domingo, 4 de abril de 2010

Aos balzaquianos

Quando somos crianças, o tempo está sempre a nosso favor. Tudo o que mais queremos é que chegue o dia do aniversário, pra ganhar presente, claro, mas não só: crescer é movimento desejado, aguardado com ansiedade. Quando "grandes", teremos liberdade, pensamos (eu, pelo menos, pensava). A independência é um prêmio que a idade nos dá. É?

Eu, que, à maneira das filhas únicas, vivi uma adolescência na balança, ora mais, ora menos oprimida, tinha uma vontade imensa de ser dona de mim. Aos 20, fazia muita falta poder sair sem ter hora pra voltar, até porque eu não via muito sentido nas regras impostas então. A justificativa era frouxa, inconsistente, e eu, com meu senso de justiça inabalável, detestava (e destesto) regras sem objetivos. A norma pela norma não me convence, não aceito. Mas entendi, desde sempre, que aquelas eram as regras na minha família, e que era preciso respeitá-las enquanto vivesse com eles.

Sem drama, terminei fazendo quase tudo o que quis, dentro dos limites que me eram dados, até que saí e fui me confrontar com outros tipos de limites. Eles sempre existirão, afinal, e fazem parte de viver junto. Só a solidão permite que a gente seja, num certo sentido, livre de verdade. Bom, mas e daí? O que fazer com essa liberdade, a liberdade que se estabelece na ausência do outro? Não há alegria no isolamento.

Crescemos e descobrimos que temos ainda mais regras pra seguir, mais situações e pessoas a quem dar satisfações. A independência está, agora, na possibilidade de escolher estas pessoas, que precisam comungar conosco o mesmo repertório, para que a angústia não participe do cenário. O contrato que sufoca e oprime merece ser desfeito, claro. Ao mesmo tempo, não é razoável imaginar que seremos felizes sem estabelecer nenhum tipo de compromisso, seja de que natureza for.

Aos 30, sabemos disso sem que ninguém precise dizer. A primeira década da juventude é uma delícia, mas ainda bem que passa.

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