Especial. Adorei :)
M.
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(dos
outros)
Pingo
de groselha
(a
partir de fragmento de «O olhar filosófico do cinema», de Lúcia Santos, a
respeito do filósofo Ollivier Pourriol)
(...) Para esclarecer esses temas, o autor recorre ao pensamento
de Sartre, Platão, Spinoza, Deleuze, Hegel, Descartes.
Há o mundo, e depois há o mundo do
desejo.
Há o rosto, o nariz, a boca, os
olhos, há a mão, depois há a sua mão, seus olhos, seu nariz, sua boca. Seu
rosto. Há o mundo e depois você. Quando sinto falta de você, o mundo fica
vazio, ou tomado por você, depende; Sartre diz a mesma coisa, mas de maneira
diferente: “Acontece com o desejo o mesmo que com a emoção: já assinalamos que
a emoção não é a apreensão de um objeto comovente num mundo inalterado; porém,
ao corresponder a uma modificação global da consciência e de suas relações com
o mundo, ela se traduz por uma alteração radical do mundo” (O ser e o nada). Sim,
o desejo modifica a consciência de maneira global. O desejo não é parte de um
todo, mas modifica o todo. O desejo é como uma gota de groselha num copo
d’água: muda tudo. A água toda fica vermelha. A consciência inteira ganha a cor
do desejo, logo, o mundo dessa consciência também muda radicalmente: há um
mundo do desejo. E o que faz o cinema, senão nos mergulhar nesse mundo do desejo
pelo filtro de uma consciência?
(...)
(de
mim)
Que bom ler o texto
(pensamentos) acima.
Saí da desconfiança de um Ser
fadado ao romântico, portanto derramado na dose - ou melhor, confessor da
intimidade de seu pensamento específico sobre e para uma mulher - ao caminho
iluminado por um viés filosófico, assim, profundo, complexo, existencial, porém
simples nas aparências.
Nem exagero, nem utopia.
Apenas um ponto de vista que nem faz da amada algo maior que o mundo, nem a
apequena diante dele; como talvez o faça alguns muitos homens a respeito de
suas mulheres, ao vê-las como «suas mulheres», e não como um ser igual, com as
admiradas (e desejadas) diferenças, que não devem levá-las ao pedestal, a não
ser poeticamente, mas a um lugar particular no interior (o senso comum chama de
«coração»), onde - mudança de tratamento - você o toma por inteiro. Isso é uma
delícia, mesmo sendo um risco óbvio que se corre na vida. Mas assim se vive
melhor, ou melhor, se vive.
Então, você é aquela gotinha.
Política, futebol, vinhos, sapotis, viagens, vagina e arredores, a música e o
trabalho, tudo é tingido de groselha quando a sinto em seus atos, olhares,
gestos, quando me cheiras.
That is all for a minute.
Clériston, 20 de julho de 2012.