terça-feira, 27 de outubro de 2009

A mulher e o cabelo


Eu, meus cabelos e minha cerveja

Outra sugestão para meus escritos, que acato com mucho gusto: mulheres e sua relação com os cabelos (próprios e das outras), uma coisa, assim, no mínimo, delicada. Os meus, por exemplo. Gosto deles, acho que são legais. Só que poderiam ser menos volumosos, ou com os cachos mais definidos. Poderiam não ficar horrorosos depois de uma ventania (seria a glória). Neste caso, a solução é prendê-los. Odeio o vento. Odeio as horas que passam e deixam meus cabelos feios, embora os homens ao meu redor jurem que não notam a diferença. Aposto que notam.

Para domá-los, lavo todos os dias, e com xampu e condicionador que hidratem bem. Penteio, apenas nessa hora. Passo um leave-in. Passo uma mousse modeladora, em seguida. Enxugo com a toalha, modelando os cachinhos. Daí por diante, NINGUÉM pode tocar nos meus cabelos até que eles sequem. Nem depois que secam, aliás. Porque senão eles ficam feios. Uma coisa tipo Gal Costa. Sempre achei aquele cabelo mulher-desquitada-nos-anos-80 horrível.

Cuido muito do cabelo, e só corto com pouquíssimos eleitos. Corto pouco, porque acho que fico mais bonita com o cabelo grandão. Médio também não presta – ou curto, ou enorme, senão fico feia. Não tenho a menor intenção de ficar feia, nem hoje, nem nunca. Quero ser uma velhinha lindinha. Minha amiga Anna Paula tem um cabelo lindíssimo, maravilhoso, e está inventando de cortar. Sou contra. Tô numa fase assembléia de Deus.

De vez em quando, vario, e faço uma escova. Fico bonita, gosto do resultado. Mas também gosto dos cachos, a versão preferida do meu maridón, que acha o liso “lambido”. Ele fica danado porque não pode tocar no meu cabelo. Nunca. E me chama de louca. Uma cabelereira queria me convencer a fazer escova inteligente. Não fiz. Inteligentes são as variações sobre o mesmo tema. No vento, prefiro segurar o cabelo do que a saia. Sei, estou quase surtando. Mas vale a pena, quando olho no espelho e acho que não estou parecida com a Gal Costa. Melhor é parecer comigo mesma.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Esquisitices

É fato que às vezes sou um tanto esquisita. Tenho vergonha pelos outros (não vejo programas do tipo Ídolos por isso. Detesto ver gente sendo humilhada por vontade própria), ojeriza a telefone, horror a movimentos gregários (clubes, associações, sindicatos, grupos de leitura – MEDA!). Também não faço caridade ou voluntariado, nem vou a passeatas. Visito pouco a minha avó, e ela cobra mais atenção. Os únicos grupos organizados dos quais faço questão de fazer parte são os blocos de carnaval.
Sou assim, não adianta forçar a natureza. Por outro lado, adoro juntar gente e tenho muitos amigos queridos, tão queridos como podem ser os amigos. E é ótimo quando a gente se encontra, ri da vida, e só. Ficamos felizes, no commitment. Ô, delícia.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Por que...

Homens fazem barulho ao comer?
Mulheres gordinhas usam calças apertadas demais?
A fila do Bompreço sempre empaca na sua vez?
As baratas existem?

Há coisas que não se explicam, afinal.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Minha alma é irmã de Deus ou Caim?

Carrero e Saramago discutem (metafisicamente, já que o nosso Raimundo apenas comentou o que lhe pediram para comentar) sobre Deus, bíblia, bondade, maldade. Brilhantes, os dois, terminam reproduzindo o que sole acontecer em toda discussão sobre ateísmo ou crença: quem analisar o discurso deles, com cuidado, vai perceber que toda água corre pro mar, neste caso. Notem que Saramago, em seu novo livro, questiona a maldade contida na bíblia e a suposta bondade divina. Ué? Deus não era uma abstração, uma criação humana? Somos, todos nós, seres pensantes (os que assim merecem ser classificados) céticos e místicos a um só tempo.
Duvido de tudo. Mas peço a benção a meu orixá enquanto uso a medalhinha de Santo Antônio que uma baiana me deu em São Paulo. Saravá, amém, que toda ajuda é bem vinda!

domingo, 18 de outubro de 2009

The True


Foto: Eu e Ju - amor de verdade

Fui buscar uma tacinha de Amarula na geladeira porque sobre um tema desses não dá pra falar assim, cheia de realidade. Já tinha tomado uns chopes no Neno, e achei que era necessário abrir um tantinho mais a consciência pra discorrer sobre o tema proposto por Paulinho, que hoje mora a milhas e milhas de nós, lá em Santiago do Chile. Dia desses, ele estava brabo, danado com seus amigos chilenos, pés no chão além da conta, segundo consta. “Sinto falta dos meus amigos daí”, disse, “e queria que tu falasse sobre verdade, essa coisa tão complicada”. Acho que foi mais ou menos assim que foi feito o pedido, talvez com ligeiras variações no texto. Ele lembrou de Foucault e de seus estudos sobre a Verdade, que o deixaram “bem doido”.

Bom, vamos lá. Sou jornalista, e na minha profissão a gente lida o tempo todo com esse conceito. A princípio, deveríamos tratar apenas com fatos ditos “verdadeiros”. Sempre digo a meus alunos que verdade, pra nós, é a adequação do enunciado aos fatos. Tudo além disso é filosofia ou interpretação subjetiva, e não cabe no jornalismo. Será? Na prática, sabemos que o próprio conceito de notícia está entremeado por decisões de caráter pouco objetivo, relacionadas mais ao que o escriba/repórter/editor carrega consigo enquanto sujeito, ou enquanto parte de um sistema maior que ele, que aos fatos propriamente ditos. Isso faz o meu chefe subir pelas paredes, mas, no fundo, aposto que ele sabe que a engrenagem engloba a todos nós, não apenas aos jornalistas e agregados.

Contraditoriamente, a verdade das coisas, para as pessoas, está muitíssimo ligada aos desejos. Nosso olhar é dirigido e embaçado, por nós mesmos, no mais das vezes. O que não significa que ele é menos verdadeiro que o do Outro, afinal. Apenas diferente, particular. Complicou? É complicado mesmo. Mentir é dizer o contrário da verdade, mas não raro fazemos e dizemos coisas consideradas, a princípio, excludentes (se uma é verdadeira, a outra é falsa, e vice-versa), sem que necessariamente estejamos sendo não-verdadeiros. É verdade que às vezes quero que minhas filhas esqueçam que eu existo e parem de repetir “mamãe” ad infinitum. É verdade que não posso passar muito tempo, nem alguns minutos, sem saber onde elas estão e o que estão fazendo.

Tudo seria mais simples se não estivéssemos tão socialmente engessados. A mente e o coração permitem mais variações e combinações que querem nos fazer crer. Segundo Foucault, para nós, sujeitos, a verdade seria um mecanismo do qual dispomos para preencher o vazio que constitui nosso pensamento finito, ou a justificação racional que elaboramos para compreender nossas práticas cotidianas, ou ainda o escudo protetor que adquirimos diante das vicissitudes que nos ameaçam. Muito mais complexo, então, que apenas não mentir.

Falar tudo que vem à mente, sem censura, poderia, então, transformar alguém em “sincero”, pois não? Duvido. Rompantes de raiva podem nos fazer dizer coisas que não sentimos (sempre), só para ferir e magoar o outro. Você diz “te odeio”, e naquele momento essa é a mais pura expressão da verdade. Horas depois, o mesmo ódio vira só mágoa e saudade. De onde deduzimos que é impossível expressar a verdade apenas com as palavras, por mais que elas sejam muitas, por mais largo que seja nosso vocabulário. No mais das vezes, sem querer ser determinista, creio que a verdade é absolutamente silenciosa.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

El Duende


Foto: Show na Casa de La Memoria, em Sevilla

Marido, meu companheiro em todas as viagens, me pede para escrever sobre o flamenco. Sobre o que sinto ao dançar, sobre o que é esse danado desse “duende” – dizem que quem tem duende é capaz de bailar, de fato; quem não tem, pode até se esforçar, mas não chega lá. Seria, assim, uma espécie de borogodó cigano. Não sei se tenho el duende. Gostaria muito de tê-lo.

Só sei que, quando danço, não enxergo pelo retrovisor. Só vejo e sinto o movimento, escuto a música e vou. Ainda hoje, depois de tanto tempo em contato com o baile, não paro de me emocionar com a percussão do cajón, e ver dançar alguém que sabe o que está fazendo me arrepia o corpo, literalmente. Muitas vezes tive vontade de chorar ao assistir a um espetáculo.

Minha experiência mais desconcertante nesta seara aconteceu quando fiz um workshop com Rafaela Carrasco, bailarina espanhola. Fiquei besta com ela – as marcações ditas em castellano, o jeito de começar a aula, sem fazer nada de alongamento ou de aquecimento, as mãos, a postura. Incrível.

Foram sete dias de exercícios diários e intensos, difíceis, pés e joelhos esfolados e uma tristeza grande no peito na hora de ir embora. Marido, que estava lá comigo, brigou – “nada a ver tu ficar assim. Pensa que valeu a experiência”. Mas eu só pensava que estava acabando... E ia sentindo aquele frio no estômago que a gente sente quando um namoro está pra terminar, quando você perde seu filho na praia, quando o carro fica na reserva no meio do engarrafamento.

Graças a Camarón, estou de volta. Descolei novas companheiras de baile e sigo castigando os tablados por aí. Olé!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Como Deus quiser

Carlinhos, colega e amigo, insiste para que eu fale de horóscopo no blog. Relutante a princípio, sucumbi agora, depois que ele passou a fazer do pedido um mantra. Com este texto, aliás, inauguro uma fase nova: escreverei, de fato, “a pedidos”. Mandem os motes e eu vou escolher um tema para falar sobre, a partir das sugestões dos nobres leitores.
Bom, vamos aos horóscopos. Não servem pra nada, a princípio, até porque, como diz o samba, “o amanhã será como Deus quiser”. Mas a gente lê. Eu, pelo menos, leio. Nunca concordo com o que leio, mas sigo tentando descobrir algum sinal naqueles escritos. Vai que dá certo... Gosto de saber sobre as características dos signos – sou sagitário, e me identifico com um monte de coisas que os astrólogos dizem sobre gente de sagitário.
Áries, por exemplo. Pessoas mandonas, briguentas, mas com grande coração. Gosto delas. Touro – minha filha mais velha: teimosa, tagarela, cheia de argumentos. Leão – minha filha mais nova: ciumenta, falante, gosta de palco e platéia. Aquarianos são ousados, pacientes, amorosos, à frente do seu tempo. E segue por aí...
Quanto a prever o futuro... Será que ia ser bom? Pra que saber das desgraças antes da hora, pra sofrer por antecedência? E das coisas boas? Que sem graça. Bom é ir vivendo e pulando os obstáculos, ficando feliz com o que acontece de bom. Senão, ninguém ia sair de casa pra ver futebol - quer coisa mais imprevisível? Se o caminho fosse conhecido, a gente deitava, dormia e esperava chegar o fim dele. Boa mesmo é a trajetória.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Na Paulicéia Desvairada


Por essas coincidências da vida, desde os meus pós-20 anos de idade que vou com freqüência a São Paulo. Adoro. Trabalho, congresso, curso – eventos que fazem todo mundo ir a São Paulo costumam me levar lá pelo menos uma vez por ano. Aproveito, então, para fazer as coisas deliciosas que a cidade oferece e muita gente, por preconceito (“é só fumaça!”) ou pressa, desconhece. Esse ano já estive por lá duas vezes. Prometi a um amigo que vai viajar em breve uma sugestão de roteiro pra circular e curtir the Sampa city. Cada caminho, lógico, é pessoal e intransferível, mas aposto que quem for a esses lugares não vai se arrepender:

- Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Sé (linha vermelha do metrô, desce na estação Sé). É um dos mais lindos que já visitei, não sei se porque sou apaixonada por palavras, textos, dizeres, histórias. Nossa trajetória enquanto língua está lá, nossos autores mais representativos também. Passeando e vendo as influências ibéricas, indígenas e negras que compõem nossa história, a gente sente que o homem vale a pena. E que o Brasil é The Best, o melhor lugar do mundo pra se viver.

- Mercadão + 25 de março. Um clássico, todo mundo vai. Mas vale, sempre, a visita. O mercadão, com sua estrutura de ferro, parece com o nosso Mercado de São José, só que mais conservado. Por dentro, muitas barracas de frutas, especiarias, queijos, embutidos, carnes, temperos. E mais: bares ótimos, com comida idem e chope maravilhoso. Aliás, onde é que tem chope ruim em São Paulo? Na saída, suba pela 25, que tem toda a sorte de bugingangas pra vender, em lojas e nos camelôs. Ninguém sai de lá sem pelo menos uma sacolinha. Também tem metrô (estação 25 de março).

- Av. Paulista. Caminhar pela Paulista é uma experiência. Todo mundo corre, o tempo todo. Se você parar, te atropelam. Mas tem o Masp, que é sempre um oásis no meio da agitação. Tem o Centro Itaú Cultural, com shows e eventos de graça todos os dias, basta ir lá e pegar o ingresso uma hora antes. Tem o shopping Paulista, que é uma graça, com sua estrutura antiguinha. Tem as saídas pra Rua Augusta, Haddock Lobo...

- Rua Augusta.
Capítulo à parte. O baixo Augusta, onde ficam os hotéis, tinha fama de lugar perigoso e complicado (drogas, moças de vida fácil e que tais). Hoje, é cult. Novas lojas, escritórios e casas de show se instalaram por lá, embora a vizinhança ainda seja mista. Nada que incomode. Descendo, em direção à rua Oscar Freire, porém, a Augusta começa a ficar diferente. Mais lojas, mais restaurantes. Na esquina com a Oscar, a Galeria Ouro Fino merece a visita. Lojas mudernas, casas de tatuagem, de fantasias, de vinis antigos, roupinhas ótimas e não muito caras. Muito legal, quase uma Galeria Joana D’arc ampliada. No meio do caminho, tem as salas de cinema Unibanco, que só exibem filmes que estão fora do circuitão multiplex. Só tem uma coisa: a rua é toda ladeirada – preparem as pernas...

- Rua Oscar Freire. Eita, delícia! Não tem nada melhor nesse mundo que andar no meio de uma gente chique de doer, em calçadas limpíssimas, belíssimas, entre lojas de fachadas irretocáveis. Você se sente rica mesmo sem ser. É só botar uma roupa linda, óculos escuros grandes, fazer carão e escolher um salto confortável. Andar, andar e depois sentar num bistrô, pedir uma taça de vinho e um pratinho de massa ou salada (gente fina come pouco), e observar o movimento. Depois, um capuccino e um licorzinho. A conta (individual) já anda quase na casa nos três dígitos, mas vale todo o investimento. Depois, você, que não tem motorista nem cartão de crédito ilimitado, pode seguir para o brechó chique, vielazinha na esquina da Haddock Lobo que vende objetos e roupas muito interessantes. E que não custam todo o seu salário do mês. Tudo de bom.

- Shopping Pátio Higienópolis. Esse shopping é super, super lindo e charmoso, sem ser tão intimidante como o Iguatemi, que fica na Brigadeiro Faria Lima, nos Jardins. Tem lojas de vinho ótimas, muitos cafés e fica numa rua bem arborizada, em Higienópolis, of course, um bairro residencial muito agradável. Só não tem metrô perto. O Iguatemi é podre de chique, mas a gente, que é pobrinho, fica meio com medo até de chegar perto das vitrines. Porém, se você é ricaço, lá é o seu lugar – tem de Tiffany’ s a Cristian Louboutin. Ô, mega sena....

- Feirinha da Praça Benedito Calixto. Aos sábados, no bairro de Pinheiros, tem uma feira de antiguidades incrível nessa praça. Além dos objetos raros, bonitos e que ainda funcionam, a feirinha comporta uns espaços de comedorias escondidinhos, no interior (e descendo) de umas casas que circundam o local. Come-se muito bem, por um preço justo, ao lado de pessoas interessantes e simpáticas.

- Pinheiros. Ainda em Pinheiros, há, próximo à Av. Rebouças, locais bem agradáveis pra andar a pé, com montes de restaurantes e lojas diferentes e criativas. Lá tem também boas opções de hospedagem pra quem quer fugir do centrão. No shopping Eldorado, tem uma academia de flamenco super, onde fiz um curso em julho último, e também, para as crianças, o parque da Mônica.

Eu ainda podia citar a OCA, no Parque Ibirapuera, o próprio Ibirapuera, os bairros de Vila Madalena, Vila Mariana e Bixiga, a Praça da República, o Bar Brahma (na esquina da Ipiranga com a São João), os SESCs, as FNACs, o Galeto’s, os teatros... São Paulo é superlativa, e vou parar por aqui senão o texto não cabe no blog. Vão lá!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Antimonotonia


Foto: Alex e Tati, Dani e Paulo, somando as escovas de dentes

Atualmente, ando às voltas com histórias de casamentos.Gente próxima e querida resolveu juntar os trapos, ao mesmo tempo. Outras gentes, outros afetos, caminham do lado oposto, e estão desfazendo seus casórios, partindo para aventuras diferentes, buscando viver com mais leveza e alegria. As duas turmas partilham entre si a esperança de construir uma rotina que se ajuste a seu ideal de felicidade, ou que se aproxime ao máximo dele. Nada mais justo.

Há uma terceira via por aí, no entanto, que estacionou numa espécie de limbo: nem sobe ao céu e nem desce ao inferno. Circula pelo purgatório com uma desenvoltura de dar medo e, inconscientemente, submete seu próprio bem-estar a terceiros, sejam estes pessoas ou situações. Assim, o pobre do casamento, coitado, leva a culpa de todas as mazelas que afligem estes seres. Como se um arranjo social pudesse, sozinho, dar conta da felicidade ou da infelicidade de alguém. Casamos porque, até hoje, não encontramos maneira melhor, mais eficiente, de dividir a vida com quem achamos que vale a pena. Casar é prático, afinal de contas, e se o casal funciona, o arranjo tem potencial para ser uma delícia. O problema é quando as pessoas resolvem extrair daí todas as alegrias; no fim das contas, terminam creditando ao mesmo casamento todas as frustrações. Quanta injustiça.

Buenas, mas o que significa, afinal, um casal “que funciona”? De assistir e de viver, creio que nada é menos verdadeiro que o tal “opostos que se atraem”. Afinidades é que fazem a gente olhar para a mesma direção, e um na direção do outro. Importante também é começar a procurar the partner a partir dos defeitos, não das qualidades. Aquela pessoa que você adora e cujas falhas você conhece e tolera – that´s the one. É preciso, ainda, estabelecer um local muito adequado para as expectativas, que devem existir para que a gente ande pra frente, não para serem paralisantes. Não case com um artista se você pretende viver com um homem organizado, prático e financeiramente controlado. Simples assim.

As pessoas até mudam, mas só se estiverem dispostas a isso. Impor não funciona, e o resultado costuma ser distância e incomunicabilidade. Triste... Mais triste ainda é conviver com a insatisfação constante, permanente, sem procurar a saída. Infelicidade não é destino - é escolha. Acredito com todas as forças que as pessoas que estão imobilizadas em um espaço que, segundo elas, não lhes confere mais o prazer que desejariam, de alguma forma encontram neste local algum conforto. Seja qual for – familiaridade, segurança, esperança de transformar o outro ou a situação. Um dia, quando o incômodo for maior que a preguiça...

Relacionamentos são complicados, isso a gente está bege de saber. No entanto, um mesmo casal pode se reinventar, se estiver disposto, se houver afeto e respeito. Ninguém precisa desistir na primeira crise, nem resistir ad infinitum só porque o padre falou. Mais leveza, meu povo, pra rotina não ficar maior que a vida: alguém vai ter que fazer feira, casais com crianças vão ter que abdicar das farras frequentes, a mãe dele ou dela irá encher o saco, vez em quando. Em contrapartida, vocês vão compartilhar um jantar gostosinho com um vinho legal, enquanto os pirralhos dormem; vão chamar os amigos pra uma farrinha e preparar tudo com todo o amor do mundo; vão ao Bompreço juntos e o tempo na fila vai ser menos irritante, porque vocês estarão conversando sobre política e sobre a próxima viagem que farão juntos.

A rotina não é vilã, apenas; é parceira, muitas vezes. Traz tranqüilidade, conforto. Se os ciclos se fecham, que seja apenas por isso, porque terminou o tempo deles. O recheio da coisa toda não tem que ser desagradável, mas que idéia! O cara não tem que ser babaca e deixar crescer a barriga só porque casou; a mulher não tem que ser chata e virar mãe só porque casou. A intimidade não nos dá o direito de sermos descorteses, desatentos, mas nos permite, olha só que confortável, apresentar uma depilação meio passada sem medo do julgo alheio. Porque você sabe que ele não tá nem aí pra isso, porque ele conhece e ama você para além do tamanho dos seus pelos.

Portanto, moças e rapazes, proponho destinarmos ao casamento o tamanho e o poder que ele, de fato, tem. Os casórios apenas juntam os casais; o que estes casais fazem com isso, aí já é outra história. Fim, para os que já não tem razão de ser. Saúde e sucesso para aqueles que começam, ou recomeçam. Solteirice, pra quem quer casar consigo mesmo. Alegria e a sorte de um amor tranqüilo pra todos nós.

Me pone los pelos de punta

Passei o dia pensando na roupa que iria usar pra recepcionar Caetano. O show seria à noite, às 20h, mas desde o café da manhã que eu refletia sobre o tema – é melhor algo mais clássico ou mais muderno? Optei pelo híbrido, nem tanto lá, nem tanto cá. O cara de almost seventy mais lindo e menos velho que eu já vi, afinal, mereceu o cuidado. É incrível como ele consegue estar no lugar certo antes de todo mundo, sem o mínimo esforço, sem soar caricato. Depois, o povo corre atrás, mas aí ele já está captando com suas antenas 3.0 o próximo movimento da galáxia, e a turma da rabeira segue comendo poeira.
O show foi irretocável, principalmente para quem estava atualizado com sua proposta. O repertório do novo CD, construído com a participação do público em um blog (já desativado), estava todo lá. Os transambas de Caê são isso mesmo – transambas, meio difíceis de definir de outra forma. As canções flertam com o samba, mas também afundam o pé no rock (guitarra, pra quem quiser ouvir), e são absolutamente originais.
No palco, Caetano deita e rola e rouba a cena ao permitir todos os registros de mídia pós-pós-modernos. Nada de censura. Nada de avisos sonoros proibindo fotos e filmagem. CD com capa tosca e sem encarte vendido a 10 paus na saída do show. E ele ainda faz poses e caras e bocas para as câmeras. A turma do gargarejo delirava, buscando o melhor ângulo pra depois jogar no Youtube.
No meio do transamba, Caetano surge com “Volver”, de Carlos Gardel, interpretada por Estrella Morente/Penélope Cruz no filme de mesmo nome, de Almodóvar. Coisa linda. Lembro da sua participação cantando Currucucu Paloma, na película Fale com Ela, quando um personagem diz então: “Este Caetano me pone los pelos de punta”. That’s it. E mais uma vez me arrepio quando ele chega com Não Identificado, dizendo-se ainda apaixonado.
Se ele fizesse uma canção pra mim, um iê-iê-iê romântico, eu prometia não fazer feito Luana Piovani, espalhando a notícia por aí com essa desinibição vulgar. Contava só para os mais próximos, pra valorizar meu feito, que seria um enorme feito. Afinal, em Caetano, nenhuma pretensão é inadequada. E ele termina por dar a volta em todos nós – a roupa que escolhi não estava à sua altura. Qual estaria? Talvez nenhuma.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sobre doidos e pusilânimes

De vez em quando me pego refletindo sobre doidice. A doidice da gente, essa que todos temos, em maior ou menor grau. Não conheço um quase doido que rasgue dinheiro, mas conheço um monte que usa essa condição como desculpa pra falta de caráter. E os doidos cegos-de-si, aqueles que jogam nos outros a fragilidade da própria vida miserável? Lástima. Tem outros. Tem aqueles que reclamam até morrer de uma situação que consideram (muito) desconfortável e, quando a situação periga mudar - reclamam mais ainda porque querem permanecer lá, na lama.
Gosto dos doidos alegres, que fazem a vida da gente mais divertida com suas tiradas espirituosas. Tenho horror à gente frouxa, à covardia, à incompetência. Gosto dessa palavra: pusilânime. Há vezes em que não há outra pra descrever someone.

domingo, 4 de outubro de 2009

Filhos


Essa é a minha Alice

Sábado, dia 3/10, estávamos brincando de seguir as palavras com as crianças. Aquela brincadeira de dizer uma palavra e depois a outra pessoa diz outra palavra relacionada, capiche?
E aí, Alice, minha pequena, tinha que relacionar a palavra dela à palavra "casamento". Ela, então, disse "felicidade". Achei tão lindo.

Um passo e você não está mais no mesmo lugar

The blog. Afinal, vou começar a escrever um. Todo mundo já tem, virou arroz de festa, mas só agora acho que criei disposição para manter uma rotina de publicação dos meus escritos, embora ainda não saiba exatamente sobre o que eles vão versar. Meu irmão já criou o endereço pra mim, e agora não tenho mais escapatória. Irá chamar-se “a pedidos”, o blog. Ok, titulozinho deveras enxerido, ligeiramente cabotino, mas não menos verdadeiro. A culpa – ou responsabilidade – é de vocês.

A verdade é que já estabeleci inúmeros compromissos na minha rotina, e não queria mais um. Mas, depois, sucumbi, ao perceber, enfim, que a tarefa vai gerar mais prazer que esforço. Se tanta gente tem um, não deve ser assim uma coisa tão complicada de fazer. Ainda mais pra mim, que sempre encontro mote pra escrever, acho que tudo merece uns ditos, uns comentários.

Ao contrário do blog do meu maridex, que tem um tom político, faz análise de mídia e coisas que tais (vão lá: cleristonchargista.blogspot), até por conta do “estar-no-mundo” dele, o meu deverá seguir por um caminho mais intimista, pessoal. Pero nada de “querido diário”, ok, pessoas? Ninguém vai precisar se abusar com textos começando assim: “hoje estou deprê”. Não é o objetivo (até porque não quero nunca estar deprê – ô perda de tempo!). Também não quero ganhar dinheiro com ele, que aí ia perder a graça e a espontaneidade. Quero comentar sobre as coisas do mundo, sobre o que me interessar, sobre o que me chamar a atenção, falar dos e para os meus queridos – preparem-se! E conversem comigo. Deve ser o que há de tudo de bom ver os posts dos nossos afetos se acumulando...

Tô começando. Pedroca, meu irmão, já disse que me ajudava se eu me enrolasse. Sobre o visu do bichinho, vou pedir um help a Clériston, que é mais sabido pra essas coisas. Queria mesmo era um personal nerd, pra ficar botando coisas incríveis no meu blog e deixando ele super. De qualquer forma, prometo me esforçar para deixar de ser tão analógica, e estabeleço com vosostros o compromisso de escrever ao menos duas vezes por semana no meu blog. Legal esse negócio de “meu blog”, já estou adorando.


Testei agora a disponibilidade do endereço do MEU blog. E ele já vai começar a existir... Endereço:apedidos-marcella.blogspot. E este texto já está seguindo pra lá. Não me deixem sem audiência!