domingo, 9 de junho de 2013

Nuvem

Uma vez escrevi, a respeito das comemorações relacionadas aos 100 anos de morte de Machado de Assis (acho que o mote era esse), sobre como podemos inviabilizar a nossa comunicação interpessoal, mesmo falando a mesma língua e comungando do mesmo código cultural. Refletia então sobre como às vezes as pessoas se perdem umas das outras por não conseguirem dizer, por dizerem de forma equivocada, por serem mal entendidas.

Há teóricos da linguística que defendem um ponto de vista radical - dizem eles que a comunicação não existe. Os falantes dizem o que querem ou o que acham que querem; os ouvintes entendem como podem. No meio dessa confusão, estaríamos todos conversando com nossas próprias pequenas ou grandes loucuras. Temo que esta análise não esteja assim tão distante da realidade. Como é difícil tratar de temas sérios sem agredir, em algum momento do discurso, ainda que esta não seja absolutamente a sua intenção.

Mais difícil ainda é não interpretar a fala do outro, e eventualmente sentir-se ofendido por ela; mesmo que este outro esteja buscando consenso e entendimento. O problema é que queremos, todos, o entendimento segundo o que consideramos bom e justo, e esta premissa é pessoal e intransferível. A subjetividade presente nos textos, em quaisquer textos, é tão imensa que me parece impossível dizer, de forma exata, aquilo que pretendemos. Porque o interlocutor vai entender do jeito dele, do jeito que ele consegue - do jeito que ele deseja.

E aí, quando fala o desejo, ficamos todos mudos.

2 comentários:

  1. Semana que passou, dirigindo e filosofando (ops, perigo), inferi que o ser humano nasce com a impossibilidade de comunicar-se. Quando tenta, o sucesso é pífio ou razoável. Noutras vezes, tenta mesmo escamotear suas intenções, desígnio - mas o interlocutor faz, assim mesmo sua leitura, nem sempre na ótica do enunciador, reinterpretando-lhe, aliás, Bakhtin diz que "só o outro pode ver-me por inteiro". Penso hoje que é mais importante a aceitação do outro que o seu deciframento. Inclusive na mudez dos desejos inapreensíveis, próprios da incapacidade de cada um de não ser mistério.

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  2. Interessante teu texto. Porque ponderava dia desses sobre nossas leituras das situações que vivemos. Sem aquele lance de quem está certo ou errado, mas que são pontos de vista, entendimentos que cada um tem sobre algo. E aí concordo com Cleriston: antes aceitar que decifrar o outro.

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