domingo, 28 de março de 2010

En los pueblos de mi Andalucía

Bom isso de aprender o porquê das coisas. Sempre fui ruim em matemática, e hoje acho que talvez seja porque ninguém explicava o motivo daquilo tudo existir, para que serviam as fórmulas, nem como os matemáticos haviam chegado até elas... Bom, mas também pode ser só falta de jeito mesmo.

Anyway, queria mesmo era falar sobre o curso de estrutura de baile flamenco que fiz ontem à tarde. Danço há uns 15 anos, já, com muitos intervalos no meio do caminho, mas nunca, de fato, fui apresentada à base das estruturas musicais com as quais aprendi a conviver. Bailamos tangos, sevillanas, alegrías, bulerías. Mas cadê saber distinguir a diferença entre elas, assim, só de ouvir?

Via, em shows, os bailarinos entrarem junto com os músicos, às vezes sem conhecer aqueles músicos, e a dança funcionar. Sabia que tinha uma estrutura para cada baile que permitia isso, mas não entendia bem cada uma delas. Para os espanhóis, tudo é muito natural, mas a gente precisa ir lá na base para compreender exatamente os palos, como eles chamam os diversos ritmos de flamenco que existem.

Ontem, conheci a seqüência que devemos imprimir a cada palo, a cada baile. Comecei a deixar de bailar apenas intuitivamente e subi um degrau bem importante. Faltam muitos, ainda, são muitos bailes, muitas técnicas para aprender. Já sei, no entanto, que quando o cantaor começa seu cante, o baile o reverencia, e não sapateia, não cobre a voz dele com o som dos pés. Sei que chamamos o guitarrista com o sapateado, sei onde estão os silêncios, os braceados, pelo menos dos palos mais bailados.

Fiquei tão feliz por começar esse estudo, mais aprofundado, mais consistente. Senti como se estivesse mudando de paradigma, iniciando minha evolução. Minha meta, agora, é chegar prum guitarrista, na hora da apresentação, e dizer assim: "vou dançar duas letras de tango", e começar e terminar meu baile junto com ele, brincando, me divertindo. Tô no caminho!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Conselho

Essa musiquinha é de Almir Guineto, grande sambista. Seguindo a lógica do antepenúltimo post, não temos mesmo tempo pra viver mal, meu povo.

Conselho

Deixe de lado esse baixo astral
Ergua a cabeça enfrente o mal
Agindo assim será vital para o teu coração
É que em cada experiência se aprende uma lição
Eu já sofri por amar assim
Me dediquei mas foi tudo em vão
Pra que se lamentar
Se em tua vida pode encontrar
Quem te ame com toda força e ardor
Assim sucumbirá a dor
Tem que lutar
Não se abater
Só se entregar
A quem te merecer
Não estou dando nem vendendo
Como o ditado diz
O meu conselho é pra te ver feliz

quinta-feira, 25 de março de 2010

Chila relê domilindró

Estava assistindo a um MTV na Estrada antigo, com o pessoal da Nação Zumbi ainda na era Chico Science. Fiquei ali, olhando Chico falar, e pensando, fazendo conjecturas. Até onde será que ele teria ido, com todo aquele talento? Sim, porque tudo era tão novo, e mesmo assim já fazia tanto sentido. Lembrei do tempo em que víamos os meninos da "cena mangue" por aí, em todo lugar, fazendo shows na Soparia, na UFPE, na Fun House. Como nós, que passamos dos 30, somos privilegiados por termos vivenciado de perto aquele movimento.

Chico tinha, então, uma percepção rara e particular do que estava fazendo ali. Não se tratava de marketing, de autopromoção, apenas. Tratava-se de comunicação, que, no caso dele, era construída através de palavras, melodias e movimentos. Ele falava, e a gente ouvia. Lembro do meu irmão chegando em casa com o primeiro CD de CSNZ, Da Lama ao Caos. Não entendi muito, a princípio, mas gostei rápido. Era uma coisa quase pirata, que foi passando de mão em mão, boca a boca, até que ganhou a cidade, o Estado, o mundo. E a gente, que não estava acostumado, começou a achar a nossa terra um lugar muito legal. Toda semana, nossos amigos estavam na MTV, e a MTV, naquela época era, de fato, uma vitrine para os bons. Ficávamos orgulhosos que só.

Mérito de Chico, e de todo mundo que estava junto, construindo essa história, hoje a gente acha muito normal que digam que Pernambuco é o Estado mais interessante do país, principalmente no que diz respeito à cultura. Agradecemos, e seguimos em frente, sem deslumbre, contando nos dedos dos pés, das mãos, e nos dedos dos vizinhos, o tanto de gente boa e talentosa que nasceu e cresceu aqui. Eita, perdemos as contas, pessoal. Fazer o quê?

quinta-feira, 18 de março de 2010

Benção da felicidade medíocre

Vivo às voltas com temas relacionados a coisas muito importantes, que mexem com o destino de muita gente. Trabalhar no governo tem disso: ficamos próximos a informações e situações que terminam, de uma forma ou de outra, interferindo na vida de todo mundo. Por outro lado, também dou aulas; preciso ser sabida pros meus meninos, que estão aprendendo uma profissão, e motivá-los, e ajudar a educá-los. Pois bem. Às vezes, essa profundidade toda cansa; a responsabilidade é grande, e os problemas, complexos.

Nessa hora, ainda bem, surgem os pequenos eventos que nos permitem viver - conheci o termo através das meninas do 02 Neurônio - a felicidade medíocre. São coisas bestas que fazemos e nos alegram sobremaneira. A mim, por exemplo, ir ao salão de beleza e fazer a unha me deixa felicíssima. Principalmente se a manicure é boa, não tira bife e pinta sem borrar. E a cor do esmalte fica linda na mão. Alegria total. Ontem fiz as unhas e os cabelos. Foi ótimo.

Bom também é ouvir uma música bem boa, pra cantar junto. Decoro letras com muita facilidade e adoro dirigir cantando. Pronto - já basta pra injetar um pouquito de felicidade medíocre na veia. Ir almoçar num lugar legal e usufruir das coisas chiques que a vida oferece (infelizmente, não a todo mundo)- adoro. Uma vez, comi num bistrôzinho ultrachiquérrimo em São Paulo, e me senti a própria Audrey Hepburn, com sua elegância irretocável, caminhando por aí.

Tomar um banho e me arrumar bem muito, e escolher a roupa com todo o cuidado, e gostar do resultado, mesmo que seja pra ir trabalhar, no mesmo lugar de todos os dias. Isso é muito divertido; sempre gostei de combinar peças de roupas e pensar sobre o tema, e ir variando as composições. Tenho muitos vestidos e acho que eles são lindos, muito femininos.

Ou seja: as tais coisinhas fúteis que dão leveza ao cotidiano são supérfluos mais que necessários. Não dá pra ser profundo e tenso todo o tempo, senão a gente morre de infarto. E vira um chato de galocha, daqueles que ninguém agüenta por perto. Portanto, reservo-me o direito de ser besta vez em quando. Tenho dito.

* Hoje soube que minha amiga Dani está grávida e amei a notícia. Parabéns linda Dani, tudo de bom pra o bebezinho que chega! Que delícia é um bebê... Mas esse é tema pra outro post.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Nascimento Silva, 107

Vinicius de Moraes sempre me emociona, a despeito de toda a farofa em seu entorno. Suas andanças pela música popular, deliciosas, causaram tantas distorções, tantos entendimentos precários, descontextualizados. Pena. Porque Vinicius é gênio na tradução dos sentimentos, na sensibilidade com que reproduz vivências, sensações, afetos, delírios. Tão humano, tão cheio de defeitos. Feito a gente.

Olha só que lindo. Foi Vini quem escreveu:

Carne

Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas
Que importa se existe entre nós muitas montanhas?
O mesmo céu nos cobre
E a mesma terra liga nossos pés.
No céu e na terra é tua carne que palpita
Em tudo eu sinto o teu olhar se desdobrando
Na carícia violenta do teu beijo.
Que importa a distância e que importa a montanha
Se tu és a extensão da carne
Sempre presente?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Há males...

Nem tudo que parece é, diz a sabedoria popular. Particularmente, nem tudo que parece ruim, é de fato ruim. Falo isso porque estou adorando, neste momento, ouvir o CD de Otto. "Certa manhã acordei de sonhos intranquilos" é o título do bichinho.

O CD é massa. Diz ele, o próprio Otto, que o trabalho, de certa forma, acompanhou a sua separação da ex Alessandra Negrini. As músicas são um reflexo claro desta circunstância - e a fossa do galego terminou se transformando em um catalizador maravilhoso de criatividade e sensibilidade.

Tem uma música que diz assim: "Quando eu perdi você/ganhei a aposta". Quer mais? Lá vai: "e até pra morrer/você tem que existir". Ui.

domingo, 7 de março de 2010

Fervendo

Ai, que calor. Nunca senti tanto calor como agora, nestas paragens recifences. Qualquer movimento, mínimo que seja, é motivo para suar em bicas. Ontem, no flamenco, 11h da manhã, parecia que a gente estava dançando em cima de brasa, a despeito da quentura que já é parte do repertório andaluz. Saía fumacinha dos nossos juízos gitanos.

O jeito é ficar parada. Imóvel. Estática. Sexta feira, peguei um táxi, correndo, pressa pra chegar ao trabalho. O carro do homem estava com o ar-condicionado quebrado. Desejei que ele tivesse uma dor de barriga histórica, por não ter me avisado a tempo. A viagem foi ruim. Terrível. Que calor do cão.

Estou suando agora, escrevendo este post. Vou parar, pra que o movimento dos meus dedos nas teclas não piore este calor fundamental que estou sentindo. Sorte a desse povo que mora em Vancouver. Inveja de quem participa das Olimpíadas de Inverno. E a inveja não é um bom sentimento.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Oh, céus

Mais uma das crianças, voltando da escola, no carro:

Júlia, a minha filha mais velha, 10 anos: "eu e as meninas lá da sala vamos criar um fã clube para o irmão de Gabriel. Ele é muito lindo!"

Alice, a pequena, 4 anos: "ele tem músculos?"

Ai, Jisus.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tonada de Luna Llena

Yo vide una garza mora
Dándole combate a un rio
Así es como se enamora
Tú corazón con el mio

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante...

Anda muchacho a la casa
Y me trae la carabina
Pa' mata este gavilán
Que no me deja gallina

La luna me está mirando
Yo no se lo que me ve
Yo tengo la ropa limpia
Ayer tarde la lavé

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante...

segunda-feira, 1 de março de 2010

O homem e a menstruação

De vez em quando acho que estou grávida, e fico louca, porque já tenho filhos suficientes pra uma vida. Não há nenhum motivo concreto que justifique essa sensação. Os contraceptivos necessários, fazemos uso deles, mas mesmo assim... Sempre acho que o destino há de me pregar uma peça, e serei eu uma daquelas exceções que vai parar no Fantástico. Então, ao contrário de muitas mulheres, fico muito feliz em menstruar, acho uma maravilha.

Não que eu adore a menstruação em si, mas o alívio que ela traz. Não sinto dores nem desconforto, o que é ótimo. Meu marido, no entanto, age como se eu fosse morrer de hemorragia a qualquer momento. Ele diz: “está prevenida? Olhe, vai que você menstrua na hora da reunião...” Explico que não vou jorrar sangue, que não é bem assim, que o corpo avisa quando a coisa vai acontecer... Ele entende mais ou menos. Não é privilégio dele.

Uma vez, uma conhecida me contou que, na fila do consulado americano para tirar o visto, aquele estresse do cão, pediu ao guarda pra entrar e ele deixou – motivo: ela disse que tinha acabado de menstruar. Ele arregalou o olho e, diante do absoluto desconhecido, abriu a porta. Ela tirou o visto na frente dos coitados que estavam torrando ao sol na fila.

Está claro que os homens têm medo das mulheres menstruadas, por algum motivo que deve ser ancestral. E olhe que tudo hoje é muito menos misterioso do que já foi um dia, mas não adianta, o medo persiste. Só nos resta, pois, aproveitar a chance e furar umas filinhas de vez em quando.

Flamenco

Finalmente, depois de tanta espera, consegui achar uma professora de flamenco daquelas! A bichinha é baiana, e virada. A primeira aula aconteceu neste último sábado, e, como a turma já tem uma base, avançamos rápido, no ritmo bom de quem quer mais é chegar logo no destino. Foram duas horas que passaram voando, e eu nem senti que o sol lá fora convidava a ir à praia... Delícia.