quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Antimonotonia


Foto: Alex e Tati, Dani e Paulo, somando as escovas de dentes

Atualmente, ando às voltas com histórias de casamentos.Gente próxima e querida resolveu juntar os trapos, ao mesmo tempo. Outras gentes, outros afetos, caminham do lado oposto, e estão desfazendo seus casórios, partindo para aventuras diferentes, buscando viver com mais leveza e alegria. As duas turmas partilham entre si a esperança de construir uma rotina que se ajuste a seu ideal de felicidade, ou que se aproxime ao máximo dele. Nada mais justo.

Há uma terceira via por aí, no entanto, que estacionou numa espécie de limbo: nem sobe ao céu e nem desce ao inferno. Circula pelo purgatório com uma desenvoltura de dar medo e, inconscientemente, submete seu próprio bem-estar a terceiros, sejam estes pessoas ou situações. Assim, o pobre do casamento, coitado, leva a culpa de todas as mazelas que afligem estes seres. Como se um arranjo social pudesse, sozinho, dar conta da felicidade ou da infelicidade de alguém. Casamos porque, até hoje, não encontramos maneira melhor, mais eficiente, de dividir a vida com quem achamos que vale a pena. Casar é prático, afinal de contas, e se o casal funciona, o arranjo tem potencial para ser uma delícia. O problema é quando as pessoas resolvem extrair daí todas as alegrias; no fim das contas, terminam creditando ao mesmo casamento todas as frustrações. Quanta injustiça.

Buenas, mas o que significa, afinal, um casal “que funciona”? De assistir e de viver, creio que nada é menos verdadeiro que o tal “opostos que se atraem”. Afinidades é que fazem a gente olhar para a mesma direção, e um na direção do outro. Importante também é começar a procurar the partner a partir dos defeitos, não das qualidades. Aquela pessoa que você adora e cujas falhas você conhece e tolera – that´s the one. É preciso, ainda, estabelecer um local muito adequado para as expectativas, que devem existir para que a gente ande pra frente, não para serem paralisantes. Não case com um artista se você pretende viver com um homem organizado, prático e financeiramente controlado. Simples assim.

As pessoas até mudam, mas só se estiverem dispostas a isso. Impor não funciona, e o resultado costuma ser distância e incomunicabilidade. Triste... Mais triste ainda é conviver com a insatisfação constante, permanente, sem procurar a saída. Infelicidade não é destino - é escolha. Acredito com todas as forças que as pessoas que estão imobilizadas em um espaço que, segundo elas, não lhes confere mais o prazer que desejariam, de alguma forma encontram neste local algum conforto. Seja qual for – familiaridade, segurança, esperança de transformar o outro ou a situação. Um dia, quando o incômodo for maior que a preguiça...

Relacionamentos são complicados, isso a gente está bege de saber. No entanto, um mesmo casal pode se reinventar, se estiver disposto, se houver afeto e respeito. Ninguém precisa desistir na primeira crise, nem resistir ad infinitum só porque o padre falou. Mais leveza, meu povo, pra rotina não ficar maior que a vida: alguém vai ter que fazer feira, casais com crianças vão ter que abdicar das farras frequentes, a mãe dele ou dela irá encher o saco, vez em quando. Em contrapartida, vocês vão compartilhar um jantar gostosinho com um vinho legal, enquanto os pirralhos dormem; vão chamar os amigos pra uma farrinha e preparar tudo com todo o amor do mundo; vão ao Bompreço juntos e o tempo na fila vai ser menos irritante, porque vocês estarão conversando sobre política e sobre a próxima viagem que farão juntos.

A rotina não é vilã, apenas; é parceira, muitas vezes. Traz tranqüilidade, conforto. Se os ciclos se fecham, que seja apenas por isso, porque terminou o tempo deles. O recheio da coisa toda não tem que ser desagradável, mas que idéia! O cara não tem que ser babaca e deixar crescer a barriga só porque casou; a mulher não tem que ser chata e virar mãe só porque casou. A intimidade não nos dá o direito de sermos descorteses, desatentos, mas nos permite, olha só que confortável, apresentar uma depilação meio passada sem medo do julgo alheio. Porque você sabe que ele não tá nem aí pra isso, porque ele conhece e ama você para além do tamanho dos seus pelos.

Portanto, moças e rapazes, proponho destinarmos ao casamento o tamanho e o poder que ele, de fato, tem. Os casórios apenas juntam os casais; o que estes casais fazem com isso, aí já é outra história. Fim, para os que já não tem razão de ser. Saúde e sucesso para aqueles que começam, ou recomeçam. Solteirice, pra quem quer casar consigo mesmo. Alegria e a sorte de um amor tranqüilo pra todos nós.

3 comentários:

  1. Amiga, adorei esse texto.Além de você escrever bem, fala a realidade de uma forma simples, verdadeira e objtiva.

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  2. Valeu, friend. E vamos ser felizes, que estar bem é a melhor vingança, já dizia o filósofo.
    bjs!

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