Debate sobre arte contemporânea parece um novelo de lã: a gente sabe onde ele começa, mas não tem idéia de onde vai terminar. E aí, passamos horas discutindo quais os limites do "comum", até que ponto atividades cotidianas e banais participarão do código que determina o que é ou não artístico. Difícil chegar a um consenso, mas o fato que nem todo mundo assimila a idéia de que "tudo" pode ser alçado à categoria de arte.
Eu sou uma dessas pessoas. Acho que há, sim, coisas muito interessantes nesse balaio, mas também há tanta coisa despropositada, tanta gente sem nenhum talento que acha que a graça está justo aí - na falta de talento. Cuma? Discutia com uma aluna e bailarina, dia desses, sobre dança contemporânea. Concordávamos na impressão de que os movimentos dos bailarinos dessa categoria são repetitivos e redundantes, na maioria dos grupos, com todo respeito às exceções. O interessante é que a essa dança é considerada contemporânea justamente pela ausência de um código que a represente, e mesmo assim, caiu numa mesmice aborrecida.
Enquanto isso, danças que têm códigos estruturados, como o balé clássico, o frevo, o flamenco - os quais a gente pode reconstruir, reiventar, mas precisa conhecer - são tão diversas que parecem ser, elas, as que detém maior possibilidade de interpretações criativas. Talvez sejam mesmo. Falando por mim, que danço flamenco há mais de uma década, posso dizer que não estou nem perto de conhecer todas as possibilidades que esta modalidade apresenta.
E temos um código, estruturado, que precisamos respeitar se quisermos depois mudá-lo. Os bailes, mesmo sem a "liberdade" que o contemporâneo, a priori, traria, conseguem ser muito diversos, e apresentam grande possibilidade de variações entre si. Enquanto isso, os grupos contemporâneos não conseguem se desvencilhar daquelas dissociações de corpo, giros pelo chão e saltinhos que quem acompanha dança tanto conhece... Cansa. Não emociona, pelo menos não a mim.
De repente, arte tem mesmo a ver com o incomum, com o virtuosismo, com a técnica apurada... A referência estética mais contundente é sempre aquela que te surpreende, afinal. E isso não tem nada a ver com preconceito, tem a ver com sentimento.
ANITTA E SUA TATUAGEM
Há 3 anos