segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Diário

E não é que estou só na minha sala do trabalho, quiçá sozinha em todo o prédio da secretaria? Momento raro. Minhas filhas reclamam do meu horário estendido, e eu sei que elas têm razão, são muitos dias chegando tarde em casa... Prometo a mim mesma que será o último semestre com essa carga horária desumana. Fiz uma prova, ontem, para a qual não tinha me preparado especialmente. Talvez eu passe, e aí é que a coisa vai pegar, porque terei que descer do muro. Bom, mas ainda não passei, portanto, nada de contar com o ovo antes da hora. Não gosto de fazer isso e não faço, a decepção termina sendo sempre maior. Notícia boa: parece que surge no horizonte a possibilidade de voltar a fazer aulas (aulas mesmo) de flamenco. Aguardando o contato da professora para reincorporar à minha vida esse hábito que me faz tãããão bem. E esse post ficou com a maior cara de querido diário. Oh, céus.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Fim do Mundo

Um professor colega, viciado em Discovery Chanel, chegou inconformado na sala dos professores da Faculdade: "Gente, é só até 2012!". Segundo ele, as profecias de Nostradamus, certeiras, vêm se confirmando ao longo dos tempos, e o fim do mundo é pra daqui a dois anos. Não adianta espernear. São dois anos, nêgo, pra tu fazer o que pretende nesse mundo em extinção. Corre, pessoa.

Se bem que, nestas circunstâncias, o melhor mesmo é planejar pouco. Adianta, sabendo que não vai dar tempo de concluir os projetos? Outra professora disse que iria "tocar o terror", seja lá o que isso signifique. Humanos que somos, ficamos pensando em fazer um monte de dívidas que não precisaremos pagar (supondo que temos o privilégio de saber que o mundo vai acabar antes de todos os outros), em viajar sem destino, em tomar todas, em viver de seguro desemprego, em pegar geral por aí.

Resumindo: a humanidade, do jeito que a conhecemos, só existe porque tem a perspectiva do amanhã, da culpa e do castigo. De outro modo, íamos morrer todos, antes dos 20, de doenças venéreas ou do fígado, afogados na irresponsabilidade cotidiana. Ô, miséria.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnaval - parte 2

Apesar da saga na volta pra casa, o sábado de Zé Pereira não causou trauma. Foi uma pauleira, mas valeu. No domingo, o Recife Antigo parecia um palco, lotado, por todos os lugares, de blocos, troças, música em todas as esquinas. Aquela história que um dia já houve no carnaval da gente, de ficar parado, no silêncio e na muvuca, esperando que alguma orquestra se dignasse a enfrentar a multidão, há alguns anos não acontece mais - que ótimo. Se tem uma coisa na vida que essa prefeitura (e a anterior) sabe fazer é carnaval.

Assim que chegamos, fomos à rua da Moeda, minha casa de todos os dias, que nos recebeu com a orquestra que tocava para o Caranguejo no Caçuá. Passamos por todos os recantos, do Recbeat ao Marco Zero, e tudo estava lindo. Só ficou parado quem quis, e quem quis pôde, sim, sentar numa mesa e ver a vida passar, sem agonia.

Na segunda, o sagrado encontro no Amantes de Glória. Todos os amigos, parentes, conhecidos - brodagem, como diz Juliana. Gente pra chuchu, dessa vez o Amantes não entrou na rua do Bom Jesus, uma atitude deveras sábia. Estavam lá Alex e Tati, Sued, Ju e André, Tia Nilza, Tio Beto e Helena, Pedroca e Fernandinha, Fábio e Marcela, Gileno, Carol, Dani e Kenedy, Fabiana, Dani Lacerda, e mais e mais gente do bem. Saímos ao som do hino - "a flecha de Glória flechou"... Como sempre, ótimo.

Depois da dispersão de Glória, tentamos o samba da rua da Moeda, que estava sofrível, o povo não se entendia. Circulamos, circulamos, cansamos, esperamos. No Recbeat, eu queria ver a Ojos de Brujo, que diziam que faria um flamenco pop legal. Meia boca, o tal grupo espanhol, apesar de divertidinho. Me pareceu que eles escolheram um repertório só com rumbas por causa do carnaval, sei lá. Faltou flamenco, sobrou uma coisa meio Cubanakan. Bom. Não deu pra esperar Céu, ficou pra outra vez.

No táxi, já sabendo que the girls me iriam ser devolvidas no dia seguinte, aproveitei pra ficar cansada. E fiquei cansada mesmo, de verdade. Na terça, vi o carnaval pela TV, em casa. Vi Spock falando com Roger sobre o documentário que ele está fazendo com sete grandes mestres do frevo pernambucano, segundo ele o "Buena Vista" daqui do Recife. "Choro todo dia", ele falou, e sei que não foi força de expressão. Vi, pela Band, na Bahia, um trio com Daniela Mercury e Margareth Menezes cantando "liberdade ao povo do pelô", com aquele batuque afro precioso, e senti pena dessa turma que não comeu e não gostou. Salvador é Brasil, galera. E pense numa gente pra entender de percussão - "branco se você soubesse/o valor que preto tem/tu tomava banho de piche/ficava pretinho, pretinho também". Lindo.

Dia desses, estava comentando como é difícil pra mim viver certas paixões, geralmente racionalizo demais - esporte nenhum me empolga, não consigo me escandalizar com nada, não sou fã (admiro muito muita gente, mas não me vejo pedindo autógrafos a ninguém). O carnaval, no entanto, é diferente. Fico muito emocionada vendo aquilo tudo acontecer ao mesmo tempo, tanta gente simples que se transforma em artista, reis e rainhas em cada esquina que a gente vira. Fevereiro tem o dom de recarregar as energias para o ano que chega, tão cheio de obrigações e responsabilidades.

É incrível como o ser humano pode valer tanto a pena, quando quer. Eita, festa bonita que a gente sabe fazer! Orgulho...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval - parte 1

Começou na quinta-feira, 11. Depois do expediente, encontrei com Marcela no bloco do TJ, ainda inconformada (eu) porque iria dar aula às 20h30. Quando a orquestra começou a tocar, de fato, tive que ir embora. Qual a minha surpresa quando cheguei na faculdade e vi que a sala estava repleta! No meu tempo não era assim, não. Tive que vestir a máscara da professora e fiquei com os meninos até 21h45. Fui pro Central, depois, de táxi e, em seguida, pra praça do Arsenal. Havia tantos blocos que ninguém conseguia mais discernir quem era quem, uma confusão só. Fomos embora com Marcela e Eduardo, mais ou menos à meia noite.

Na sexta, me arrumei toda pro Foco, o bloco da Seplag. Apesar da orquestra não ser lá esses meio quilo todo, foi tudo muito divertido. Gente amiga, o chefe numa animação só, o Recife calmo, parecia que era só nosso... Tudo de bom. Nos divertimos como se fosse Spock que estivesse regendo os músicos, com direito à performance de bailarino de Edilberto, já clássica nas festas seplaguianas. Depois, saímos, eu, Anna, Dani, Carla, Alex, Edilberto (o passista), Clero, Victor, Elton e Rodrigo pro mercado da Boa Vista. Estava lotado, e o Lili começou a cantar umas 17h. Por causa das meninas, tivemos que ir embora logo, umas 18h. Mainha as levou pra Gravatá.

Sábado, primeiro dia de folia oficial. Saímos com Tio Beto e Helena pro Panela de Pressão,concentração na Rua do Bonfim, Olinda. A gente chegou 9h30, e o bloco estava se preparando pra sair - dessa vez, a orquestra arrasou, uma afinação daquelas. Olinda ainda estava tranqüila, com a multidão toda no Galo, e a gente fez um percurso muito do bom pra quem gosta mesmo de brincar. 13h, a orquestra foi embora sob aplausos na Praça do Carmo, e fomos almoçar. Tio Beto e Helena resolveram voltar e a gente ficou pra ver a saída do Acho é Pouco. Na Sé, esperamos o sol baixar na casa dos bonecos gigantes, um lugar que é um oásis pra quem quer recuperar as energias.

Pra chegar na concentração do Acho..., uma confusão, já. Milhões de pessoas na Rua do Bonfim, aquela pegação e nada de carnaval. Só Elton mesmo pra dizer que essa rua presta, Deus me livre. O cão. Finalmente, chegamos na frente do Mosteiro de São Bento, mas tinha tanta gente que uma orquestra só não deu conta e achei que não valeu tanto a pena esperar pelo bloco. Principalmente, porque, na hora de ir embora... Cadê táxi? Andamos quilômetros, literalmente, da cidade alta até o Tacaruna. Eu, que já tinha pulado tudo na sexta e no próprio sábado, mais cedo, estava exausta, sem condições de dar mais um passo. Mas tive que andar, não havia opção.

Chegando no shopping, não tinha táxi, também, nem praça da alimentação aberta. Tivemos que pegar um ônibus até a av. Mário Melo, depois outro que, aleluia, nos deixou na porta de casa. Foram duas horas de périplo até conseguir chegar. Eu já estava um tanto mal-humoradinha, mas comi na padaria e melhorei. No fim das contas, valeu a pena - o Panela, mais uma vez, deu show. E o Foco, então? Como bem disse Alex Gabriel, o Galo começou assim. Depois conto mais, que hoje ainda é domingo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Aurora de Amor

Meu Recife eu te lembro
De Aurora à janela
Debruçada tão bela
Sobre o Capibaribe
O seu rio namorado
E a sorrir flamboyants
Em vermelhos rendados
E se amando no espelho
Sob o sol das manhãs!

E nessa lembrança
A vida era linda!
E a gente ainda, seria criança

Eu Imperador, você Imperatriz!
E na fantasia a gente sorria feliz

Nessa aurora de amor
E o tempo passou
E a gente cresceu
E o sonho acabou
E a gente se perdeu ...

Mas quem sabe se agora neste carnaval
Você Colombina e eu Pierrô
A gente se encontre ainda
Quem sabe num bloco de amor
Chamado saudade

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sangue azul

Estava numa reunião no Palácio do Campo das Princesas. O governador afiado, cobrando as respostas das ações que pactuou com seus secretários. Todo mundo preocupado em cumprir os prazos, a agonia que sempre é fazer valer a eficiência no serviço público, com toda a burocracia que lhe é própria...

Distraí. Fui ao banheiro ao lado da sala de monitoramento, que é enorme e lindo. Olhei pela janela, enorme e linda, e fiquei admirando o vitral do pátio interno do Palácio. Minha cabeça voava, e aterrisava na ponte do Limoeiro, que já está toda enfeitada para o carnaval. A equipe do primeiro escalão do governo quer se mudar, e parar de despachar no Palácio - ouve-se falar nisso há algum tempo. Dizem que não tem a estrutura adequada, falta fiação e sei lá mais o quê. Acho uma pena. O Palácio é a coisa mais preciosa, e inspira quem o freqüenta, ou pelo menos deveria inspirar.

O dia estava bonito, e quente. Continuei desligada, olhando para o lustre antigo acima da minha cabeça, na sala de pé direito altíssimo. O povo trabalhando, tentando imprimir ritmo à semana pré-carnavalesca, coisa bem difícil, devo dizer. O governador falando, e eu só pensando... em mil coisas, menos nas políticas públicas estaduais. Tomara que ele não leia o meu blog.

Caso leia, coisa bastante improvável, peço desculpas, mas é que o juízo não estava mesmo conectado. Me esforço, então, e volto à estrada que liga Afogados a São José do Egito. É a primeira reunião de monitoramento do ano, e a coisa vai render, tem muito assunto. Onze horas. Tô com fome, como uns biscoitinhos e o garçom serve água de coco. Recife, lá fora, está bela, enfeitada, vivendo a energia que toma conta da cidade nessa época do ano.

Me dá uma certa agonia, fico doida pra sair da sala de monitoramento e respirar sem o acompanhamento de um ar-condicionado. Tá calor, eu sei, mas estou com vontade de sentir calor, de aquecer o coração. Meu maior desejo, neste momento, é pequeno: quero andar a pé, nas calçadas do Recife velho, e observar o movimento. De vez em quando, a felicidade é feita de coisinhas miúdas. As grandes coisas, aquelas que mudam o rumo da gente, costumam vir a reboque.

13h. Fui embora, caminhando. Encontrei mainha, que estava cansada porque havia cantado com o coral do qual faz parte em nove andares do prédio da Secretaria da Fazenda. Cantaram canções de carnaval. Cheguei à rua da Moeda, fui à livraria Cultura, comprei uma revista. Eu, que leio revista de trás pra frente, encontro, logo no último artigo, uma frase de que gosto muito: "é melhor ser feliz do que ter razão". E não é que é mesmo?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Monotemática

Sorry, caros e poucos leitores, se nestes dias pareço repetitiva. É que ando às voltas com assuntos muito sérios, que envolvem as roupas que preciso ajeitar e/ou comprar para sair nos blocos e prévias recifenses, a definição da criatura que vai ficar com minhas filhas enquanto estou fora e por aí vai.

Neste fim de semana, a preparação para a folia começou na sexta, quando minha amiga Anna disse que ia pro i love cafusú. Me animei toda (nos animamos, aliás), mas dançamos, porque não tinha mais ingresso pra vender há séculos. Pensei em ir pro siri, mas desisti. Tinha aula na faculdade, tal e coisa, deixei pra lá. "Amanhã tem os barba e o municipal, e o panelinha no domingo. Tá bom", pensei.

No sábado, era aniversário de husband, e fomos almoçar com a galera família no Caprinu´s. Marcela e Eduardo apareceram, Tio Beto e Helena, Pedroca, Dani e as Fernandinhas, D. Nilta, Gustavo, Beto e Cássia, Samuca e Mona, mainha e painho, além de Renato, Marcelo e a namorada, Julia e Alice. Depois, fomos aos barba, que estava bom porque tinha muita gente amiga, mas a orquestra era fraquinha... O Municipal, apesar de estar lotado que só o cão, foi maravilhoso. Os shows, ótimos, com destaque para o de Daniela Mercury, que foi TUDO de bom. A bichinha estava tensa, por causa desse fricote do povo, que fica estimulando essa rixa Bahia x Pernambuco, e pediu desculpas umas mil vezes pra tocar o axé dela. Acho essa história de patrulha de uma pobreza de espírito fundamental, embora a reserva de mercado às vezes se faça necessária... Mas essa é uma conversa pra outro post.

Bom, no domingo, o dia foi das crianças, no panelinha de pressão. Show de bola - a orquestra, com 25 músicos, estava azeitadíssima. Certa hora, depois de dizer que estava com o coração pulando de alegria, Alice cansou: "mãe, acho que eu não quero mais me divertir". E minha mãe levou as crianças pra casa, mas o panelinha, como sói acontecer, continuou, com os pais dos pirralhos fazendo o passo. Afinal, bloco infantil é uma super desculpa pros adultos brincarem e tomarem umas na paz.

Um viva pra Mariana, minha professora de pilates, que garante a energia pro corpicho agüentar tanta festa. Viva, Mari!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ventando

O vento tira as coisas do lugar, e nunca pára de soprar. E a gente fecha os olhos para o vento, reclama do vento que assanha os cabelos e levanta a saia. Esquece que, quando não venta, tudo fica estático. É como se o planeta parasse de girar e as coisas parassem de acontecer - mas as coisas sempre dão um jeito de acontecer. Ainda bem. Mesmo que a gente nunca perca o medo de voar, desafiar esse medo é atitude das mais recompensadoras. Estamos vivos, afinal. Fechar os olhos e sentir a brisa que sopra é tão bom.