muito fofo.

Mas, por outro lado, temos que participar de tanta coisa chata que às vezes a vontade é de dormir até chegar o ano novo. Exemplo: encontros com pessoas com as quais você não tem a mínima afinidade. Vou a um da escola da minha filha menor. Na programação, amigo secreto daqueles de trocar presente mil vezes e recreação para os pais! Odeio, odeio, odeio. Nas festinhas das minhas crianças, é proibido chamar pai e mãe pra brincar. Jamais fiz uma festinha infantil sem bebida alcoólica, aliás – acho um crime. Mas já fui obrigada a estar em algumas só à base de guaraná. Ossos do ofício.

Por falar em ódio, vou fechar o texto com uma lista de coisas detestáveis, pra ver se elas, no ano que vem, ficam longe de mim:
1. Cantadores de viola (me falta a paciência)
2. Dinâmicas de recursos humanos (nunca vi nada mais imbecil)
3. Amigo secreto com troca-troca de presentes (muito melhor o tradicional, aquele do papelzinho dobrado)
4. Mãe de aluno que me chama pra conversar (eles são adultos! Amazing)
5. Ter que ser solidária no natal (não é pra ser sempre?)
6. Gente com autopiedade (geralmente são os mais FDP)
7. Poetas marginais cometendo poesias (se for recital, então...)
8. Gloss grudento (a gente fica parecendo que comeu galinha com “graxa”, como diz o matuto)
9. Cadernetas da faculdade para preencher (fico tonta com aquelas listas todas)
10. Porteiro pedindo “a festa” (quem vai me dar a minha “festa”?)

Lamentável.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Razão e Sensibilidade

Ontem estava vendo um filme sobre um clube do livro formado por leitores de Jane Austen. Que delicinha de filme. No fundo, as questões trazidas, sob o pano de fundo das histórias de Austen, cheias de conflitos mudos, com personagens super ingleses que nunca dizem o que, de fato, querem dizer, são as de sempre: gente e relações humanas. As pessoas se encontrando, depois se desencontrando, depois se encontrando novamente, com as mesmas pessoas ou com outras pessoas.

Tão lindo o casal que se forma a partir de uma moça difícil, ensimesmada, complicada e um menino leve, tranqüilo, persistente. Legal a história da menina intelectual casada que, na última hora, desiste de ter um caso com um aluno e convence o marido, que gosta mesmo é de jogar videogame, a ler “Abadia de Northanger”. E ele adora.

Há ainda uma bela moça lésbica, que troca de namorada toda hora e sooooofre... até se apaixonar de novo; um casal que se separa porque o marido enamorou-se de outra, e depois reata, iniciativa dele, sob novas bases; uma mulher de meia-idade muito feliz, tão feliz que termina o filme casando-se com seu sétimo marido.

Foi um fim legal de um domingo idem.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A Lista

A Revista TPM, única publicação do gênero que vale a pena, faz sempre, e eu adoro: lista de fim de ano, com os melhores e piores do período. Segue a minha, pessoal e intransferível (lembrando que os itens não estão dispostos por ordem de importância):

MELHORES
1. Amigo que reencontrei; novos amigos que fiz
2. Curso de flamenco com Rafaela Carrasco
3. Almoço (solita) num bistrô na Oscar Freire
4. Viagem a Tibau do Sul
5. Os filmes Vick Cristina Barcelona e Bastardos Inglórios; o seriado True Blood
6. Ensaio de Rodrigo Santoro na TPM (ele é hours concours)
7. Volta ao Pilates
8. Conversas com as filhas
9. Show de Caetano
10. Meu sofá novo

PIORES
1. Reveillón em Serrambi
2. Carnaval em Maceió
3. "Amiga" que não era amiga
4. Ressaca de vinho
5. Carro que bateu o motor em São José do Egito
6. Desencontros e cobranças
7. Imposto de Renda
8. O aniversário de João Paulo
9. Fim de True Blood - esperando a nova temporada!
10. Burrice, sempre

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Poema bonitíssimo

"...!Que largo camino anduve
Para llegar hasta ti,
Y que remota te vi,
Cuando junto a mí te tuve!
Estrella, celaje, nube,
Ave de pluma fugaz,
Ahora que estoy donde estás,
Te deshaces, sombra helada:
Ya no quiero saber nada;
Yo sólo sé que te vas..."

Nicolás Guillén

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A eloqüência dos silêncios

Escrevi esse texto por ocasião das comemorações em torno de Machado de Assis, em setembro de 2008, para a Revista Continente. Achei que valia a pena publicá-lo de novo.

As recentes comemorações em torno da efeméride machadiana suscitaram, entre os que analisaram sua obra, poucas unanimidades. Uma delas, porém, dizia respeito às possibilidades de interpretação que o autor permite em seus textos, tão variadas que até hoje são elas os principais objetos de investigação entre acadêmicos, teóricos e críticos. As dúvidas, neste caso, estão relacionadas muito mais ao que se cala do que ao que se diz. Os não-ditos impulsionam a ação ou a paralisia das personagens, e ultrapassam a obra inoculando no leitor a mesma vontade de saber, que não se concretiza. A ignorância, porém, em muitos momentos revela-se menos desagradável que a certeza, e ficamos felizes assim, apostando que a história vai seguir pelo caminho que nos parece correto ou lógico.

Alguém poderia dizer que o contexto da época por onde transitavam as personagens de Machado necessariamente evocava situações que tais. Será? Se é verdade que hoje o comportamento social aceito (estimulado?) traduz-se em infinitas possibilidades de dizer, ancoradas por uma necessidade esquisita de exposição que não se limita à intimidade dos envolvidos, é também verdade que as relações humanas, ainda assim, são entremeadas por silêncios. Comunicar-se segue sendo um exercício de inferências e deduções, e, como tais, às vezes acertadas, outras completamente equivocadas.

Trazendo a questão para a contemporaneidade, lembrei do filme "Uma relação pornográfica", onde o casal protagonista, absolutamente (pós) moderno em sua resolução de se relacionar apenas sexualmente, é vítima do silêncio acordado de antemão. Os não-ditos do filme remetem, em um certo sentido, ao conto "Missa do Galo", ambas as obras sublinhadas pela imobilidade resultante da comunicação insuficiente. Todo o diálogo que ocorre, nos dois casos, é mudo - uma conversa cujas respostas são apenas imaginadas. O desfecho, frustrante para nós, leitores e expectadores, também é provocador: a vontade que dá é de sair destilando revelações e verdades por aí, esquecendo a proteção que as máscaras nos dão.

No filme, a relação, antes apenas física, passa a ser de amor. O desejo se concretiza, mas o amor não, fadado que está à interpretação unilateral dos envolvidos. Na prática, nenhum dos dois tem coragem de dar o primeiro passo e assumir que ama, preocupados demais em não deixar transparecer a vulnerabilidade que o sentimento provoca. Se somos também o que os outros pensam de nós, o casal, que se supunha não-amado, torna-se não-amado de fato. O que não se diz ou não se faz, não existe, afinal. O mesmo silêncio que envolve a dupla machadiana destrói a possibilidade neste caso. Estarão eles evitando, assim, um sofrimento maior no futuro? Talvez, mas não conseguimos evitar, personagens, leitores e expectadores, a sensação angustiante de vida vivida pela metade. Cabe a cada um descobrir em qual dos dois mundos prefere transitar.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Crônicas Femininas

Ganhei um livro muito interessante. Escrito por Clarice Lispector, reúne crônicas que ela escreveu, na década de 1950, para um jornal. Eram colunas destinadas às mulheres, com dicas de como se comportar, beleza, relacionamento... O de sempre. Mas o legal é que Clarice, embora reproduzindo, nos textos, o padrão de comportamento feminino de então, já avançava em temas bastante atuais.

Uma coisa que ela falou numa das crônicas gostei particularmente. Dizia Clarice que as mulheres sempre desejam um marido do tipo príncipe encantado, e esperam dos homens riqueza, beleza, atenção, afeto. Porém, nem sempre devolvem na mesma proporção que exigem. Segundo ela, muitas dessas esposas ou companheiras não percebem que são chatas, desagradáveis,descuidadas, desatentas. Concordo. Muitas vezes, por trás de um ogro, tem uma ogra daquelas.

Melhor, sempre, é a via de mão dupla. Afinal, já dizia São Francisco, é dando que se recebe.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mas o que diabo, afinal, querem as mulheres?

Adoro as colunas da coleguinha Flávia de Gusmão. Acho que ela é muito perspicaz, tem os dois pés na realidade e, ainda assim, não é amarga. Sou fã. Fim de semana passado, porém, tive que discordar um pouco dos seus argumentos. Dizia ela que as mulheres viveram durante boa parte da sua existência cobrando dos homens mais atenção, mais romantismo. E que era divertido cobrar isso deles. Hoje, entretanto, segundo Flávia, alguns rapazes estariam levando o pedido a sério demais, e já estavam cansando a beleza dos seus pares com tanta sensibilidade. Muitas ligações, muito amor, muita carência. E o resultado disso seria o mulherio binando os caras e reclamando para as amigas de “falta de espaço”.

Claro que alguém ligando pra você o tempo todo pra dizer nada é chato. Porém, se você está in love, quer mais é falar com a pessoa mil vezes por dia mesmo. Isso não é sufocante, não é desagradável. Marido preocupou, quando leu a coluna: “não vou deixar de ligar sempre não, viu? E vou continuar sensível, e tudo o mais, e tal e coisa”, disse, ao me ver rindo com o texto. Tranquilizei-o, ao confirmar minha opção pela atenção e pelo carinho. Se eu quisesse um ogro tinha casado com um, que é o que não falta no mundo. Os excessos são ruins, claro, mas não significa que estejamos pregando a volta do macho bebedor de cerveja-insensível-desatento-infiel-babaca. Longe disso. Também não acho que foi exatamente isso que Flávia quis dizer, mas a confusão de sentimentos e desejos nas mulheres, em geral, é evidente.

Estaríamos preferindo o provedor, em detrimento do companheiro que divide a vida, mas que não vai poder bancar todos os nossos desejos? Estaríamos querendo tanta farra quanto a que eles fizeram no passado? Como assim, se esperamos pedidos de casamento a seguir? Não dá pra ter tudo. E as mensagens dúbias só aumentam a confusão. Há moças que saem com um cara diferente dia sim, dia não, fazem cara de lobas superindependentes – tipo “não preciso de você amanhã, meu filho. Tenho um plano B”, e querem ser encaradas como possibilidade de relacionamento sério. Como, se dão a entender que estão bem assim, circulando? Quem é que vai bancar, ainda que seja o cara menos preconceituoso do mundo? Não é questão de reavivar pudores hipócritas, nada disso. Um ser são não entra numa furada se puder evitar, e se envolver com alguém escorregadio demais é furada, seja homem ou mulher.

Dito isto, os homens seguem sem saber se pedem ou não em namoro; se pagam ou não a conta; se ligam uma, duas ou nenhuma vez por dia; se dão presente ou não; se lembram ou não das datas importantes; se transformam a sua mulher numa companheira de verdade ou se continuam agindo feitos machos John Wayne. Na dúvida, rapazes, digo eu, e acho que um monte de gente vai concordar: optem pela delicadeza, pela gentileza, pela atenção sincera. Se a sua mulher não gostar... troque de mulher que essa daí é uma besta.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A treva - 2

Domingo já não é um dia lá essas coisas. Com a perspectiva de uma consagração, numa igreja batista, fica um pouquinho pior. Bom, mas a tal consagração era da minha sogra, e a bichinha bem que merecia uma atenção – além do mais, ela falava nesse evento há dias, segundo husband, e ficaria magoada se não estivéssemos lá. Fomos. Clero tentava me convencer de que a coisa toda não seria assim tão ruim. Levamos as crianças, que haviam acabado de chegar de Gravatá.

Sentamos para assistir ao culto, que começou pontualmente às 19h. E o tempo foi passando... As meninas começando a ficar impacientes, eu também. Alice: “mãe, que horas isso vai acabar?” Eu: “já, já, filha”. Júlia, em sua pré-adolescência, ligou o celular pra jogar. Mandei desligar, por respeito às pessoas que estavam lá. Certa hora, 14 batismos depois, meu respeito foi diminuindo... Chega a hora da pregação do pastor convidado, já que a igreja estava em festa: o cabra começa a falar sobre a diferença entre a igreja que Deus quer e a igreja que querem os homens, blá, blá, blá. Como se fosse possível saber a diferença – quem é que diz o que quer Deus, não são os homens, cara pálida? Mas essa é uma outra discussão, e pra mim, a premissa da coisa toda já estava errada, portanto, discutir a partir dela seria pura perda de tempo e de saliva. O tal pastor fez mais de uma hora de discurso.

Bom. Mas não era momento para filosofar. Respirei fundo mais uma vez e pedi paciência às crianças, embora eu mesma já estivesse sem nenhuma. Mais meia hora, e resolvemos sair do culto, eu, Ju e Alice. Clero ficou lá, firme e forte, afinal já tinha vivido sei lá quantos anos indo à igreja todo domingo, de manhã e à noite, e a provação pra ele é relativa. Depois, quando deixou de ser batista, descobriu o quanto aquilo tudo é terrível, mas aí já tinha perdido tantas manhãs de sol que nem dá pra contar. Saímos, as mulheres, e ficamos resmungando, na porta da igreja. E as crentes olhavam pra gente, censurando.

As meninas com sede e fome, mas o guaraná só podia ser servido depois do culto. Fala sério - ô, pobreza (de espírito). Xinguei, e as meninas me acompanhando. Finalmente, duas horas e meia depois, acabou. Eu estava tão p da vida que não queria falar com ninguém. Dei um oizinho rápido à sogra e disse que tinha que sair correndo, pois Ju e Li tinham aula no dia seguinte. Não consegui disfarçar meu desconforto, claro. Sou péssima nisso, nos disfarces. Preciso melhorar para ampliar minha sociabilidade. Saí de lá com o firme propósito de nunca mais participar de eventos que tais, nem sob ameaça ou tortura. Marido já sabe, e está conformado. É isso ou me aturar chatíssima durante umas boas horas.

No carro, finalmente, o que salvou a noite foi o diálogo das crianças. Júlia: "Alice, você prefere vir de novo a essa missa ou morrer na cruz?" Alice: "morrer na cruz".

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A treva

Digamos que o fim de semana foi, assim, sui generis. Deveria ter sido ótimo, poderia ter sido péssimo, média 5,0. A semana anterior já havia rendido alguns aborrecimentos, potencializados pelos hormônios, capazes de diminuir sobremaneira a racionalidade de uma pessoa. Mas, ok, havia pela frente a perspectiva de um sábado divertido, pois eu e minha dupla estávamos sem as crianças e planejávamos mil programas. Eis que, já na sexta, pego a gripe que já rondava meus familiares. Dor de garganta; a cada golinho de vinho, piorava. Desisti.

De qualquer forma, resolvemos manter a saída do sábado de manhã, que era ir ao Mercado da Encruzilhada comer no português, que eu ainda não conhecia. Achei que ia ser uma coisa com cara de farra e clima de férias. Logo na chegada, porém, percebi que minhas expectativas estavam superdimensionadas. Lugar pequeno, feio e sujo. Garçonetes feias e grossas. Não as culpo, já que o dono do estabelecimento, o tal português, é infinitamente mais grosso que elas. Até aí, vá lá, não estava esperando tratamento de princesa. Só que, daí a pouco, a sujeita decidiu instalar uns seres desconhecidos na nossa mesa, porque havia lugares vagos. Acontece que estávamos esperando um casal amigo, mas, ainda que não estivéssemos, não sou tão sociável assim. Dei um fora na muié, que me olhou com cara de “que louca”. Depois, descobri que era a praxe local reunir estranhos nas mesas, pra ampliar os lucros. Tô fora geral, odeio e acho que tenho o direito de odiar.

Chegaram os bolinhos de bacalhau, legais. Só que a coisa toda começou a piorar. Certa hora, um vendedor de sapoti resolveu circular com sua mercadoria por entre as mesas. Ao oferecer para um cliente, meu vizinho, não teve dúvida: sacudiu a caixa da fruta na minha mesa. Em cima do meu prato. Já tinha pedido a conta, a garçonete já tinha errado o pedido, o português chefe dela já tinha lhe dado um esculacho daqueles. E a gente esperando o troco. E o cara do saputi com a caixa dele em cima do meu prato. Desisti de ser alguém que convive com a precariedade de forma tranqüila. Sou mais fina que isso, ave Maria. Um pouquinho de conforto, é pedir muito? Garanto que tem um monte de gente que só vai pra esses lugares pro causa do folclore.

Fomos embora antes da primeira meia hora. E aí, veio o domingo... Cenas do próximo post.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Tigresas do Funk

No mais das vezes, nós, burgueses do bem, sofremos com o sofrimento alheio, resquício da nossa educação cristã (ou marxista), ou quem sabe, do nosso bom caráter. Ou talvez das culpas que carregamos. Bom, apesar de estarmos um tanto anestesiados em relação às desgraças do mundo, tantas e tão presentes no cotidiano de todos nós, ainda assim costumamos ser solidários. Ao menos na intenção.

Assim sendo, eis que, ao passar numa rua movimentada de Boa Viagem (não lembro qual) fiquei comovidíssima com a situação de um grupo de moças, coitadas, potencialmente sofredoras. As pobrezinhas das Tigresas do Funk estavam juntas, de pé, fazendo pose para uma foto, em um cartaz colado na parede. Fariam, em breve, show em uma casa noturna. Todas elas, sem exceção, sofriam de grave hiperlordose, e tinham as costas curvadas de uma maneira sobrenatural. Provavelmente, aos 40 anos estarão circulando em cadeiras de rodas. Segundo ouvir falar, o problema é causado por esforço repetitivo realizado no trabalho. Tão jovens. Uma pena.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Espírito e coração

Quando chego em casa, as crianças pedem atenção. Normal. Alice, entretanto, a menorzinha, é a mais ciumenta e exigente, e quando estou com os demais membros da família, ela interfere, tenta atrapalhar a conversa, chamar a atenção. Ontem estávamos conversando, eu e husband, e ela não parava. Aí, perguntei: "filha, é ruim quando mamãe e papai estão conversando, é? Você sofre?" Ela: "mãe, meu coração e meu espírito não aguentam ver vocês conversando". O pai: "então, você prefere que a gente brigue e fique sem convesar todo o tempo?". Ela: "aí, não. É melhor conversar, mas mesmo assim meu espírito não gosta". Pense num texto.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fechando ciclos

Falta pouco para o meu aniversário. No próximo dia 24, faço 34 anos, e ainda bem que já tenho os filhos que quis ter, casa própria e uma profissão que me realiza (embora o salário pudesse ser maior. Bem maior, diga-se de passagem). Preciso ainda conquistar um monte de coisas, mas esquisito seria se não precisasse, pois não? Quem não quer nada da vida, não precisa mais permanecer neste plano. Assim me parece.

Quero muitas coisas, mas a serenidade dos 30 permite à gente querer as coisas sem tanta ansiedade... Fico consternada por ver tantas meninas de 35 anos tão pressionadas pelo relógio biológico. Elas vão adiando a maternidade, e quando se dão conta, não têm mais tempo. O cara ideal não aparece, nem a situação – esta então, NUNCA aparece. E essas meninas ficam surtadas, ansiosas por transformar em marido o primeiro ficante que aparece. E os rapazes, ao notar o desespero das moças... Correm. Mas tergiverso, como diria Teles.

Aniversário, no fim das contas, é um fechar de ciclos. O ano em que eu tive 33 anos está acabando, e é inevitável pensar nele como um fim. Do outro lado, porém, tenho à minha espera o primeiro dia do ano em que terei 34 anos, e não sei nada sobre ele. Não preciso saber. Preciso apenas decidir como será a comemoração do meu dia, já que tenho que considerar os meus familiares (strictu e latu sensu) e os meus amigos.

Acho que farei uma comemoraçãozinha com meu povo na própria terça (24), pois se eu não fizer assim, eles ficam brabos e cobram. Não é só por isso, na verdade. Eu também quero passar meu dia com eles, como diz Alice – “só a nossa família”. Na quarta, 25, reúno as pessoas queridas aqui do trabalho, sem a tal pressão do relógio (já basta), num barzinho nas redondezas. Acho que já sei qual, mas não divulgo porque não tenho ainda certeza e também porque só quero presentes os queridos de verdade. No sábado, 28, junto o povo inteiro, familiares e friends, num lugar bem gostosinho, para um almoço animado.

E desse jeito, com muitos planos mas sem me deixar engessar por eles, pretendo virar os 33. Farei pilates pra manter a bunda em pé, a barriga lisa e os braços firmes. Farei peeling pra dar aquela “tensionada” (como diz minha dermatologista) na face. Estudarei muito, nos livros e na vida, porque casca sem recheio também não serve pra muita coisa. E não farei escova inteligente, porque não acho essa uma atitude inteligente.

domingo, 1 de novembro de 2009

Contos de Fadas

Estava eu a ver filminhos infantis com as minhas meninas. Matutava, inadvertidamente, sobre a Branca de Neve, e sobre como a sua pobre madrasta não estava, assim, de todo errada. Talvez ela exagerasse um pouquinho na reação (tirar o coração da menina e comê-lo cru – dizem que era isso que acontecia na história original - supera até o Hanibal). Talvez. O fato é que aquela menina cantando com aqueles passarinhos em volta dá nos nervos de qualquer um. Que coisinha chatinha e burrinha, a tal da Branca de Neve. Quem comeria aquela maçã, oferecida por uma velha horrenda, senão alguém completamente tapado? Fala sério.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A mulher e o cabelo


Eu, meus cabelos e minha cerveja

Outra sugestão para meus escritos, que acato com mucho gusto: mulheres e sua relação com os cabelos (próprios e das outras), uma coisa, assim, no mínimo, delicada. Os meus, por exemplo. Gosto deles, acho que são legais. Só que poderiam ser menos volumosos, ou com os cachos mais definidos. Poderiam não ficar horrorosos depois de uma ventania (seria a glória). Neste caso, a solução é prendê-los. Odeio o vento. Odeio as horas que passam e deixam meus cabelos feios, embora os homens ao meu redor jurem que não notam a diferença. Aposto que notam.

Para domá-los, lavo todos os dias, e com xampu e condicionador que hidratem bem. Penteio, apenas nessa hora. Passo um leave-in. Passo uma mousse modeladora, em seguida. Enxugo com a toalha, modelando os cachinhos. Daí por diante, NINGUÉM pode tocar nos meus cabelos até que eles sequem. Nem depois que secam, aliás. Porque senão eles ficam feios. Uma coisa tipo Gal Costa. Sempre achei aquele cabelo mulher-desquitada-nos-anos-80 horrível.

Cuido muito do cabelo, e só corto com pouquíssimos eleitos. Corto pouco, porque acho que fico mais bonita com o cabelo grandão. Médio também não presta – ou curto, ou enorme, senão fico feia. Não tenho a menor intenção de ficar feia, nem hoje, nem nunca. Quero ser uma velhinha lindinha. Minha amiga Anna Paula tem um cabelo lindíssimo, maravilhoso, e está inventando de cortar. Sou contra. Tô numa fase assembléia de Deus.

De vez em quando, vario, e faço uma escova. Fico bonita, gosto do resultado. Mas também gosto dos cachos, a versão preferida do meu maridón, que acha o liso “lambido”. Ele fica danado porque não pode tocar no meu cabelo. Nunca. E me chama de louca. Uma cabelereira queria me convencer a fazer escova inteligente. Não fiz. Inteligentes são as variações sobre o mesmo tema. No vento, prefiro segurar o cabelo do que a saia. Sei, estou quase surtando. Mas vale a pena, quando olho no espelho e acho que não estou parecida com a Gal Costa. Melhor é parecer comigo mesma.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Esquisitices

É fato que às vezes sou um tanto esquisita. Tenho vergonha pelos outros (não vejo programas do tipo Ídolos por isso. Detesto ver gente sendo humilhada por vontade própria), ojeriza a telefone, horror a movimentos gregários (clubes, associações, sindicatos, grupos de leitura – MEDA!). Também não faço caridade ou voluntariado, nem vou a passeatas. Visito pouco a minha avó, e ela cobra mais atenção. Os únicos grupos organizados dos quais faço questão de fazer parte são os blocos de carnaval.
Sou assim, não adianta forçar a natureza. Por outro lado, adoro juntar gente e tenho muitos amigos queridos, tão queridos como podem ser os amigos. E é ótimo quando a gente se encontra, ri da vida, e só. Ficamos felizes, no commitment. Ô, delícia.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Por que...

Homens fazem barulho ao comer?
Mulheres gordinhas usam calças apertadas demais?
A fila do Bompreço sempre empaca na sua vez?
As baratas existem?

Há coisas que não se explicam, afinal.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Minha alma é irmã de Deus ou Caim?

Carrero e Saramago discutem (metafisicamente, já que o nosso Raimundo apenas comentou o que lhe pediram para comentar) sobre Deus, bíblia, bondade, maldade. Brilhantes, os dois, terminam reproduzindo o que sole acontecer em toda discussão sobre ateísmo ou crença: quem analisar o discurso deles, com cuidado, vai perceber que toda água corre pro mar, neste caso. Notem que Saramago, em seu novo livro, questiona a maldade contida na bíblia e a suposta bondade divina. Ué? Deus não era uma abstração, uma criação humana? Somos, todos nós, seres pensantes (os que assim merecem ser classificados) céticos e místicos a um só tempo.
Duvido de tudo. Mas peço a benção a meu orixá enquanto uso a medalhinha de Santo Antônio que uma baiana me deu em São Paulo. Saravá, amém, que toda ajuda é bem vinda!

domingo, 18 de outubro de 2009

The True


Foto: Eu e Ju - amor de verdade

Fui buscar uma tacinha de Amarula na geladeira porque sobre um tema desses não dá pra falar assim, cheia de realidade. Já tinha tomado uns chopes no Neno, e achei que era necessário abrir um tantinho mais a consciência pra discorrer sobre o tema proposto por Paulinho, que hoje mora a milhas e milhas de nós, lá em Santiago do Chile. Dia desses, ele estava brabo, danado com seus amigos chilenos, pés no chão além da conta, segundo consta. “Sinto falta dos meus amigos daí”, disse, “e queria que tu falasse sobre verdade, essa coisa tão complicada”. Acho que foi mais ou menos assim que foi feito o pedido, talvez com ligeiras variações no texto. Ele lembrou de Foucault e de seus estudos sobre a Verdade, que o deixaram “bem doido”.

Bom, vamos lá. Sou jornalista, e na minha profissão a gente lida o tempo todo com esse conceito. A princípio, deveríamos tratar apenas com fatos ditos “verdadeiros”. Sempre digo a meus alunos que verdade, pra nós, é a adequação do enunciado aos fatos. Tudo além disso é filosofia ou interpretação subjetiva, e não cabe no jornalismo. Será? Na prática, sabemos que o próprio conceito de notícia está entremeado por decisões de caráter pouco objetivo, relacionadas mais ao que o escriba/repórter/editor carrega consigo enquanto sujeito, ou enquanto parte de um sistema maior que ele, que aos fatos propriamente ditos. Isso faz o meu chefe subir pelas paredes, mas, no fundo, aposto que ele sabe que a engrenagem engloba a todos nós, não apenas aos jornalistas e agregados.

Contraditoriamente, a verdade das coisas, para as pessoas, está muitíssimo ligada aos desejos. Nosso olhar é dirigido e embaçado, por nós mesmos, no mais das vezes. O que não significa que ele é menos verdadeiro que o do Outro, afinal. Apenas diferente, particular. Complicou? É complicado mesmo. Mentir é dizer o contrário da verdade, mas não raro fazemos e dizemos coisas consideradas, a princípio, excludentes (se uma é verdadeira, a outra é falsa, e vice-versa), sem que necessariamente estejamos sendo não-verdadeiros. É verdade que às vezes quero que minhas filhas esqueçam que eu existo e parem de repetir “mamãe” ad infinitum. É verdade que não posso passar muito tempo, nem alguns minutos, sem saber onde elas estão e o que estão fazendo.

Tudo seria mais simples se não estivéssemos tão socialmente engessados. A mente e o coração permitem mais variações e combinações que querem nos fazer crer. Segundo Foucault, para nós, sujeitos, a verdade seria um mecanismo do qual dispomos para preencher o vazio que constitui nosso pensamento finito, ou a justificação racional que elaboramos para compreender nossas práticas cotidianas, ou ainda o escudo protetor que adquirimos diante das vicissitudes que nos ameaçam. Muito mais complexo, então, que apenas não mentir.

Falar tudo que vem à mente, sem censura, poderia, então, transformar alguém em “sincero”, pois não? Duvido. Rompantes de raiva podem nos fazer dizer coisas que não sentimos (sempre), só para ferir e magoar o outro. Você diz “te odeio”, e naquele momento essa é a mais pura expressão da verdade. Horas depois, o mesmo ódio vira só mágoa e saudade. De onde deduzimos que é impossível expressar a verdade apenas com as palavras, por mais que elas sejam muitas, por mais largo que seja nosso vocabulário. No mais das vezes, sem querer ser determinista, creio que a verdade é absolutamente silenciosa.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

El Duende


Foto: Show na Casa de La Memoria, em Sevilla

Marido, meu companheiro em todas as viagens, me pede para escrever sobre o flamenco. Sobre o que sinto ao dançar, sobre o que é esse danado desse “duende” – dizem que quem tem duende é capaz de bailar, de fato; quem não tem, pode até se esforçar, mas não chega lá. Seria, assim, uma espécie de borogodó cigano. Não sei se tenho el duende. Gostaria muito de tê-lo.

Só sei que, quando danço, não enxergo pelo retrovisor. Só vejo e sinto o movimento, escuto a música e vou. Ainda hoje, depois de tanto tempo em contato com o baile, não paro de me emocionar com a percussão do cajón, e ver dançar alguém que sabe o que está fazendo me arrepia o corpo, literalmente. Muitas vezes tive vontade de chorar ao assistir a um espetáculo.

Minha experiência mais desconcertante nesta seara aconteceu quando fiz um workshop com Rafaela Carrasco, bailarina espanhola. Fiquei besta com ela – as marcações ditas em castellano, o jeito de começar a aula, sem fazer nada de alongamento ou de aquecimento, as mãos, a postura. Incrível.

Foram sete dias de exercícios diários e intensos, difíceis, pés e joelhos esfolados e uma tristeza grande no peito na hora de ir embora. Marido, que estava lá comigo, brigou – “nada a ver tu ficar assim. Pensa que valeu a experiência”. Mas eu só pensava que estava acabando... E ia sentindo aquele frio no estômago que a gente sente quando um namoro está pra terminar, quando você perde seu filho na praia, quando o carro fica na reserva no meio do engarrafamento.

Graças a Camarón, estou de volta. Descolei novas companheiras de baile e sigo castigando os tablados por aí. Olé!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Como Deus quiser

Carlinhos, colega e amigo, insiste para que eu fale de horóscopo no blog. Relutante a princípio, sucumbi agora, depois que ele passou a fazer do pedido um mantra. Com este texto, aliás, inauguro uma fase nova: escreverei, de fato, “a pedidos”. Mandem os motes e eu vou escolher um tema para falar sobre, a partir das sugestões dos nobres leitores.
Bom, vamos aos horóscopos. Não servem pra nada, a princípio, até porque, como diz o samba, “o amanhã será como Deus quiser”. Mas a gente lê. Eu, pelo menos, leio. Nunca concordo com o que leio, mas sigo tentando descobrir algum sinal naqueles escritos. Vai que dá certo... Gosto de saber sobre as características dos signos – sou sagitário, e me identifico com um monte de coisas que os astrólogos dizem sobre gente de sagitário.
Áries, por exemplo. Pessoas mandonas, briguentas, mas com grande coração. Gosto delas. Touro – minha filha mais velha: teimosa, tagarela, cheia de argumentos. Leão – minha filha mais nova: ciumenta, falante, gosta de palco e platéia. Aquarianos são ousados, pacientes, amorosos, à frente do seu tempo. E segue por aí...
Quanto a prever o futuro... Será que ia ser bom? Pra que saber das desgraças antes da hora, pra sofrer por antecedência? E das coisas boas? Que sem graça. Bom é ir vivendo e pulando os obstáculos, ficando feliz com o que acontece de bom. Senão, ninguém ia sair de casa pra ver futebol - quer coisa mais imprevisível? Se o caminho fosse conhecido, a gente deitava, dormia e esperava chegar o fim dele. Boa mesmo é a trajetória.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Na Paulicéia Desvairada


Por essas coincidências da vida, desde os meus pós-20 anos de idade que vou com freqüência a São Paulo. Adoro. Trabalho, congresso, curso – eventos que fazem todo mundo ir a São Paulo costumam me levar lá pelo menos uma vez por ano. Aproveito, então, para fazer as coisas deliciosas que a cidade oferece e muita gente, por preconceito (“é só fumaça!”) ou pressa, desconhece. Esse ano já estive por lá duas vezes. Prometi a um amigo que vai viajar em breve uma sugestão de roteiro pra circular e curtir the Sampa city. Cada caminho, lógico, é pessoal e intransferível, mas aposto que quem for a esses lugares não vai se arrepender:

- Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Sé (linha vermelha do metrô, desce na estação Sé). É um dos mais lindos que já visitei, não sei se porque sou apaixonada por palavras, textos, dizeres, histórias. Nossa trajetória enquanto língua está lá, nossos autores mais representativos também. Passeando e vendo as influências ibéricas, indígenas e negras que compõem nossa história, a gente sente que o homem vale a pena. E que o Brasil é The Best, o melhor lugar do mundo pra se viver.

- Mercadão + 25 de março. Um clássico, todo mundo vai. Mas vale, sempre, a visita. O mercadão, com sua estrutura de ferro, parece com o nosso Mercado de São José, só que mais conservado. Por dentro, muitas barracas de frutas, especiarias, queijos, embutidos, carnes, temperos. E mais: bares ótimos, com comida idem e chope maravilhoso. Aliás, onde é que tem chope ruim em São Paulo? Na saída, suba pela 25, que tem toda a sorte de bugingangas pra vender, em lojas e nos camelôs. Ninguém sai de lá sem pelo menos uma sacolinha. Também tem metrô (estação 25 de março).

- Av. Paulista. Caminhar pela Paulista é uma experiência. Todo mundo corre, o tempo todo. Se você parar, te atropelam. Mas tem o Masp, que é sempre um oásis no meio da agitação. Tem o Centro Itaú Cultural, com shows e eventos de graça todos os dias, basta ir lá e pegar o ingresso uma hora antes. Tem o shopping Paulista, que é uma graça, com sua estrutura antiguinha. Tem as saídas pra Rua Augusta, Haddock Lobo...

- Rua Augusta.
Capítulo à parte. O baixo Augusta, onde ficam os hotéis, tinha fama de lugar perigoso e complicado (drogas, moças de vida fácil e que tais). Hoje, é cult. Novas lojas, escritórios e casas de show se instalaram por lá, embora a vizinhança ainda seja mista. Nada que incomode. Descendo, em direção à rua Oscar Freire, porém, a Augusta começa a ficar diferente. Mais lojas, mais restaurantes. Na esquina com a Oscar, a Galeria Ouro Fino merece a visita. Lojas mudernas, casas de tatuagem, de fantasias, de vinis antigos, roupinhas ótimas e não muito caras. Muito legal, quase uma Galeria Joana D’arc ampliada. No meio do caminho, tem as salas de cinema Unibanco, que só exibem filmes que estão fora do circuitão multiplex. Só tem uma coisa: a rua é toda ladeirada – preparem as pernas...

- Rua Oscar Freire. Eita, delícia! Não tem nada melhor nesse mundo que andar no meio de uma gente chique de doer, em calçadas limpíssimas, belíssimas, entre lojas de fachadas irretocáveis. Você se sente rica mesmo sem ser. É só botar uma roupa linda, óculos escuros grandes, fazer carão e escolher um salto confortável. Andar, andar e depois sentar num bistrô, pedir uma taça de vinho e um pratinho de massa ou salada (gente fina come pouco), e observar o movimento. Depois, um capuccino e um licorzinho. A conta (individual) já anda quase na casa nos três dígitos, mas vale todo o investimento. Depois, você, que não tem motorista nem cartão de crédito ilimitado, pode seguir para o brechó chique, vielazinha na esquina da Haddock Lobo que vende objetos e roupas muito interessantes. E que não custam todo o seu salário do mês. Tudo de bom.

- Shopping Pátio Higienópolis. Esse shopping é super, super lindo e charmoso, sem ser tão intimidante como o Iguatemi, que fica na Brigadeiro Faria Lima, nos Jardins. Tem lojas de vinho ótimas, muitos cafés e fica numa rua bem arborizada, em Higienópolis, of course, um bairro residencial muito agradável. Só não tem metrô perto. O Iguatemi é podre de chique, mas a gente, que é pobrinho, fica meio com medo até de chegar perto das vitrines. Porém, se você é ricaço, lá é o seu lugar – tem de Tiffany’ s a Cristian Louboutin. Ô, mega sena....

- Feirinha da Praça Benedito Calixto. Aos sábados, no bairro de Pinheiros, tem uma feira de antiguidades incrível nessa praça. Além dos objetos raros, bonitos e que ainda funcionam, a feirinha comporta uns espaços de comedorias escondidinhos, no interior (e descendo) de umas casas que circundam o local. Come-se muito bem, por um preço justo, ao lado de pessoas interessantes e simpáticas.

- Pinheiros. Ainda em Pinheiros, há, próximo à Av. Rebouças, locais bem agradáveis pra andar a pé, com montes de restaurantes e lojas diferentes e criativas. Lá tem também boas opções de hospedagem pra quem quer fugir do centrão. No shopping Eldorado, tem uma academia de flamenco super, onde fiz um curso em julho último, e também, para as crianças, o parque da Mônica.

Eu ainda podia citar a OCA, no Parque Ibirapuera, o próprio Ibirapuera, os bairros de Vila Madalena, Vila Mariana e Bixiga, a Praça da República, o Bar Brahma (na esquina da Ipiranga com a São João), os SESCs, as FNACs, o Galeto’s, os teatros... São Paulo é superlativa, e vou parar por aqui senão o texto não cabe no blog. Vão lá!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Antimonotonia


Foto: Alex e Tati, Dani e Paulo, somando as escovas de dentes

Atualmente, ando às voltas com histórias de casamentos.Gente próxima e querida resolveu juntar os trapos, ao mesmo tempo. Outras gentes, outros afetos, caminham do lado oposto, e estão desfazendo seus casórios, partindo para aventuras diferentes, buscando viver com mais leveza e alegria. As duas turmas partilham entre si a esperança de construir uma rotina que se ajuste a seu ideal de felicidade, ou que se aproxime ao máximo dele. Nada mais justo.

Há uma terceira via por aí, no entanto, que estacionou numa espécie de limbo: nem sobe ao céu e nem desce ao inferno. Circula pelo purgatório com uma desenvoltura de dar medo e, inconscientemente, submete seu próprio bem-estar a terceiros, sejam estes pessoas ou situações. Assim, o pobre do casamento, coitado, leva a culpa de todas as mazelas que afligem estes seres. Como se um arranjo social pudesse, sozinho, dar conta da felicidade ou da infelicidade de alguém. Casamos porque, até hoje, não encontramos maneira melhor, mais eficiente, de dividir a vida com quem achamos que vale a pena. Casar é prático, afinal de contas, e se o casal funciona, o arranjo tem potencial para ser uma delícia. O problema é quando as pessoas resolvem extrair daí todas as alegrias; no fim das contas, terminam creditando ao mesmo casamento todas as frustrações. Quanta injustiça.

Buenas, mas o que significa, afinal, um casal “que funciona”? De assistir e de viver, creio que nada é menos verdadeiro que o tal “opostos que se atraem”. Afinidades é que fazem a gente olhar para a mesma direção, e um na direção do outro. Importante também é começar a procurar the partner a partir dos defeitos, não das qualidades. Aquela pessoa que você adora e cujas falhas você conhece e tolera – that´s the one. É preciso, ainda, estabelecer um local muito adequado para as expectativas, que devem existir para que a gente ande pra frente, não para serem paralisantes. Não case com um artista se você pretende viver com um homem organizado, prático e financeiramente controlado. Simples assim.

As pessoas até mudam, mas só se estiverem dispostas a isso. Impor não funciona, e o resultado costuma ser distância e incomunicabilidade. Triste... Mais triste ainda é conviver com a insatisfação constante, permanente, sem procurar a saída. Infelicidade não é destino - é escolha. Acredito com todas as forças que as pessoas que estão imobilizadas em um espaço que, segundo elas, não lhes confere mais o prazer que desejariam, de alguma forma encontram neste local algum conforto. Seja qual for – familiaridade, segurança, esperança de transformar o outro ou a situação. Um dia, quando o incômodo for maior que a preguiça...

Relacionamentos são complicados, isso a gente está bege de saber. No entanto, um mesmo casal pode se reinventar, se estiver disposto, se houver afeto e respeito. Ninguém precisa desistir na primeira crise, nem resistir ad infinitum só porque o padre falou. Mais leveza, meu povo, pra rotina não ficar maior que a vida: alguém vai ter que fazer feira, casais com crianças vão ter que abdicar das farras frequentes, a mãe dele ou dela irá encher o saco, vez em quando. Em contrapartida, vocês vão compartilhar um jantar gostosinho com um vinho legal, enquanto os pirralhos dormem; vão chamar os amigos pra uma farrinha e preparar tudo com todo o amor do mundo; vão ao Bompreço juntos e o tempo na fila vai ser menos irritante, porque vocês estarão conversando sobre política e sobre a próxima viagem que farão juntos.

A rotina não é vilã, apenas; é parceira, muitas vezes. Traz tranqüilidade, conforto. Se os ciclos se fecham, que seja apenas por isso, porque terminou o tempo deles. O recheio da coisa toda não tem que ser desagradável, mas que idéia! O cara não tem que ser babaca e deixar crescer a barriga só porque casou; a mulher não tem que ser chata e virar mãe só porque casou. A intimidade não nos dá o direito de sermos descorteses, desatentos, mas nos permite, olha só que confortável, apresentar uma depilação meio passada sem medo do julgo alheio. Porque você sabe que ele não tá nem aí pra isso, porque ele conhece e ama você para além do tamanho dos seus pelos.

Portanto, moças e rapazes, proponho destinarmos ao casamento o tamanho e o poder que ele, de fato, tem. Os casórios apenas juntam os casais; o que estes casais fazem com isso, aí já é outra história. Fim, para os que já não tem razão de ser. Saúde e sucesso para aqueles que começam, ou recomeçam. Solteirice, pra quem quer casar consigo mesmo. Alegria e a sorte de um amor tranqüilo pra todos nós.

Me pone los pelos de punta

Passei o dia pensando na roupa que iria usar pra recepcionar Caetano. O show seria à noite, às 20h, mas desde o café da manhã que eu refletia sobre o tema – é melhor algo mais clássico ou mais muderno? Optei pelo híbrido, nem tanto lá, nem tanto cá. O cara de almost seventy mais lindo e menos velho que eu já vi, afinal, mereceu o cuidado. É incrível como ele consegue estar no lugar certo antes de todo mundo, sem o mínimo esforço, sem soar caricato. Depois, o povo corre atrás, mas aí ele já está captando com suas antenas 3.0 o próximo movimento da galáxia, e a turma da rabeira segue comendo poeira.
O show foi irretocável, principalmente para quem estava atualizado com sua proposta. O repertório do novo CD, construído com a participação do público em um blog (já desativado), estava todo lá. Os transambas de Caê são isso mesmo – transambas, meio difíceis de definir de outra forma. As canções flertam com o samba, mas também afundam o pé no rock (guitarra, pra quem quiser ouvir), e são absolutamente originais.
No palco, Caetano deita e rola e rouba a cena ao permitir todos os registros de mídia pós-pós-modernos. Nada de censura. Nada de avisos sonoros proibindo fotos e filmagem. CD com capa tosca e sem encarte vendido a 10 paus na saída do show. E ele ainda faz poses e caras e bocas para as câmeras. A turma do gargarejo delirava, buscando o melhor ângulo pra depois jogar no Youtube.
No meio do transamba, Caetano surge com “Volver”, de Carlos Gardel, interpretada por Estrella Morente/Penélope Cruz no filme de mesmo nome, de Almodóvar. Coisa linda. Lembro da sua participação cantando Currucucu Paloma, na película Fale com Ela, quando um personagem diz então: “Este Caetano me pone los pelos de punta”. That’s it. E mais uma vez me arrepio quando ele chega com Não Identificado, dizendo-se ainda apaixonado.
Se ele fizesse uma canção pra mim, um iê-iê-iê romântico, eu prometia não fazer feito Luana Piovani, espalhando a notícia por aí com essa desinibição vulgar. Contava só para os mais próximos, pra valorizar meu feito, que seria um enorme feito. Afinal, em Caetano, nenhuma pretensão é inadequada. E ele termina por dar a volta em todos nós – a roupa que escolhi não estava à sua altura. Qual estaria? Talvez nenhuma.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sobre doidos e pusilânimes

De vez em quando me pego refletindo sobre doidice. A doidice da gente, essa que todos temos, em maior ou menor grau. Não conheço um quase doido que rasgue dinheiro, mas conheço um monte que usa essa condição como desculpa pra falta de caráter. E os doidos cegos-de-si, aqueles que jogam nos outros a fragilidade da própria vida miserável? Lástima. Tem outros. Tem aqueles que reclamam até morrer de uma situação que consideram (muito) desconfortável e, quando a situação periga mudar - reclamam mais ainda porque querem permanecer lá, na lama.
Gosto dos doidos alegres, que fazem a vida da gente mais divertida com suas tiradas espirituosas. Tenho horror à gente frouxa, à covardia, à incompetência. Gosto dessa palavra: pusilânime. Há vezes em que não há outra pra descrever someone.

domingo, 4 de outubro de 2009

Filhos


Essa é a minha Alice

Sábado, dia 3/10, estávamos brincando de seguir as palavras com as crianças. Aquela brincadeira de dizer uma palavra e depois a outra pessoa diz outra palavra relacionada, capiche?
E aí, Alice, minha pequena, tinha que relacionar a palavra dela à palavra "casamento". Ela, então, disse "felicidade". Achei tão lindo.

Um passo e você não está mais no mesmo lugar

The blog. Afinal, vou começar a escrever um. Todo mundo já tem, virou arroz de festa, mas só agora acho que criei disposição para manter uma rotina de publicação dos meus escritos, embora ainda não saiba exatamente sobre o que eles vão versar. Meu irmão já criou o endereço pra mim, e agora não tenho mais escapatória. Irá chamar-se “a pedidos”, o blog. Ok, titulozinho deveras enxerido, ligeiramente cabotino, mas não menos verdadeiro. A culpa – ou responsabilidade – é de vocês.

A verdade é que já estabeleci inúmeros compromissos na minha rotina, e não queria mais um. Mas, depois, sucumbi, ao perceber, enfim, que a tarefa vai gerar mais prazer que esforço. Se tanta gente tem um, não deve ser assim uma coisa tão complicada de fazer. Ainda mais pra mim, que sempre encontro mote pra escrever, acho que tudo merece uns ditos, uns comentários.

Ao contrário do blog do meu maridex, que tem um tom político, faz análise de mídia e coisas que tais (vão lá: cleristonchargista.blogspot), até por conta do “estar-no-mundo” dele, o meu deverá seguir por um caminho mais intimista, pessoal. Pero nada de “querido diário”, ok, pessoas? Ninguém vai precisar se abusar com textos começando assim: “hoje estou deprê”. Não é o objetivo (até porque não quero nunca estar deprê – ô perda de tempo!). Também não quero ganhar dinheiro com ele, que aí ia perder a graça e a espontaneidade. Quero comentar sobre as coisas do mundo, sobre o que me interessar, sobre o que me chamar a atenção, falar dos e para os meus queridos – preparem-se! E conversem comigo. Deve ser o que há de tudo de bom ver os posts dos nossos afetos se acumulando...

Tô começando. Pedroca, meu irmão, já disse que me ajudava se eu me enrolasse. Sobre o visu do bichinho, vou pedir um help a Clériston, que é mais sabido pra essas coisas. Queria mesmo era um personal nerd, pra ficar botando coisas incríveis no meu blog e deixando ele super. De qualquer forma, prometo me esforçar para deixar de ser tão analógica, e estabeleço com vosostros o compromisso de escrever ao menos duas vezes por semana no meu blog. Legal esse negócio de “meu blog”, já estou adorando.


Testei agora a disponibilidade do endereço do MEU blog. E ele já vai começar a existir... Endereço:apedidos-marcella.blogspot. E este texto já está seguindo pra lá. Não me deixem sem audiência!