quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Me pone los pelos de punta

Passei o dia pensando na roupa que iria usar pra recepcionar Caetano. O show seria à noite, às 20h, mas desde o café da manhã que eu refletia sobre o tema – é melhor algo mais clássico ou mais muderno? Optei pelo híbrido, nem tanto lá, nem tanto cá. O cara de almost seventy mais lindo e menos velho que eu já vi, afinal, mereceu o cuidado. É incrível como ele consegue estar no lugar certo antes de todo mundo, sem o mínimo esforço, sem soar caricato. Depois, o povo corre atrás, mas aí ele já está captando com suas antenas 3.0 o próximo movimento da galáxia, e a turma da rabeira segue comendo poeira.
O show foi irretocável, principalmente para quem estava atualizado com sua proposta. O repertório do novo CD, construído com a participação do público em um blog (já desativado), estava todo lá. Os transambas de Caê são isso mesmo – transambas, meio difíceis de definir de outra forma. As canções flertam com o samba, mas também afundam o pé no rock (guitarra, pra quem quiser ouvir), e são absolutamente originais.
No palco, Caetano deita e rola e rouba a cena ao permitir todos os registros de mídia pós-pós-modernos. Nada de censura. Nada de avisos sonoros proibindo fotos e filmagem. CD com capa tosca e sem encarte vendido a 10 paus na saída do show. E ele ainda faz poses e caras e bocas para as câmeras. A turma do gargarejo delirava, buscando o melhor ângulo pra depois jogar no Youtube.
No meio do transamba, Caetano surge com “Volver”, de Carlos Gardel, interpretada por Estrella Morente/Penélope Cruz no filme de mesmo nome, de Almodóvar. Coisa linda. Lembro da sua participação cantando Currucucu Paloma, na película Fale com Ela, quando um personagem diz então: “Este Caetano me pone los pelos de punta”. That’s it. E mais uma vez me arrepio quando ele chega com Não Identificado, dizendo-se ainda apaixonado.
Se ele fizesse uma canção pra mim, um iê-iê-iê romântico, eu prometia não fazer feito Luana Piovani, espalhando a notícia por aí com essa desinibição vulgar. Contava só para os mais próximos, pra valorizar meu feito, que seria um enorme feito. Afinal, em Caetano, nenhuma pretensão é inadequada. E ele termina por dar a volta em todos nós – a roupa que escolhi não estava à sua altura. Qual estaria? Talvez nenhuma.

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